Vice-presidente Lai assume a presidência de Taiwan e pede o fim da 'intimidação" chinesa
Vencedor das eleições presidenciais de janeiro, o novo presidente, de 64 anos, é considerado pela China como um "separatista perigoso"
Agência de notícias
Publicado em 20 de maio de 2024 às 08h56.
Vencedor das eleições presidenciais de janeiro, o novo presidente, de 64 anos, é considerado pela China como um "separatista perigoso" que levará "guerra e declínio" ao território. Pouco depois da cerimônia de posse em Taipé, o governo chinês fez um alerta contra o esforços independentistas de Taiwan.
"A independência de Taiwan é um beco sem saída", declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin. "Não importa sob qual aparência ou bandeira, a busca da independência e secessão de Taiwan está condenada ao fracasso", destacou. "Qualquer que seja o governo de Taiwan, o fato é que existe uma só China", completou.
Preservar a soberania
As relações entre Pequim e Taipé sofreram uma deterioração considerável durante os oito anos de mandato da agora ex-presidente Tsai Ing-wen, que, assim como o sucessor, é uma defensora ferrenha do modelo democrático da ilha.
Lai, que há alguns anos se definiu como "um trabalhador pragmático pela independência de Taiwan", suavizou sua retórica e agora defende a manutenção do 'status quo', ou seja, preservar da soberania do território sem declarar formalmente a independência.
No discurso de posse, no Palácio Presidencial de Taipé, Lai fez um apelo para que a China a "acabe com a intimidação política e militar contra Taiwan" e mantenha "a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e na região".
O novo presidente afirmou que "chegou uma época gloriosa para a democracia de Taiwan" e agradeceu aos cidadãos que "rejeitam a influência das forças externas e defendem a democracia com firmeza".
"Diante das muitas ameaças e tentativas de infiltração, temos de demonstrar firmeza para defender a nossa nação e devemos aumentar a consciência de defesa, além de fortalecer o quadro jurídico para a segurança nacional", disse Lai.
Oito chefes de Estado compareceram à cerimônia, incluindo o presidente paraguaio Santiago Peña, além de 51 delegações internacionais para demonstrar apoio à democracia da ilha.
Mais gastos de defesa
Com apenas 12 aliados oficiais, Taipé não tem reconhecimento diplomático a nível internacional. Mas a maioria dos seus 23 milhões de habitantes considera ter uma identidade taiwanesa diferente da chinesa.
Assim como a antecessora, Lai deve aumentar os gastos de defesa e reforçar as relações não oficiais com os governos democráticos, em particular Estados Unidos, um importante aliado e fornecedor de armas a Taipé. O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, felicitou o novo presidente e elogiou o povo taiwanês por "demonstrar a força de seu sistema democrático robusto e resiliente".
Pequim nunca descartou recorrer à força para tomar o controle de Taiwan, especialmente se a ilha declarar independência. O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou em diversas ocasiões que a "unificação é inevitável".
Antes da posse de Lai, o Escritório de Assuntos Taiwaneses do governo chinês afirmou que "a independência de Taiwan e a paz no Estreito são como água e fogo".
E coincidindo com a cerimônia de posse, a imprensa estatal chinesa anunciou sanções contra três empresas de americanas do setor de defesa que vendem armas a Taiwan. Entre outras medidas, os grupos afetados não poderão efetuar atividades de importação ou exportação com a China, nem fazer novos investimentos no país.
No Estreito de 180 km que separa Taiwan do continente, a presença de aviões e navios militares chineses é quase diária e aumentou nos dias que antecederam a cerimônia. Lai fez concessões para retomar as comunicações de alto nível, que Pequim restringiu em 2016, quando Tsai chegou ao poder, mas os analistas consideram pouco provável que ele tenha sucesso.
Apesar da vitória nas eleições presidenciais, o partido de Lai (DPP) tem minoria no Parlamento, onde uma briga entre membros das três legendas com representação foi registrada na sexta-feira, 17. O cenário pode impedir ou atrasar a aprovação de políticas sobre questões que preocupam muitos mais os taiwaneses do que o conflito, como o aumento do custo de vida, os preços da habitação ou a estagnação dos salários.