Exame Logo

Rússia questiona legitimidade de governo da Ucrânia

O Parlamento ucraniano deve nomear na terça-feira um primeiro-ministro e um governo de transição, em meio a discussões diplomáticas com os ocidentais em Kiev

O premiê russo, Dmitri Medvedev: "A legitimidade de toda uma série de órgãos (na Ucrânia) cria sérias dúvidas", afirmou, citado por agências russas (Mihail Metzel/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2014 às 19h19.

A Rússia contestou nesta segunda-feira a legitimidade e os "métodos ditatoriais" das novas autoridades ucranianas, que lançaram um pedido de ajuda financeira de emergência ao Ocidente e emitiram uma ordem de prisão contra o presidente destituído Viktor Yanukovytch por "assassinato em massa".

O Parlamento deve nomear na terça-feira um primeiro-ministro e um governo de transição, em meio a discussões diplomáticas com os ocidentais em Kiev.

"Se considerarmos que pessoas que andam por Kiev com máscaras e kalachnikovs são o governo, então será difícil trabalharmos com um governo desse", declarou o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev, em reação à chegada ao poder da oposição ucraniana no último fim de semana.

"A legitimidade de toda uma série de órgãos (na Ucrânia ) cria sérias dúvidas", afirmou, citado por agências russas. "Alguns de nossos sócios ocidentais não acham isso, mas é uma espécie de aberração chamar de legítimo o que, em essência, é o resultado de uma rebelião armada", acrescentou.

Já a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, reuniu-se na tarde desta segunda-feira com o presidente interino Olexandre Turchynov e visitou a Maidan, ou Praça da Independência, símbolo da contestação, para depositar flores em memória às 82 pessoas mortas durante a semana passada.

O número dois da diplomacia americana, William Burns, também é esperado em Kiev na terça-feira.

Pouco antes, o ministro interino das Finanças, Yuri Kolobov, afirmou que o país precisa de 35 bilhões de dólares nos próximos dois anos e pediu ajuda aos países ocidentais.

"Nós pedimos aos nossos sócios ocidentais a organização de uma grande conferência de doadores com a União Europeia, os Estados Unidos, o FMI e outros organismos financeiros internacionais", acrescentou.


Evitar a falência da Ucrânia

Esse pedido foi acolhido positivamente pelo ministro grego das Relações Exteriores, Evangelos Venizelos, cujo país ocupa a Presidência rotativa da União Europeia.

"Precisamos evitar uma guerra civil, precisamos evitar o colapso financeiro e econômico do país, e organizar uma conferência internacional para evitar a falência da Ucrânia", declarou.

Há vários dias, os ocidentais não escondem seus temores pela integridade territorial da Ucrânia. Eles temem que a crise dos últimos meses aumente o fosso entre o leste do país, pró-russo e majoritário, e o oeste, nacionalista.

No entanto, no terreno, as regiões mais próximas de Moscou não parecem dar sinais de querer a divisão.

A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) nomeou um enviado especial para a Ucrânia e propôs a criação de um grupo de contato internacional para administrar "este período de transição".

"Não há tempo a perder" para ajudar a Ucrânia, indicou o chanceler francês Laurent Fabius, referindo-se ao risco de quebra da economia ucraniana e à necessidade de resgatar o país rapidamente. A esse respeito, "existe o que a Rússia prometeu --e é desejável que nossos parceiros e amigos russos possam continuar a contribuir" economicamente, insistiu.

A Rússia prometeu em dezembro uma ajuda de 15 bilhões de dólares. Apesar de já ter depositado 3 bilhões, o restante da ajuda está comprometido devido às tensões entre as capitais.

O ministro da Economia russo, Alexei Uliukaev, ameaçou nesta segunda-feira aumentar as tarifas alfandegárias sobre os produtos vindos da Ucrânia, caso Kiev opte por uma aproximação da União Europeia.

