Sob pressão da Alemanha, UE flexibiliza proibição de motores de combustão
O texto, que foi aprovado pelo Parlamento Europeu em fevereiro, impôs então uma motorização 100% elétrica para carros novos vendidos a partir de 2035 no bloco
Agência de notícias
Publicado em 25 de março de 2023 às 14h12.
A Comissão Europeia e a Alemanha anunciaram neste sábado, 25, que chegaram a um acordo para desbloquear um texto-chave do plano climático europeu sobre emissões de CO2, graças à flexibilização da proibição de motores térmicos a partir de 2035.
A Alemanha surpreendeu seus parceiros europeus no início de março ao bloquear no último minuto um texto que pedia a redução a zero das emissões de CO2 dos veículos novos.
- Alvo da CBF, Ancelotti diz que 'ficaria o resto da vida' no Real Madrid
- PSD anuncia apoio a projeto alternativo na Câmara
- Fleury e Hermes Pardini recebem aprovação do Cade para combinação de negócios
- Novo arcabouço fiscal terá preocupação com as políticas públicas, diz ministra
- Trump diz que será 'preso' na terça e convoca protestos
- As 10 principais causas de afastamento no trabalho em 2022
O texto, que foi aprovado pelo Parlamento Europeu em fevereiro, impôs então uma motorização 100% elétrica para carros novos vendidos a partir de 2035 no bloco.
Para justificar essa mudança, Berlim pediu à Comissão uma proposta para abrir caminho para veículos movidos a combustíveis sintéticos.
Essa tecnologia, ainda em desenvolvimento, consistiria na produção de combustível a partir do CO2 procedente de atividades industriais utilizando eletricidade de baixo carbono.
O sistema, defendido por alguns fabricantes alemães e italianos, permitiria prolongar o uso de motores de combustão a partir de 2035.
Nas últimas semanas, a Comissão negociou com a Alemanha para sair do bloqueio.
"Chegamos a um acordo com a Alemanha sobre o futuro uso de combustíveis sintéticos em carros", anunciou o comissário europeu para o Meio Ambiente, Frans Timmermans, no Twitter neste sábado.
"Vamos trabalhar a partir de agora para que o regulamento padrão de CO2 para carros seja adotado o mais rápido possível", acrescentou.
Por sua vez, o ministro alemão dos Transportes, Volker Wissing, informou que "os veículos equipados com motor de combustão poderão ser registrados a partir de 2035 se utilizarem exclusivamente combustíveis neutros em termos de emissões de CO2".
A presidência sueca da UE indicou pouco depois que o regulamento sobre as emissões de CO2 dos automóveis será submetido aos embaixadores dos 27 países do bloco na segunda-feira, em Bruxelas, para que o texto seja aprovado em definitivo numa reunião de ministros da Energia na terça-feira.
- Solução questionada por ambientalistas -
Os combustíveis sintéticos são questionados por ONGs ambientalistas que os consideram caros, grandes consumidores de energia elétrica para sua produção e poluentes, por não eliminarem as emissões de óxido de nitrogênio (NOx).
"Que raiva! A Comissão cede à Alemanha", protestou a eurodeputada ambientalista Karima Delli.
O presidente da Comissão do Meio Ambiente do Parlamento Europeu, o liberal Pascal Canfin, disse que o texto não altera "a regra de 100% dos carros com emissões zero até 2035". Mas alertou que estará vigilante com a neutralidade carbônica dos motores térmicos autorizados.
Muitos especialistas duvidam que essa solução possa prevalecer no mercado frente aos carros elétricos, cujo preço deve cair, segundo as previsões para os próximos anos.
Além disso, o setor antecipou-se amplamente às regulamentações europeias e investiu maciçamente na fabricação de veículos elétricos.
E mesmo que os combustíveis sintéticos, que ainda não existem, funcionem bem, "não terão um papel importante a médio prazo no segmento de veículos particulares", disse Markus Duesmann, presidente da Audi (parte do grupo Volkswagen), ao semanário alemão Spiegel.
Devido ao seu custo, esses combustíveis só farão sentido quando aplicados em carros de luxo "como o Porsche 911 ou a Ferrari", afirmou Ferdinand Dudenhöffer, especialista do Center Automotive Research da Alemanha, que não vê nesta modificação "um mudança importante" para a transição energética na UE.
A virada de Berlim deveu-se a uma iniciativa dos liberais do FDP, um pequeno partido que perdeu cinco eleições regionais consecutivas.
O FDP espera afirmar-se perante os ambientalistas, apresentando-se como o defensor do automóvel e apostando na hostilidade de grande parte da população à proibição dos motores de combustão.
Para preservar a unidade de sua coalizão, o chefe do governo alemão, o social-democrata Olaf Scholz, preferiu alinhar-se à reivindicação do FDP.