Veteranos de guerra advertem Mugabe antes de dar "ultimato"
"Se hoje decidir deixar o poder, é a sua decisão. Amanhã será diferente", reforçou o líder da Associação Nacional de Veteranos da Guerra do país
EFE
Publicado em 17 de novembro de 2017 às 11h26.
Harare - Os veteranos de guerra do Zimbábue advertiram nesta sexta-feira ao presidente, Robert Mugabe, retido pelos militares, que "não lhe permitirão continuar" no poder, antes de dar-lhe um "ultimato" para que renuncie, informou a imprensa local.
O líder da Associação Nacional de Veteranos da Guerra de Libertação do Zimbábue (ZNLWA, na sigla em inglês), Christopher Mutsvangwa, anunciou em entrevista coletiva que amanhã o grupo realizará um grande comício contra o presidente.
"Ele (Mugabe) pensava que tinha o povo. Amanhã verá que não. Se não, teremos que saldar as contas pendentes", afirmou Mutsvangwa, que lembrou que Mugabe "lhes deve alguns favores" depois do tratamento "insensato" que lhes deu após a independência do país, em 1980, quando o presidente chegou ao poder.
"Se hoje decidir deixar o poder, é a sua decisão. Amanhã será diferente", reforçou.
Os veteranos de guerra também aproveitaram a oportunidade para elogiar a atuação do exército: "São profissionais que protegem a Constituição. Fizeram um trabalho fantástico até agora, de tal modo que não se perdeu nem uma vida".
A intervenção das forças armadas começou na terça-feira, dias depois que uma facção do partido governante forçasse a destituição do vice-presidente Emmerson Mnangagwa - também veterano de guerra - para facilitar o objetivo da primeira-dama, Grace Mugabe, de substituir seu marido, de 93 anos, no poder.
A este respeito, Mutsvangwa, uma das figuras-chave nesta crise segundo os analistas, considerou que os militares estão embarcados na "missão histórica" de " encarregar-se de um velho senil que perdeu o controle da sua esposa".
"Os veteranos de guerra não vão permitir que Grace Mugabe chegue ao poder", sentenciou.
Em relação aos anos de Mugabe no poder, Mutsvangwa indicou que "nenhum país africano sofreu tanto como o Zimbábue", e fez questão de se colocar "do lado do povo que sofreu 15 ou 20 anos de pobreza abjeta".
"Estamos aqui para dar um ultimato a Mugabe. Esta coisa de fingir que as coisas estão normais não é verdade", ressaltou, em referência ao ato em que o presidente participou hoje em uma universidade do país.
Mugabe e sua família permanecem sob prisão domiciliar desde terça-feira, quando os militares tomaram o controle do país e detiveram vários ministros alinhados com as ambições de poder da primeira-dama.