Mundo

Sarkozy fecha acordos de 'sociedade nuclear' com a Índia

Os dois países esperam que as trocas econômicas bilaterais cheguem a € 12 bilhões até o fim de 2012

Sarkozy e a primeira-dama Carla Bruni chegam à Índia para negociações bilaterais (Pascal Le Segretain/Getty Images)

Sarkozy e a primeira-dama Carla Bruni chegam à Índia para negociações bilaterais (Pascal Le Segretain/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2010 às 09h01.

Nova Délhi - O presidente francês, Nicolas Sarkozy, fechou nesta segunda-feira em Nova Délhi acordos que colocam a França como um dos sócios preferenciais da Índia em matéria nuclear, a grande aposta energética do gigante asiático para sustentar seu crescimento econômico.

Cinco dos sete acordos assinados nesta segunda-feira pelas delegações reunidas na capital indiana são de cooperação nuclear, que as partes confiam será um setor que contribuirá para duplicar as trocas econômicas, até colocá-las em 12 bilhões de euros no fim de 2012.

A francesa Areva e a Corporação de Energia Nuclear da Índia assinaram dois dos acordos, que definem as bases para a construção de dois reatores de tecnologia francesa na futura planta de Jaitapur, em Maharashtra (oeste).

Os outros três são relativos a aspectos como a segurança, pesquisa e o manejo de resíduos nucleares, explicou o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, em sua entrevista coletiva com o presidente francês.

Embora não foi divulgada uma data da construção, pois ficam "aspectos técnicos, incluídos os preços, sujeitos a negociações", Singh destacou que os dois reatores vão gerar 10.000 megawatts de eletricidade frente aos 4.000 megawatts de energia nuclear que a Índia produz atualmente.

O Governo indiano apostou pela energia "limpa" nuclear para superar o crônico déficit energético do país e manter seu crescimento econômico, que no primeiro semestre deste ano fiscal foi de 8,9%.

Sarkozy apreciou a "escolha indiana de confiar na tecnologia nuclear francesa" e ressaltou que os acordos desta segunda-feira são "muito favoráveis" para a indústria de seu país.

Os acordos entre Areva e a Corporação são o primeiro resultado material do pacto de cooperação nuclear que a França e a Índia assinaram em setembro de 2008, após a "dispensa" outorgada ao gigante asiático pelo Grupo de Fornecedores Nucleares (NSG), facilitada por um pacto semelhante com os EUA.


A Índia, que possui arma atômica e não assinou os tratados de não-proliferação (TNP) e Proibição de Testes Nucleares (CTBT), saiu assim de décadas de exclusão do mercado atômico internacional, em troca de um acordo de salvaguardas com a AIEA pelo que permitirá inspeções em suas plantas civis.

Na entrevista coletiva, Sarkozy garantiu que a França "fez a escolha estratégica de acreditar na Índia" e demandou para ela seu "lugar legítimo" como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, assim como um posto em fóruns nucleares como o NSG.

No comunicado conjunto emitido após a reunião Singh-Sarkozy, ambos avaliaram o "diálogo significativo" entre os estados nucleares, "em particular aqueles que possuem os arsenais maiores, para construir confiança" e promover a paz mundial.

Além dos acordos nucleares, as partes assinaram nesta segunda-feira um tratado de co-produção cinematográfica e outro de cooperação em matéria de ciência e mudança climática.

"Reafirmaram o comum interesse em fortalecer sua relação" em matéria de defesa, que é um "pilar importante de sua relação estratégica", segundo a declaração, que aludiu às discussões em andamento para um acordo de modernização dos aviões Mirage 2000 em posse da Índia.

Singh expressou a "determinação" dos dois países de colocar seu volume de trocas comerciais nos 12 bilhões de euros em 2012, frente aos 5,360 bilhões de 2009 em que se viram ressentidos pela crise.

As partes confiam em que o objetivo será viável graças aos acordos nucleares atuais, o reatamento de contratos para a indústria de aviação indiana e a possível assinatura de um acordo de livre-comércio entre a Índia e a UE, que segue negociando.

A ministra de Economia francesa, Christine Lagarde, em seu discurso nesta segunda-feira em um fórum de empresários em Délhi, cifrou em 10 bilhões de euros os compromissos de investimento de empresas francesas na Índia entre 2008 e 2012. Ao tempo que demandou a abertura de setores até agora vedados ao investimento estrangeiro como o comércio no varejo e o de seguros, segundo a agência "Ians".

Sarkozy chegou à Índia no sábado, fez uma breve visita as instalações espaciais em Bangalore e passou o fim de semana visitando com sua esposa, Carla Bruni, o Taj Mahal e os arredores.

Acompanhado por sete ministros e uma delegação empresarial, nesta segunda reúne-se com a presidente do partido governante, Sonia Gandhi, e a chefe do Estado, Pratibha Patil, e na terça irá Mumbai para homenagear as vítimas do atentado de 2008 e fazer um discurso diante de um conclave de negócios.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEnergiaEnergia nuclearEuropaFrançaÍndiaInfraestruturaPaíses ricos

Mais de Mundo

Grécia vai construir a maior 'cidade inteligente' da Europa, com casas de luxo e IA no controle

Seis mortos na Nova Caledônia, onde Exército tenta retomar controle do território

Guerra nas estrelas? EUA ampliam investimentos para conter ameaças em órbita

Reguladores e setor bancário dos EUA devem focar em riscos essenciais, diz diretora do Fed

Mais na Exame