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Bebês búlgaros são vendidos na Grécia por 12.700 euros

Tráfico humano é um fenômeno das aldeias pobres da Bulgária, onde mães ciganas atravessam a fronteira para vender seus filhos para adoção na Grécia


	Bulgária: mães ciganas em aldeias pobres do país aceitam vender seus bebês por 3.500 euros
 (Kyle Taylor/Creative Commons)

Bulgária: mães ciganas em aldeias pobres do país aceitam vender seus bebês por 3.500 euros (Kyle Taylor/Creative Commons)

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2016 às 18h08.

"Iliana foi para a Grécia grávida. Quando voltou, disse que o bebê morreu no parto". Mas em seu gueto cigano na Bulgária, ninguém é enganado: com certeza a criança foi vendida do outro lado da fronteira.

"É muito difícil provar os fatos. As mulheres são vítimas, mas muitas vezes são elas que tentam vender um bebê e não cooperam para que se possa acusar os traficantes", suspira Ivan Kirkov, chefe da promotoria de Burgas (sudeste), cidade ao lado do mar Negro.

O tráfico de recém-nascidos criou raízes nos guetos ciganos da região há 15 anos, mas também afeta outras províncias como a de Varna (nordeste), Aitos, Karnobat, Yambol, Sliven (sudeste) ou Kazanlak (centro).

"Iliana estava grávida quando foi para a Grécia (...) É o terceiro bebê que ela vende", sussurra uma mulher de Ekzarh-Antimovo, uma aldeia pobre a 40 km de Burgas.

Outra moradora da aldeia será julgada por ter vendido um bebê na Grécia. Não quer falar com os jornalistas da AFP. "Não sou a pessoa que vocês procuram", rebate a mulher de cabelos vermelhos.

Sua pequena casa branca difere das outras, precárias, onde muitas famílias numerosas dormem no chão, muitas vezes sem água corrente nem eletricidade.

"Cerca de 97% (dos ciganos) são analfabetos", explica o prefeito de Ekzarh-Antimovo, Sachko Ivanov.

A venda de bebês é "um fenômeno isolado, limitado aos mais marginais". Mas "há e continuará havendo porque a miséria é profunda", observa.

3.500 euros por bebê

A legislação grega em matéria de adoção favorece de alguma forma esta atividade criminosa. E aceita as adoções "privadas" com base em um acordo de firma reconhecida com a mãe biológica.

As transações financeiras são proibidas, mas criminosos, advogados, tabeliães e até mesmo os médicos participaram destes esquemas, um mecanismo descrito em grande detalhe numa reportagem exibida pela rede de televisão búlgara Nova.

"Três ou quatro traficantes controlam o mercado grego", vendendo "5 ou 6 bebês por mês", afirma Plamen Dimitrov, um cigano de Burgas encarregado do transporte das mães a Atenas, que cita o caso de uma mulher que vendeu outro crianças.

O chefe da quadrilha embolsa, segundo ele, cerca de 12.700 euros (14.000 dólares) por transação, dos quais 3.500 euros (3.900 dólares) ficam para a mãe biológica, uma quantia importante na Bulgária, onde o salário médio é de 470 euros (520 dólares) por mês.

Durante os cinco últimos anos, 16 pessoas foram condenadas por este crime na região de Burgas.

Em 2015, 27 pessoas foram condenadas por tráfico de 31 mulheres grávidas suspeitas de terem vendido 33 bebês nos últimos anos. Três julgamentos estão em curso.

Normalmente os condenados recebem uma pena condicional, salvo em caso de reincidência.

Na Grécia foram desmanteladas várias redes. Em 2014, a polícia grega interveio no momento da entrega de um bebê de 21 dias pela quantia de 10.000 euros.

Em 2015, o relatório do Departamento de Estado norte-americano sobre tráfico de seres humanos citava a Bulgária como "uma das principais fontes" na matéria da União Europeia. Os relatórios da UE denunciam a ineficácia do aparato judicial do país e a corrupção.

'Não estou à venda'

Em Kameno, uma pequena cidade a 15 km de Burgas, as autoridades apostam na prevenção.

Aqui, os traficantes "levam mulheres grávidas para a (ilha grega de) Creta, e também ganham dinheiro de outras atividades ilícitas como o tráfico de imigrantes", garante um policial que pediu anonimato, apontando com o dedo para as casas de supostos traficantes, cheias de ornamentos.

A ONG Ravnovesie se propôs a "acabar com o tráfico de bebês e crianças em Kameno num prazo máximo de cinco anos". Por isso, ensina aos jovens que "a venda de uma irmã ou irmão não é algo normal", explica Maria Ivanova, diretora da escola primária.

A organização tentou sensibilizar as mães, mas esbarrou numa "forte hostilidade", centrando-se nos adolescentes, dando-lhes pulseiras e medalhas com o lema: "não estou à venda".

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