Ucrânia se mobiliza para eleições; EUA ameaçam Rússia
Autoridades mobilizarão mais de 75 mil homens para garantir segurança durante eleições ucranianas, ao mesmo tempo em que a Rússia recebeu novas ameaças dos EUA
Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2014 às 14h36.
Kiev -Autoridades ucranianas mobilizarão mais de 75.000 homens para garantir a segurança durante a eleição presidencial antecipada de domingo, que os separatistas pró-russos prometem atrapalhar sob o olhar atento de Moscou, que recebeu novas ameaças de sanções de Washington.
A quatro dias da eleição, a "frente do leste" ucraniana vive momentos de relativa tranquilidade após a violência registrada no início da semana.
Confrontos esporádicos entre militares e insurgentes armados pró-russos vêm sendo registrados desde 13 de abril.
O presidente interino Olexander Turchynov, acompanhado pelos ministros do Interior e da Defesa, visitou pela primeira vez uma área perto de Slaviansk, um dos redutos rebeldes do leste, cercado pelo Exército.
Os habitantes do leste "começam a compreender que os terroristas separatistas estão levando a região a um abismo", afirmou Turchynov, segundo um comunicado.
A campanha eleitoral, de uma votação muito esperada pelas autoridades de Kiev e pelos ocidentais, não desencadeou grande agitação.
O grande favorito, com mais de 30% das intenções de voto, é o bilionário Petro Poroshenko, que resumiu seu programa em uma frase: "Acabar com a crise com a Rússia em três meses".
Aos 48 anos, o "rei do chocolate" - referência a sua fortuna conquistada com os chocolates Roshen - aparece com uma vantagem de 20 pontos para a ex-primeira-ministra e símbolo da Revolução Laranja Yulia Tymoshenko, que fracassou em seu retorno à política após ser libertada da prisão em fevereiro.
"Eu conheço bem (o presidente russo) Vladimir Putin, tenho experiência em discutir com ele, é um negociador forte e difícil", declarou à AFP Poroshenko, considerando, apesar disso, que um compromisso para acabar com a crise é possível.
A crise ucraniana teve início no final de 2013 com um movimento de contestação em Kiev que causou a queda, em fevereiro, do governo do ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovytch, seguido pela anexação da Crimeia à Rússia e ao surgimento de uma insurgência armada no leste, consagrando as ambições da Rússia no cenário internacional e iniciando um período de confronto diplomático entre russos e ocidentais.
55.000 policiais e 20.000 voluntários
Nesta quarta-feira, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou em Bucareste que serão necessárias novas sanções contra a Rússia, caso Moscou prejudique a eleição presidencial previstas para domingo.
"Se a Rússia perturbar a eleição na Ucrânia, devemos permanecer decididos a impor custos adicionais", afirmou Biden, pedindo a "todos os países que utilizem sua influência para promover um ambiente estável para que os cidadãos ucranianos possam votar livremente".
Para garantir a segurança da eleição, Kiev mobilizará 55.000 policiais e 20.000 voluntários.
Os separatistas das regiões de Lugansk e de Donetsk prometeram impedir a realização da consulta popular no leste do país, onde quase dois milhões de eleitores podem ter dificuldades para comparecer às urnas.
O Kremlin, acusado por Kiev e pelos ocidentais de apoiar os separatistas pró-russos, desmente qualquer apoio logístico a esses rebeldes armados e coloca em xeque a legitimidade de uma eleição presidencial realizada "com a força das armas".
Garantir o gás russo
Enquanto Estados Unidos e Otan tentam confirmar a retirada anunciada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia, Washington enviou um navio de guerra ao Mar Negro para tranquilizar os países do Leste Europeu, enquanto Moscou testou mísseis balísticos de longo alcance em uma base perto do Mar Cáspio.
Nesta quarta, o governo ucraniano organizou uma terceira mesa redonda para tentar solucionar a crise, mas sem convidar os separatistas. Até o momento, o "diálogo nacional" não deu resultado.
Quanto a questão do gás e a ameaça potencial ao fornecimento para a Europa, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, pediu que o presidente russo, Vladimir Putin, respeite seus "compromissos" de continuar a fornecer gás para a Europa.
Ele também considerou que a UE deve reduzir suas compras de gás e petróleo russos.
Na semana passada, Vladimir Putin declarou que a Rússia não recebeu uma "proposta concreta" da UE sobre os pagamentos da Ucrânia para o fornecimento de gás russo no futuro, e cobrou um envolvimento "mais ativo" do bloco europeu.
A Rússia ameaça suspender o fornecimento de gás à Ucrânia a partir de 3 de junho, se Kiev não pagar antecipadamente os 1,6 milhão de dólares pelas compras de junho. As autoridades ucranianas rejeitaram na terça-feira essa exigência imposta por Moscou.
Em Xangai, Putin assinou nesta quarta um megacontrato de fornecimento de gás russo para a China, para mais de 30 anos, estimado em 400 bilhões de dólares. Ele deve entrar em vigor em 2018.
*Atualizada às 14h36 do dia 21/05/2014