Um policial morre em mais um dia de protestos no Irã
Novos protestos voltaram a tomar as ruas de Teerã no começo da noite dessa segunda-feira
AFP
Publicado em 1 de janeiro de 2018 às 17h48.
Um policial iraniano morreu e outros três ficaram feridos por disparos de fuzil em Nayafabad, no centro do Irã , durante distúrbios vinculados aos protestos que acontecem o país há cinco dias, informou nesta segunda-feira a televisão estatal.
"Um agitador, aproveitando a situação, disparou com uma arma de fogo contra as forças de ordem, matando um policial e ferindo outros três", informou o site da rede de televisão estatal sem dar mais detalhes.
Novos protestos voltaram a tomar as ruas de Teerã no começo da noite dessa segunda-feira, com uma forte presença policial, segundo veículos de mídia 'online', e imagens de pelo menos um carro em chamas foram difundidas pela imprensa local.
"Um agitador queimou um táxi e fugiu imediatamente", disse a agência de notícias Mehr, alinhada aos conservadores.
O Ministério da Inteligência emitiu um comunicado em que afirmou que "os instigadores e os manifestantes dos recentes tumultos foram identificados e alguns foram detidos".
A polícia também anunciou a prisão de "quatro pessoas que haviam insultado a bandeira sagrada da República Islâmica do Irã" ao queimá-la, informou um site da televisão estatal.
Os protestos contra o governo explodiram em Mashhad (nordeste) na quinta-feira passada e, depois, espalharam-se por todo país.
"O povo responderá aos agitadores e aos que descumprirem a lei", que são uma "pequena minoria", declarou Rouhani, segundo a página institucional on-line da Presidência iraniana.
Em novas críticas ao governo iraniano, o presidente Donald Trump afirmou nesta segunda-feira que é "tempo de mudança" no Irã e que a população do país está "com fome" de liberdade.
"Trata-se de um assunto interno iraniano", considerou por sua vez a diplomacia russa citada pelas agências de notícias. "Toda intervenção externa que desestabilize a situação (no Irã) seria inadmissível", acrescentou a chancelaria.
Devido aos distúrbios, o ministério de Assuntos Exteriores do Bahrein pediu a seus cidadãos que não viaje para o Irã "sob nenhum pretexto" e que aqueles que estão no país o deixem imediatamente.
- Treze mortos -
Com o policial morto neste domingo, passa para 13 o número de mortos nos protestos até agora.
As autoridades afirmam que as forças de ordem não disparam contra os manifestantes e acusam "os agitadores" ou os "contra-revolucionários" armados de infiltrarem-se entre eles.
Dois manifestantes morreram no domingo à noite (31) nos protestos na cidade de Izeh, no sudoeste do Irã - declarou o deputado local Hedayatollah Khademi, citado pela agência de notícias Ilna, ligada aos reformistas.
Outras duas pessoas morreram no domingo à tarde em Dorud, em um incidente indiretamente relacionado com os protestos.
Neste episódio, um grupo de manifestantes dominou um caminhão de bombeiros, largando-o do alto de uma descida. Na queda, bateu contra um veículo, cujos "dois passageiros morreram", declarou o governador local à emissora pública.
Outras duas pessoas haviam morrido no sábado, nessa mesma cidade do oeste do Irã, mas o vice-governador provincial garantiu que as forças da ordem não atiraram na multidão.
De acordo com a televisão pública iraniana, hoje, seis pessoas morreram na pequena cidade de Tuyserkan, elevando para dez o número de mortos nas manifestações nas últimas horas. Os seis morreram por "tiros suspeitos" em Tuyserkan.
- Direito a se manifestar -
As manifestações continuaram no domingo à noite, embora o governo tenha limitado o acesso às redes sociais e bloqueado Telegram e Instagram. Ambos os aplicativos são usados para convocar manifestações.
Depois de três dias de protestos, Rouhani reconheceu que o Irã deve abrir "um espaço" para que a população possa expressar suas "preocupações cotidianas", mas condenou os atos de violência e a destruição de propriedades públicas.
"A crítica não é o mesmo que a violência e que destruir os bens públicos", disse em uma reunião do Executivo, acrescentando que "os órgãos do governo devem dar espaço para a crítica legal e para os protestos", segundo a rede de televisão pública.
"Isso deveria ficar claro para todo o mundo: somos uma nação livre e, em virtude da Constituição, [...] o povo é absolutamente livre para expressar suas críticas e inclusive para protestar", afirmou.
As manifestações começaram na quinta-feira em várias cidades, diante das dificuldades econômicas do país, isolado e submetido durante anos a sanções internacionais por suas atividades nucleares. Na sexta e no sábado, os protestos aumentaram, dirigindo-se contra o governo.
- Mais de 400 detenções -
Segundo o vice-governador da província de Lorestan (oeste), houve distúrbios nas cidades de Nurabad, Dorud e Joramabad, e vários "agitadores" foram presos.
Também houve pequenas manifestações em Kermanshah (oeste), Shahinshahr (perto de Isfahan), Takestan (norte), Zankhan (norte), Toyeserkan (oeste) e Nahavand.
Em Teerã, a Polícia usou gás lacrimogêneo e água para dispersar o pequeno grupo de manifestantes que gritavam palavras de ordem contra o governo, no bairro da universidade.
Na capital, 200 pessoas foram detidas. Outras 200 acabaram presas em diferentes cidades da província, noticiou a imprensa local.