Socorristas buscam milhares de desaparecidos uma semana após inundações na Líbia
ONU alertou que a falta de água potável e suprimentos básicos pode provocar aumento nos casos de cólera, desidratação e desnutrição no país
Agência de notícias
Publicado em 17 de setembro de 2023 às 15h50.
Uma semana após as inundações que devastaram a cidade líbia de Derna e deixaram milhares de mortos, os socorristas locais, apoiados por equipes estrangeiras, continuam neste domingo, 17, as buscas por pessoas desaparecidas.
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Mohammed Al Zawi, de 25 anos, disse à AFP que na noite da tragédia viu correntes de água transportando carros com pessoas dentro, pessoas à deriva na água e objetos sendo deslocados. "Tudo foi parar no mar", disse ele.
O trabalho das equipes de emergência é dificultado pela divisão do poder, com dois governos rivais, um na capital Trípoli, que é reconhecido pela ONU, e outros no leste, na área afetada.
Segundo o último balanço do ministro da Saúde do governo que controla o leste da Líbia, Othman Abdeljalil, há 3.252 mortos. As organizações humanitárias e as autoridades alertaram, porém, que o número de vítimas mortais pode ser superior, uma vez que há milhares de pessoas desaparecidas.
O Crescente Vermelho líbio discordou neste domingo de um relatório divulgado pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) de que há 11.300 mortos, citando como fonte dados desta organização local."Estamos surpresos ao ver nosso nome envolvido nesses números. Eles aumentam a confusão e o desespero das famílias dos desaparecidos", disse à AFP o porta-voz do Crescente Vermelho líbio, Tawfik Shoukri.
Estes balanços contraditórios mostram a divisão e a ausência de autoridade centralizada na Líbia, um país mergulhado no caos desde a revolta de 2011 que derrubou o ditador Muammar Kadhafi.
"Vi a morte"
A tempestade Daniel atingiu a cidade de Derna, com uma população de cerca de 100.000 habitantes, em 10 de setembro, causando o rompimento de duas barragens no rio Wadi Derna.
Mohamad Abdelhafidh, um libanês que vive em Derna há décadas, disse à AFP que estava dormindo quando sentiu um "tremor" e viu a água subir até seu apartamento, que fica no terceiro andar. "Vi a morte", disse ele.
Segundo os habitantes da cidade, a maioria das vítimas mortais foram soterradas ou arrastadas para o Mar Mediterrâneo.
Hamza Al-Khafifi, um soldado de Benghazi, descreveu como encontrou corpos nus de "idosos, jovens, mulheres, homens e crianças" espalhados ao longo da costa. "Os corpos ficaram presos entre as rochas".
No domingo, no porto de Derna, três mergulhadores voluntários do oeste da Líbia se limitaram a apenas observar uma equipe de resgate italiana utilizar uma câmera subaquática para procurar corpos na água.
Segundo eles, o Crescente Vermelho líbio pediu que eles deixassem o trabalho para "equipes especializadas (…) porque a decomposição dos corpos representa um risco para a saúde".
Apesar das dificuldades, a mobilização internacional continua e os aviões com ajuda continuam a pousar no aeroporto de Benghazi, a principal cidade do leste.
No terreno, há brigadas da França, Irã, Rússia, Arábia Saudita, Tunísia e Emirados Árabes Unidos.