Uruguai elegerá sucessor de Vázquez e decidirá sobre militares nas ruas
Coalizão de esquerda que governa o país desde 2005 enfrenta economia estagnada, inflação acima do teto da meta oficial (7,56%) e forte desemprego, de 9%
AFP
Publicado em 25 de outubro de 2019 às 16h35.
O Uruguai vai às urnas neste domingo (27) para escolher o sucessor do presidente de esquerda Tabaré Vázquez, em eleições nas quais os cidadãos também deverão se pronunciar sobre uma reforma de segurança que cria uma guarda militarizada.
As eleições presidenciais e parlamentares acontecem ao mesmo tempo que na Argentina, em um contexto de instabilidade regional, com questionamentos aos resultados da votação na Bolívia, protestos de rua em massa no Chile e no Equador.
"A democracia no Uruguai está muito sólida e é preciso cuidar dela diante dos riscos", disse Tabaré Vázquez nesta quinta-feira a jornalistas, em uma última mensagem antes da votação, para qual foram convocados 2,6 milhões de eleitores.
A votação será um teste de fogo para a Frente Ampla, coalizão de esquerda que governa o país desde 2005 e que enfrenta as eleições com uma economia estagnada, inflação acima do teto da meta oficial (7,56%), forte desemprego de 9% e uma degradação dos indicadores de segurança que foram um tema central da campanha eleitoral.
A segurança a voto
Outrora considerado um oásis de paz em uma região turbulenta, o Uruguai viu as estatísticas de segurança piorarem nos últimos anos. No ano passado, houve um número recorde de homicídios (414), um aumento 45% em relação a 2017.
Por isso, além de votar para presidente, os uruguaios se pronunciarão por uma reforma constitucional de segurança que gerou grande polêmica.
A reforma promove a criação de uma guarda nacional com efetivo militar em tarefas policiais; a criação de uma pena de prisão perpétua "revisável" após 30 anos de cumprimento da sentença para delitos graves; penas mais duras de prisão para homicidas e estupradores; e a autorização de operações noturnas de busca e apreensão a residências, por ordem judicial, em caso de suspeita de ilícitos.
Embora nenhum candidato à Presidência apoie a reforma, e ela tenha sido alvo de uma forte campanha contra por parte de movimentos sociais, de sindicatos e da governista Frente Ampla, pesquisas publicadas esta semana apontam que entre 39% e 53% da população é favorável à proposta.
Segundo turno na mira
As eleições caminham para um segundo turno, segundo pesquisas de opinião, já que nenhum dos candidatos tem maioria absoluta dos votos no domingo.
Com 40% das intenções de voto, o candidato oficialista e ex-prefeito de Montevidéu Daniel Martínez aparece em primeiro lugar, mas não tem a Presidência garantida.
O ex-senador Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional (centro direita), aparece logo depois, com 28% das intenções de voto.
Diferentemente da Frente Ampla, que não tem alianças claras para atingir a maioria no segundo turno em novembro, Lacalle Pou buscará apoios na oposição, composta principalmente pelo liberal Partido Colorado (13%), do economista Ernesto Talvi, e pelo direitista e estreante Cabildo Aberto (11%), liderado pelo ex-comandante-chefe do Exército Guido Manini Ríos.
A Frente Ampla teve três governos desde 2005, durante os quais "não precisou de alianças" no Congresso por ter maioria absoluta, explicou o cientista político Eduardo Bottinelli à AFP.
"Não precisava de alianças parlamentares, nem as buscou" e "foi ficando sozinha", acrescentou.
"O segundo turno está completamente em aberto, e haverá disputa", conclui o especialista.
Os eleitores renovarão 100% do Parlamento, com 99 cadeiras na Câmara dos Deputados, e 30, no Senado.
As seções eleitorais abrem às 8h, em todo país, e fecham as portas às 19h30, com a possibilidade de uma hora de extensão, se houver atrasos.
O próximo presidente assume em 1º de março de 2020.