Vinte anos e contando: um novo marco para Putin na Rússia
Indicado como primeiro-ministro em 1999, Putin recuperou a economia e o orgulho nacional após os problemas trazidos pelo fim da União Soviética
Da Redação
Publicado em 9 de agosto de 2019 às 06h39.
Última atualização em 9 de agosto de 2019 às 06h48.
Duas décadas de Vladimir Putin no poder. Nesta sexta-feira, 9, faz 20 anos que o atual presidente russo foi indicado para assumir o posto de primeiro-ministro do país pelo então presidente Boris Yeltsin. Putin, admirado pela população por ser o homem que estabilizou o país e recuperou seu prestígio internacional após a queda da União Soviética, fica no poder até 2024, quando terá 72 anos.
O atual presidente cresceu em um subúrbio de São Petersburgo, segunda maior cidade do país. Aos 24 anos, entrou para o treinamento da KGB, o serviço secreto soviético. Trabalhou para a agência na Alemanha Oriental e permaneceu no serviço secreto até 1991. Quando voltou para sua cidade natal, se aproximou do então prefeito Anatoli Sobchak e, em 1994, se tornou vice-prefeito da cidade, iniciando sua carreira política.
Dois anos depois, em Moscou, entrou para a FSP, agência de inteligência que substituiu a KGB, foi nomeado diretor da instituição e depois foi convidado para ser secretário do Conselho de Segurança. Em 1999, Yeltsin o apontou para ser primeiro-ministro do país.
O ex-presidente não só nomeou Putin como apoiou sua candidatura nas eleições de 2000, que ele venceu no primeiro turno com 53% dos votos. Putin foi presidente por dois mandatos, até 2008, quando, para burlar as leis eleitorais do país, passou o poder para Dmitry Medvedev, assumindo como primeiro-ministro. Em 2012, os dois trocaram de posição e Putin voltou à Presidência com Medvedev como premier. Nas eleições de 2018, com cerca de 75% dos votos, garantiu seu quarto mandato como chefe do executivo.
Quando chegou ao poder, a Rússia estava em um período economicamente instável. Com o plano de transição para o capitalismo, que privatizou estatais beneficiando as oligarquias tradicionais, o país se endividou com o Fundo Monetário Internacional. Só em 1999, o Produto Interno Bruto do país caiu 40%.
Logo que assumiu, Putin implantou reformas econômicas e desvalorizou o rublo, favorecendo exportações. Durante a primeira década da era Putin, o PIB do país subiu cerca de 7% ao ano, o consumo aumentou e o número de pessoas abaixo da linha da pobreza caiu de 30% em 2000 para 14% em 2008.
A aprovação de seu governo, que já era alta ao longo dos anos 2000, atingiu um ápice de mais 80% em 2014, com a anexação da Crimeia da Ucrânia. Internacionalmente, a anexação foi importante para Putin poder reafirmar para o Ocidente a força russa na região. Apesar dos benefícios políticos, as sanções econômicas que o país sofreu, bem como a queda dos preços do petróleo e de outras commodities, fez o PIB do país cair mais de 50% entre 2014 e 2015.
Com a recessão econômica e a renda média do russo decrescendo de forma constante há cinco anos, a popularidade do governo caiu para a casa dos 60% e a oposição se fortaleceu. Com isso, aumentou também a repressão. Nos três últimos sábados, protestos aconteceram em Moscou para criticar a falta de liberdade do sistema eleitoral russo. A administração de Putin vetou candidaturas da oposição nas eleições municipais de grandes cidades do país e depois reprimiu violentamente os protestos contra sua medida.
No último ato, no dia 3 de agosto, segundo a Reuters, mais de 800 pessoas foram detidas por protestar sem autorização oficial. Antes, em 27 de julho, 1.373 manifestantes foram para cadeia e 60 foram condenados a passar um mês na prisão.
Fora da Rússia, em contrapartida, a influência de Putin nunca esteve tão forte. Seu governo colocou o país no centro do conflito na Síria, onde é aliados de Bashar al-Assad, e consolidou a anexação da Crimeia ao território russo. Recentemente, Putin tem se aproximado também do governo da Turquia, país membro da Otan (aliança militar ocidental). Em julho, Moscou anunciou que pretende fazer um grande acordo militar com a China, caminhando em direção a uma parceria mais forte com o gigante asiático.
Já em relação aos Estados Unidos, fora a comprovada interferência russa nas eleições presidenciais de 2016, Putin se coloca como aliado do presidente republicano Donald Trump. A aliança, claro, não significa que a relação política entre os países esteja melhor. Pelo contrário, na última sexta, 2, EUA e Rússia deixaram o Tratado sobre Armas Nucleares de Alcance Intermediário e aterrorizaram o mundo com a perspectiva de que aconteça uma nova corrida nuclear.
Graças a essa agenda de política internacional dura, de forte repressão à oposição e de medidas para garantir apoio popular, Vladimir Putin se manteve por duas décadas no poder e não dá sinais de que pretende deixá-lo.