E Moscou elevou ainda mais o tom ao denunciar nesta tarde a "repressão àqueles que não estão de acordo em várias regiões da Ucrânia, por meio de métodos ditatoriais e por vezes terroristas", acusando o governo interino de atacar os direitos da comunidade russa na Ucrânia.


Massacre de civis

Mais cedo, as autoridades anunciaram o lançamento de um mandado de prisão por "assassinatos em massa" contra o presidente deposto Yanukovytch, que era apoiado por Moscou.

"Uma investigação criminal foi aberta por assassinatos em massa de civis contra Yanukovytch e várias autoridades. Um mandado de busca foi expedido contra eles", anunciou o ministro do Interior interino Arsen Avakov.

Cerca de cinquenta pessoas, incluindo autoridades das forças de ordem, também foram acusadas. As autoridades também adotaram medidas para impedi-las de deixar o território, indicou o procurador-geral.

Destituído pelo Parlamento e abandonado por seu próprio partido, Yanukovytch não dá sinal de vida desde sábado e pode estar escondido no leste do país.

Enquanto isso, a opositora Yulia Tymoshenko, liberada da prisão no sábado, disse que irá em breve à Alemanha para fazer tratamento. Ela sofre de um problema crônico nas costas.

A oposição, agora no governo, rapidamente iniciou os trabalhos para recuperar o país. Uma eleição presidencial antecipada foi marcada para 25 de maio.

As dificuldades são abissais, admitiu Olexandre Turtchynov: "Nos três últimos anos, a Ucrânia funcionou graças a empréstimos. Nenhum governo na Ucrânia trabalhou em condições tão extremas.

"Desde a sua independência, a Ucrânia jamais teve uma catástrofe econômica e política como esta", considerou um dos líderes da contestação, Arseni Yatseniuk.

O banqueiro Stepan Kubiv foi nomeado para o comando do Banco Central. "Nós convidamos representantes do FMI para mantermos as negociações e abrir o novo programa de que a Ucrânia precisa hoje", declarou.

Para Lubomir Mitov, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), "a situação orçamentária é tão desesperadora que a única opção para o governo pagar as aposentadorias e os salários é emitir moeda", com o risco de acentuar a inflação e a desvalorização da moeda ucraniana.

Veja também

A Rússia contestou nesta segunda-feira a legitimidade e os "métodos ditatoriais" das novas autoridades ucranianas, que lançaram um pedido de ajuda financeira de emergência ao Ocidente e emitiram uma ordem de prisão contra o presidente destituído Viktor Yanukovytch por "assassinato em massa".

O Parlamento deve nomear na terça-feira um primeiro-ministro e um governo de transição, em meio a discussões diplomáticas com os ocidentais em Kiev.

"Se considerarmos que pessoas que andam por Kiev com máscaras e kalachnikovs são o governo, então será difícil trabalharmos com um governo desse", declarou o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev, em reação à chegada ao poder da oposição ucraniana no último fim de semana.

"A legitimidade de toda uma série de órgãos (na Ucrânia ) cria sérias dúvidas", afirmou, citado por agências russas. "Alguns de nossos sócios ocidentais não acham isso, mas é uma espécie de aberração chamar de legítimo o que, em essência, é o resultado de uma rebelião armada", acrescentou.

Já a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, reuniu-se na tarde desta segunda-feira com o presidente interino Olexandre Turchynov e visitou a Maidan, ou Praça da Independência, símbolo da contestação, para depositar flores em memória às 82 pessoas mortas durante a semana passada.

O número dois da diplomacia americana, William Burns, também é esperado em Kiev na terça-feira.

Pouco antes, o ministro interino das Finanças, Yuri Kolobov, afirmou que o país precisa de 35 bilhões de dólares nos próximos dois anos e pediu ajuda aos países ocidentais.

"Nós pedimos aos nossos sócios ocidentais a organização de uma grande conferência de doadores com a União Europeia, os Estados Unidos, o FMI e outros organismos financeiros internacionais", acrescentou.


