Snowden alimentou temores de Big Brother americano em 2013
A onda expansiva causada desde junho, com os vazamentos de Snowden para a imprensa deflagrou um debate sobre o tema
Da Redação
Publicado em 23 de dezembro de 2013 às 16h42.
As revelações do analista de inteligência Edward Snowden sobre a espionagem americana em escala global provocaram uma tempestade diplomática e temores no mundo todo diante dos Estados Unidos, que apresentaram uma imagem de país todo-poderoso e inquisidor.
A onda expansiva causada desde o início de junho, com os vazamentos de Snowden para alguns dos principais veículos da imprensa internacional também deflagrou um debate sobre o tema.
Considerado foragido da Justiça americana após ser acusado de espionagem, tachado de "traidor" por uns e de "herói" por outros, Snowden obteve asilo temporário de um ano na Rússia e vem, aparentemente, sinalizando a intenção de buscar um refúgio definitivo no Brasil.
O jovem de 30 anos vazou para a imprensa – em especial ao jornal britânico The Guardian – milhares de documentos confidenciais com detalhes sobre a capacidade operacional de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).
Considerado pela revista Time a segunda personalidade do ano, atrás apenas do papa Francisco, Snowden declarou à revista que decidiu desafiar seus deveres quando teve consciência do alcance dos programas de vigilância.
"O que mais nos preocupa não é que essa vigilância possa acontecer teoricamente, mas que ela tenha sido feita sem que a maior parte da sociedade sequer estivesse consciente de que era possível", explicou ele à Time, em entrevista por e-mail.
Com a escalada das revelações, o mundo descobriu a extensão dos programas de vigilância eletrônica da NSA. Organizações americanas de defesa das liberdades civis e da vida privada denunciaram a existência de um "Big Brother", em alusão ao clássico "1984" do escritor George Orwell.
O escândalo levou o presidente Barack Obama a prometer, desde agosto, reformas para aumentar a "transparência" dos programas da NSA. Além disso, Washington teve de lidar com a ira de seus aliados, entre eles a Alemanha.
Apesar do mal-estar, "não haverá mudanças maiores", disse à AFP James Lewis, especialista do Center for Strategic and International Studies (CSIS), um renomado 'think tank' de Washington.
Minoria barulhenta
Embora de "20% a 25% dos eleitores", uma "minoria barulhenta", manifestem sua oposição a esses programas, a maioria da população está de acordo com essas intromissões na vida privada em nome da garantia de segurança, justifica Lewis.
O problema é que "as pessoas não compreenderam realmente a diferença entre coletar dados e lê-los. Ninguém pode ler 70 milhões de e-mails, mas é possível usar máquinas para identificar quem tem ligações com o terrorismo", completou.
Um dos programas, instaurado pela famosa Patriot Act votada em 2001 por conta dos atentados do 11 de Setembro, prevê a coleta de metadados, obrigando as operadoras de telefonia americanas a fornecer essas informações à NSA. Os chamados metadados incluem, por exemplo, o número, a hora e a duração da conversa.
Essa coleta de dados sobre as comunicações do cidadão médio americano levou o Congresso a tentar enquadrar as atividades da agência. Desde o 11 de Setembro, a NSA se beneficia de "uma imensa margem de manobra e aproveitou cada milímetro", afirmou o professor Gordon Adams, da American University, em Washington. Para ele, "basicamente, abre-se mão de qualquer controle sobre a comunidade de inteligência".
Outro programa, o PRISM, a "ferramenta mais importante" para a NSA, engloba as atividades on-line de milhões de pessoas no mundo, com a ajuda de gigantes americanos do setor, como Microsoft, Apple, Google e Facebook. Agora, essas empresa temem a perda de confiança de seus clientes e pedem uma "reforma das práticas governamentais de vigilância no mundo".
A NSA também grava todos dias informações de milhões de telefones celulares e já registrou as conversas de líderes estrangeiros (inimigos e aliados), entre eles a chanceler alemã, Angela Merkel.
Posição incômoda
Esses vazamentos colocaram o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em uma posição bastante incômoda frente a seus aliados europeus e latino-americanos, como Brasil e México. Ainda assim, as autoridades americanas garantem que os "sócios" de Washington se beneficiam diretamente da espionagem da NSA – com a qual, de fato, colaboram, como acontece com a Grã-Bretanha.
"As reações internacionais foram surpreendentemente fracas, porque os líderes estrangeiros sabem que seus próprios serviços de inteligência realizam atividades similares", explicou Karen Kornbluh, especialista do Council on Foreign Relations (CFR), outro importante think tank americano.
"A principal ameaça em longo prazo é para a própria saúde da internet", alertou.
Segundo ela, "as revelações (de Snowden) podem dar uma justificativa para alguns governos estrangeiros que enfrentam preocupações econômicas ou de privacidade para exercer um maior controle sobre o fluxo de dados".
Até agora, apenas 1% dos 58 mil documentos entregues por Snowden foram divulgados, de acordo com uma fonte do jornal The Guardian. Para James Lewis, porém, o pior da tempestade para o governo americano parece ter ficado para trás.
