Sul-coreanos vão às urnas descrentes após impeachment
Muitos votarão pela primeira vez no próximo dia 9 de maio e irão às urnas com a sensação de que poderão mudar os rumos do país
EFE
Publicado em 5 de maio de 2017 às 20h46.
Seul - Após o escândalo de corrupção que provocou o impeachment da ex-presidente Park Geun-hye, a Coreia do Sul volta às urnas na próxima terça-feira descrente de que um novo governo seja capaz de combater realmente o problema e acabar com o clientelismo que liga as autoridades aos grandes empresários do país.
Poucos sul-coreanos pensavam que a simples descoberta de um dispositivo eletrônico em outubro de 2016 acabaria representando, apenas cinco meses depois, a queda de Park e a antecipação das eleições presidenciais no país.
Após a eclosão do escândalo, o clamor popular contra as práticas corruptas de Park provocou grandes manifestações em grande parte do país, protagonizadas em sua maioria por associações de estudantes universitários.
Um protesto em Seul, capital do país, chegou a reunir mais de um milhão de pessoas nas ruas.
A posterior queda de Park em março deste ano gerou grande esperança em muitos integrantes deste último grupo, que encara a enorme pressão gerada por uma das sociedades mais competitivas do mundo, na qual o suicídio é a primeira causa de morte entre os sul-coreanos com idades entre 10 e 30 anos.
Muitos votarão pela primeira vez no próximo dia 9 de maio e irão às urnas com a sensação de que poderão mudar os rumos do país.
No entanto, a estrutura eleitoral da Coreia do Sul parece ser um monopólio dos grandes empresários e dos que giram em torno da Casa Azul, a residência presidencial.
Os jovens que votarão pela primeira vez neste pleito representam apenas 5% da população com direito a voto no país.
O restante da população parece ver as coisas de maneira diferente, depois de ter vivido sob o comando de diferentes governos conservadores e liberais envolvidos em episódios de corrupção.
O exemplo perfeito é o caso de Park, presa preventivamente desde março, e sua amiga Choi Soon-sil, que criaram uma rede de interesse que extorquiu dinheiro dos grandes "chaebol" - os conglomerados sul-coreanos controlados por clãs familiares - em troca de favores.
Entre os "chaebol" está a Samsung. O presidente da empresa, Lee Jae-yong, foi preso em fevereiro e é acusado de corrupção, sendo apenas um dos nomes de uma longa lista de herdeiros que mostraram comportamentos reprováveis pela população sul-coreana.
O favorito para o pleito é o liberal Moon Jae-in, que chega às vésperas da votação com uma vantagem de 20 pontos percentuais sobre o centrista Ahn Cheol-soo e o conservador Hong Yoon-pyo.
"Só espero que, se ele ganhar, puna os responsáveis deste caso, tal como prometeu", disse à Agência Efe a produtora de eventos Lee Sue-mi, de 35 anos.
"Acredito que, no lado econômico, Moon não vai puder fazer grandes mudanças em seu mandato de cinco anos", acrescentou Lee, que revelou seu voto na única mulher candidata, a progressista Sim Sang-jeung, do Partido da Justiça.
Os pontos em que a maioria dos sul-coreanos parecem concordar são a desigualdade e a falta de mobilidade social.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), 10% dos trabalhadores do país recebem cerca de 45% do total pago aos funcionários assalariados. Além disso, há um desejo de reforma constitucional para retirar poderes do presidente e evitar outro caso como o de Park.
Os principais candidatos também mostram uma postura mais ou menos comum sobre a necessidade de mudar a Constituição.
As propostas sugerem dois mandatos presidenciais consecutivos de quatro anos (em vez de apenas um de cinco anos) para que os governantes tracem políticas menos míopes, concedam mais poderes ao primeiro-ministro ou cedam mais competências às províncias para reduzir o peso das decisões de Seul.
"E, mesmo assim, não sei se essas medidas evitariam que se repetisse outro caso como o de Choi Soon-Sil", reconheceu Lee.
Um primeiro teste na hora de medir o compromisso na luta contra a corrupção para o candidato vencedor será o de perdoar ou não a pena que pode ser dada à Park quando a sentença for conhecida. Normalmente, os novos governantes têm perdoado os crimes cometidos pelos seus antecessores. A ex-presidente pode, inclusive, ser condenada à prisão perpétua.
Moon disse que não dará tratamento especial aos acusados no escândalo, em contraste com o tom mais moderado de Ahn e a indulgência de Hong.
Pode ser essa uma das chaves para entender porque Moon lidera as pesquisas e se coloca como possível vencedor das eleições, tendo como missão presidir um país cada vez mais enojado com os privilégios desfrutados pelos "chaebol".