Vitória da oposição turca em Istambul impõe derrota a Erdogan
Após derrota, o presidente Tayyip Erdogan promete fazer ajustes para cumprir as "mensagens dadas pela povo"
Reuters
Publicado em 25 de junho de 2019 às 11h50.
Última atualização em 25 de junho de 2019 às 11h56.
Istambul — A oposição turca conquistou o controle da prefeitura de Istambul na repetição de uma eleição municipal, prometendo um "novo começo" para a maior cidade do país, em uma das maiores derrotas do presidente Tayyip Erdogan em seus 16 anos no poder.
Ekrem Imamoglu, candidato a prefeito do secular Partido Republicano do Povo (CHP), recebeu 54,21% dos votos, anunciou o chefe do Alto Comitê Eleitoral nesta segunda-feira -- uma margem de vitória maior do que a registrada na primeira eleição, há três meses.
Imamoglu havia vencido a eleição original para prefeito de Istambul, em 31 de março, por uma margem apertada que levou o partido de Erdogan, o AKP, que tem raízes islâmicas, a exigir um novo pleito, citando o que considerou serem irregularidades.
A decisão do Alto Comitê Eleitoral de permitir uma nova eleição atraiu críticas pesadas dos aliados ocidentais da Turquia e de adversários de Erdogan em âmbito nacional, gerando preocupações sobre o Estado de Direito e tornando ainda mais importante uma eleição que muitos turcos viram como um teste da democracia do país.
No domingo e nas primeiras hora desta segunda-feira, milhares de adeptos de Imamoglu comemoraram nas ruas de Istambul após o ex-empresário vencer o candidato apoiado por Erdogan com uma vantagem de cerca de 800 mil votos.
"Hoje, nesta cidade, vocês consertaram a democracia. Obrigado, Istambul", disse Imamoglu a seus entusiastas, que fizeram corações com as mãos em sinal à retórica inclusiva que marcou sua campanha.
"Viemos abraçar todos", disse ele. "Vamos construir a democracia nesta cidade, vamos construir justiça. Nesta bela cidade, eu prometo, vamos construir o futuro."
Seu adversário do AKP, o ex-primeiro-ministro Binai Yildirim, felicitou-o e lhe desejou "toda a sorte" à frente de Istambul, polo comercial da Turquia.
Em sua primeira aparição pública desde a derrota nas eleições em Istambul, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, se comprometeu nesta terça-feira (25) a aproveitar as lições aprendidas e fazer os ajustes necessários para cumprir as "mensagens dadas pela povo".
Em discurso antes de se reunir com os congressistas de seu partido no Parlamento, Erdogan parabenizou mais uma vez o candidato da oposição, Ekrem Imamoglu, que, no domingo, obteve 54,21% dos votos para se tornar prefeito da capital turca.
Justiça e amor
Imamoglu, ex-empresário e prefeito distrital que fez uma campanha inclusiva e evitou criticas a Erdogan, disse que está pronto para trabalhar com o AKP para resolver os problemas de Istambul.
O próprio Erdogan foi prefeito de Istambul nos anos 1990, antes de embarcar em sua carreira política nacional, dominando a política turca primeiro como primeiro-ministro, depois como presidente.
Erdogan estava no poder durante a fase de maior crescimento econômico do país, mas críticos afirmam que ele tem se tornado cada vez mais autoritário e intolerante com dissidências.
Erdogan fez uma campanha forte em Istambul e direcionou críticas diretas contra Imamoglu, acusando-o de mentir e trapacear.
Analistas afirmam que a derrota pode levar a uma reforma ministerial no governo turco e a ajustes na política externa. Ela também poderia ser um gatilho para antecipar eleições nacionais, hoje agendadas para 2023, embora o líder do aliado nacionalista do AKP tenha minimizado essa perspectiva.
"A Turquia deve voltar à sua verdadeira agenda, o processo eleitoral tem que terminar", disse o líder do partido MHP, Deviet Bahceli. "Nesse contexto, falar sobre eleições antecipadas estaria entre as piores coisas que poderiam ser feitas contra nosso país".