Trump está melhor, mas ainda não está fora de perigo, diz médico
Diagnosticado com covid-19, o presidente Donald Trump informou ontem que já estava se sentindo melhor. Médicos destacam evolução, mas ainda pregam cautela
AFP
Publicado em 4 de outubro de 2020 às 08h44.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , afirmou no sábado à noite que está "muito melhor" e que em breve retornará à campanha eleitoral, ao mesmo tempo que seu médico destacou que ele ainda não está fora de perigo, mas se declarou "cautelosamente otimista".
"Cheguei aqui e não estava me sentindo muito bem. Eu me sinto muito melhor agora", disse Trump no hospital militar Walter Reed, que fica na região Washington, em um vídeo divulgado no Twitter. "Estamos trabalhando duro para que eu possa voltar (...) Acho que vou voltar logo e desejo terminar a campanha da forma como comecei", acrescentou, com um semblante relaxado, de terno azul.
Pouco depois, o médico Sean Conley afirmou que o presidente "ainda não está fora de perigo", mas se declarou "cautelosamente otimista". "O presidente Trump continua evoluindo bem, com um progresso substancial desde o diagnóstico", informou Conley em um comunicado. "Apesar de ainda não estar fora de perigo, a equipe continua sendo cautelosamente otimista", completou.
No vídeo, Trump reconheceu a incerteza sobre a evolução da doença, que pode afetar os pacientes em recuperação sem aviso prévio. "Estou começando a me sentir bem. Não vou saber até os próximos dias, acho que este é o verdadeiro teste, então veremos o que acontece nos próximos dias".
O quadro relativamente otimista de Trump foi anunciado depois que uma fonte a par do estado de saúde do presidente, mais tarde identificada como o chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, divulgou uma avaliação muito mais alarmante. "Os sinais vitais do presidente nas últimas 24 horas foram muito preocupantes e as próximas 48 horas serão críticas. Ainda não tomamos um caminho claro rumo à recuperação", disse Meadows na manhã de sábado.
Durante a noite ele admitiu que os médicos ficaram muito preocupados, mas não a ponto de Trump ceder interinamente o poder. "Ontem (sexta-feira) de manhã estávamos realmente preocupados" disse Meadows ao canal Fox News. "Estava com febre e o oxigênio no sangue caiu rapidamente. Mas nunca se considerou um risco de transição do poder", completou.
Na manhã de sábado, em um primeiro boletim, Conley indicou que o presidente não teve febre durante 24 horas e que a tosse, congestão nasal e fadiga estavam diminuindo e melhorando.
Outro médico, Sean Dooley, disse que as funções cardíaca, renal e hepática do presidente eram "normais".
O que acontece na Casa Branca?
Conley aumentou a confusão ao sugerir que Trump havia sido diagnosticado na quarta-feira, e não na quinta-feira como a conta oficial do presidente no Twitter revelou, mas depois afirmou que cometeu um erro.
Pouco depois de Trump chegar ao hospital, Conley informou em um comunicado que o presidente estava recebendo o antiviral remdesivir e uma dose de oito gramas de um coquetel de anticorpos experimental. Os médicos e a Casa Branca não explicaram o motivo de o presidente tomar medicamentos de eficácia não comprovada se a evolução de seu quadro era satisfatória.
O otimismo de Trump sobre suas perspectivas de recuperação foi atenuado com a notícia de que várias pessoas de seu entorno testaram positivo para covid-19 . Seu assessor de campanha Chris Christie e vários senadores integram uma lista crescente de pessoas próximas ao presidente que foram infectadas ao comparecer a um evento na Casa Branca no fim de semana passado.
O grupo inclui a primeira-dama Melania, a assessora Hope Hicks, a ex-conselheira Kellyanne Conway, o chefe de campanha Bill Stepien e os senadores republicanos Thom Tillis e Mike Lee. Três jornalistas credenciados na Casa Branca também testaram positivo.
Um terceiro senador republicano, Ron Johnson, de Wisconsin, anunciou no sábado que também foi diagnosticado com o novo coronavírus.
"Falsa sensação de conforto"
Especialistas em saúde pública expressaram preocupação com um possível surto relacionado com o evento de 26 de setembro que marcou o anúncio da indicação da juíza conservadora Amy Coney Barrett à Suprema Corte. "Se basearam demais em testes de diagnóstico. Sabemos que esses testes têm uma taxa muito alta de falsos negativos", disse Ali Nouri, presidente da Federação de Cientistas Americanos.
"Confiar simplesmente nestes diagnósticos para determinar quem pode entrar e sair da Casa Branca e não adotar outras proteções, como o distanciamento social e as máscaras, criaram uma falsa sensação de conforto na Casa Branca", acrescentou.
Trump, que está em desvantagem nas pesquisas em relação ao rival democrata de 77 anos Joe Biden , foi obrigado a suspender e repensar o trecho final da campanha para as eleições de 3 de novembro. Entre as incertezas estão dois debates entre os candidatos e se Trump deve ceder temporariamente o poder ao vice-presidente Mike Pence em caso de agravamento de seu estado.
Biden, que enfrentou Trump em um debate de 90 minutos na terça-feira, anunciou que o teste de covid-19 a que foi submetido na sexta-feira deu resultado negativo e que fará outro exame neste domingo. O democrata recordou que durante o debate pediu muitas vezes uma abordagem séria da crise do coronavírus, que matou mais de 208.00 pessoas nos Estados Unidos, e que Trump o ironizou por usar máscara.