"É difícil que haja mais revelações espetaculares. Pode-se continuar divulgando detalhes específicos que afetem os programas de espionagem, mas o efeito político já foi obtido", afirmou.
As revelações do analista de inteligência Edward Snowden sobre a espionagem americana em escala global provocaram uma tempestade diplomática e temores no mundo todo diante dos Estados Unidos, que apresentaram uma imagem de país todo-poderoso e inquisidor.
A onda expansiva causada desde o início de junho, com os vazamentos de Snowden para alguns dos principais veículos da imprensa internacional também deflagrou um debate sobre o tema.
Considerado foragido da Justiça americana após ser acusado de espionagem, tachado de "traidor" por uns e de "herói" por outros, Snowden obteve asilo temporário de um ano na Rússia e vem, aparentemente, sinalizando a intenção de buscar um refúgio definitivo no Brasil.
O jovem de 30 anos vazou para a imprensa – em especial ao jornal britânico The Guardian – milhares de documentos confidenciais com detalhes sobre a capacidade operacional de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).
Considerado pela revista Time a segunda personalidade do ano, atrás apenas do papa Francisco, Snowden declarou à revista que decidiu desafiar seus deveres quando teve consciência do alcance dos programas de vigilância.
"O que mais nos preocupa não é que essa vigilância possa acontecer teoricamente, mas que ela tenha sido feita sem que a maior parte da sociedade sequer estivesse consciente de que era possível", explicou ele à Time, em entrevista por e-mail.
Com a escalada das revelações, o mundo descobriu a extensão dos programas de vigilância eletrônica da NSA. Organizações americanas de defesa das liberdades civis e da vida privada denunciaram a existência de um "Big Brother", em alusão ao clássico "1984" do escritor George Orwell.
O escândalo levou o presidente Barack Obama a prometer, desde agosto, reformas para aumentar a "transparência" dos programas da NSA. Além disso, Washington teve de lidar com a ira de seus aliados, entre eles a Alemanha.
Apesar do mal-estar, "não haverá mudanças maiores", disse à AFP James Lewis, especialista do Center for Strategic and International Studies (CSIS), um renomado 'think tank' de Washington.
Minoria barulhenta
Embora de "20% a 25% dos eleitores", uma "minoria barulhenta", manifestem sua oposição a esses programas, a maioria da população está de acordo com essas intromissões na vida privada em nome da garantia de segurança, justifica Lewis.
O problema é que "as pessoas não compreenderam realmente a diferença entre coletar dados e lê-los. Ninguém pode ler 70 milhões de e-mails, mas é possível usar máquinas para identificar quem tem ligações com o terrorismo", completou.
Um dos programas, instaurado pela famosa Patriot Act votada em 2001 por conta dos atentados do 11 de Setembro, prevê a coleta de metadados, obrigando as operadoras de telefonia americanas a fornecer essas informações à NSA. Os chamados metadados incluem, por exemplo, o número, a hora e a duração da conversa.
Essa coleta de dados sobre as comunicações do cidadão médio americano levou o Congresso a tentar enquadrar as atividades da agência. Desde o 11 de Setembro, a NSA se beneficia de "uma imensa margem de manobra e aproveitou cada milímetro", afirmou o professor Gordon Adams, da American University, em Washington. Para ele, "basicamente, abre-se mão de qualquer controle sobre a comunidade de inteligência".
Outro programa, o PRISM, a "ferramenta mais importante" para a NSA, engloba as atividades on-line de milhões de pessoas no mundo, com a ajuda de gigantes americanos do setor, como Microsoft, Apple, Google e Facebook. Agora, essas empresa temem a perda de confiança de seus clientes e pedem uma "reforma das práticas governamentais de vigilância no mundo".
A NSA também grava todos dias informações de milhões de telefones celulares e já registrou as conversas de líderes estrangeiros (inimigos e aliados), entre eles a chanceler alemã, Angela Merkel.
Posição incômoda
Esses vazamentos colocaram o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em uma posição bastante incômoda frente a seus aliados europeus e latino-americanos, como Brasil e México. Ainda assim, as autoridades americanas garantem que os "sócios" de Washington se beneficiam diretamente da espionagem da NSA – com a qual, de fato, colaboram, como acontece com a Grã-Bretanha.
"As reações internacionais foram surpreendentemente fracas, porque os líderes estrangeiros sabem que seus próprios serviços de inteligência realizam atividades similares", explicou Karen Kornbluh, especialista do Council on Foreign Relations (CFR), outro importante think tank americano.
"A principal ameaça em longo prazo é para a própria saúde da internet", alertou.
Segundo ela, "as revelações (de Snowden) podem dar uma justificativa para alguns governos estrangeiros que enfrentam preocupações econômicas ou de privacidade para exercer um maior controle sobre o fluxo de dados".
Até agora, apenas 1% dos 58 mil documentos entregues por Snowden foram divulgados, de acordo com uma fonte do jornal The Guardian. Para James Lewis, porém, o pior da tempestade para o governo americano parece ter ficado para trás.
"É difícil que haja mais revelações espetaculares. Pode-se continuar divulgando detalhes específicos que afetem os programas de espionagem, mas o efeito político já foi obtido", afirmou.