Evitar a falência da Ucrânia

Esse pedido foi acolhido positivamente pelo ministro grego das Relações Exteriores, Evangelos Venizelos, cujo país ocupa a Presidência rotativa da União Europeia.

"Precisamos evitar uma guerra civil, precisamos evitar o colapso financeiro e econômico do país, e organizar uma conferência internacional para evitar a falência da Ucrânia", declarou.

Há vários dias, os ocidentais não escondem seus temores pela integridade territorial da Ucrânia. Eles temem que a crise dos últimos meses aumente o fosso entre o leste do país, pró-russo e majoritário, e o oeste, nacionalista.

No entanto, no terreno, as regiões mais próximas de Moscou não parecem dar sinais de querer a divisão.

A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) nomeou um enviado especial para a Ucrânia e propôs a criação de um grupo de contato internacional para administrar "este período de transição".

"Não há tempo a perder" para ajudar a Ucrânia, indicou o chanceler francês Laurent Fabius, referindo-se ao risco de quebra da economia ucraniana e à necessidade de resgatar o país rapidamente. A esse respeito, "existe o que a Rússia prometeu --e é desejável que nossos parceiros e amigos russos possam continuar a contribuir" economicamente, insistiu.

A Rússia prometeu em dezembro uma ajuda de 15 bilhões de dólares. Apesar de já ter depositado 3 bilhões, o restante da ajuda está comprometido devido às tensões entre as capitais.

O ministro da Economia russo, Alexei Uliukaev, ameaçou nesta segunda-feira aumentar as tarifas alfandegárias sobre os produtos vindos da Ucrânia, caso Kiev opte por uma aproximação da União Europeia.

E Moscou elevou ainda mais o tom ao denunciar nesta tarde a "repressão àqueles que não estão de acordo em várias regiões da Ucrânia, por meio de métodos ditatoriais e por vezes terroristas", acusando o governo interino de atacar os direitos da comunidade russa na Ucrânia.


Massacre de civis

Mais cedo, as autoridades anunciaram o lançamento de um mandado de prisão por "assassinatos em massa" contra o presidente deposto Yanukovytch, que era apoiado por Moscou.

"Uma investigação criminal foi aberta por assassinatos em massa de civis contra Yanukovytch e várias autoridades. Um mandado de busca foi expedido contra eles", anunciou o ministro do Interior interino Arsen Avakov.

Cerca de cinquenta pessoas, incluindo autoridades das forças de ordem, também foram acusadas. As autoridades também adotaram medidas para impedi-las de deixar o território, indicou o procurador-geral.

Destituído pelo Parlamento e abandonado por seu próprio partido, Yanukovytch não dá sinal de vida desde sábado e pode estar escondido no leste do país.

Enquanto isso, a opositora Yulia Tymoshenko, liberada da prisão no sábado, disse que irá em breve à Alemanha para fazer tratamento. Ela sofre de um problema crônico nas costas.

A oposição, agora no governo, rapidamente iniciou os trabalhos para recuperar o país. Uma eleição presidencial antecipada foi marcada para 25 de maio.

As dificuldades são abissais, admitiu Olexandre Turtchynov: "Nos três últimos anos, a Ucrânia funcionou graças a empréstimos. Nenhum governo na Ucrânia trabalhou em condições tão extremas.

"Desde a sua independência, a Ucrânia jamais teve uma catástrofe econômica e política como esta", considerou um dos líderes da contestação, Arseni Yatseniuk.

O banqueiro Stepan Kubiv foi nomeado para o comando do Banco Central. "Nós convidamos representantes do FMI para mantermos as negociações e abrir o novo programa de que a Ucrânia precisa hoje", declarou.

Para Lubomir Mitov, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), "a situação orçamentária é tão desesperadora que a única opção para o governo pagar as aposentadorias e os salários é emitir moeda", com o risco de acentuar a inflação e a desvalorização da moeda ucraniana.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaDiplomaciaEuropaGovernoRússiaUcrânia

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame