Rússia faz ultimato aos últimos defensores ucranianos de Mariupol
As forças russas também anunciaram que bombardearam outra fábrica militar nos arredores de Kiev neste domingo
AFP
Publicado em 17 de abril de 2022 às 10h01.
A Rússia emitiu um ultimato aos últimos defensores ucranianos de Mariupol, exigindo que deponham suas armas e evacuem este porto estratégico no sudeste da Ucrânia neste domingo (17), cuja conquista significaria uma importante vitória para Moscou.
As forças russas também anunciaram que bombardearam outra fábrica militar nos arredores de Kiev neste domingo, em um momento de intensificação dos ataques em torno da capital ucraniana, após a destruição do principal navio de sua frota no Mar Negro.
A situação em Mariupol é "desumana", descreveu o presidente ucraniano Volodimir Zelensky na noite de sábado, enquanto a Rússia afirma controlar quase toda a cidade.
O presidente ucraniano salientou que havia apenas "duas opções": o fornecimento de países ocidentais de "todas as armas necessárias" para romper o longo cerco de Mariupol ou "o caminho da negociação" em que "o papel dos aliados deve ser igualmente decisivo".
Suas declarações coincidiram com uma declaração do Ministério da Defesa da Rússia, que pediu aos últimos soldados ucranianos entrincheirados em um enorme complexo metalúrgico em Mariupol para desistir da luta neste domingo às 06h00 em Moscou (00h00 no horário de Brasília) e deixar o local antes das 13h00 (07h00 em Brasília).
"Todos aqueles que abandonarem suas armas terão a garantia de salvar suas vidas (...) É sua única chance", disse o ministério no Telegram, assegurando que este complexo é o último foco de resistência na cidade.
Nas primeiras horas deste domingo, o Estado-Maior ucraniano disse que os russos bombardearam a cidade e "realizaram operações de assalto perto do porto", sem mencionar o ultimato russo.
Esta cidade, com 440.000 habitantes antes da guerra, é um alvo importante para Moscou e o último obstáculo para garantir seu controle na faixa marítima que vai dos territórios separatistas pró-russos de Donbass até a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
Putin "acha que vai ganhar a guerra"
O papa Francisco fez um apelo neste domingo para "ouvir o grito de paz" nesta "Páscoa de guerra", e aludiu a uma "Ucrânia martirizada", em sua bênção "urbi et orbi" diante de 50.000 fiéis na Praça de São Pedro, em Roma.
Por outro lado, de acordo com o chanceler austríaco Karl Nehammer, que se reuniu com Vladimir Putin na segunda-feira em Moscou, o presidente russo acha que venceu a guerra desencadeada por sua invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro.
"Acho que agora ele está em sua própria lógica de guerra", declarou Nehammer em entrevista à rede americana NBC.
Por seu lado, o chefe de governo italiano Mario Draghi lamentou este domingo em entrevista ao jornal Il Corriere della Sera a aparente ineficácia do "diálogo" com Putin, observando que isso não impediu que o "horror" continuasse na Ucrânia.
Após mais de 40 dias de cerco e sob constante bombardeio, o Programa Mundial de Alimentos da ONU estima que mais de 100.000 civis estão à beira da fome em Mariupol, onde também não há água nem aquecimento.
"Não há comida, nem água, nem remédios", disse Zelensky em entrevista.
Em termos de mortes, "Mariupol pode ser dez vezes Borodianka", uma pequena cidade perto de Kiev completamente destruída pela invasão russa, disse ele. Por outro lado, as autoridades ucranianas informaram neste domingo que, na ausência de um acordo com os russos para um cessar-fogo, suspenderão por um dia a retirada de civis do leste do país.
"Esta manhã, não conseguimos negociar um cessar-fogo nas rotas de evacuação com os ocupantes (russos). Por esta razão, infelizmente, não vamos abrir hoje os corredores humanitários", escreveu a vice-primeira-ministra Irina Vereshchuk no Telegram.
A líder indicou que as autoridades estão fazendo todo o possível para reabrir os corredores humanitários "o mais rápido possível". Vereshchuk também exigiu a abertura de uma estrada para evacuar soldados feridos na cidade de Mariupol.
Redirecionar a campanha
Embora tenha redirecionado sua campanha militar para o leste e o sul, a Rússia voltou a bombardear a capital nos últimos dias após o naufrágio de seu navio no Mar Morto, o cruzador Moskva, que a Ucrânia afirma ter atingido com mísseis Neptune.
Moscou nega essa versão e atribui o naufrágio a um incêndio causado por uma explosão de munição a bordo.
O ataque deste domingo a uma fábrica militar perto de Kiev foi precedido na sexta-feira pelo bombardeio de uma fábrica também perto da capital onde os mísseis Neptune foram produzidos.
No sábado, a Rússia atacou um complexo industrial de produção de tanques também nos arredores, matando uma pessoa e hospitalizando várias.
No leste, onde se espera a próxima grande batalha desta guerra, as forças russas atacaram uma refinaria de petróleo a quatro quilômetros de Lisichansk e continuaram bombardeando cidades como Kharkiv, a segunda maior cidade do país.
No sul, na região de Odessa, a Rússia alegou ter abatido "em pleno voo um avião de transporte militar ucraniano que estava entregando um grande lote de armas fornecidas à Ucrânia por países ocidentais", disse o Ministério da Defesa.
Embora não estejam diretamente envolvidos no conflito, os membros da OTAN forneceram amplo apoio de armas à Ucrânia, que aumenta à medida que a guerra avança.
A Rússia alertou em uma nota diplomática aos Estados Unidos contra o envio de armas "mais sensíveis" para a Ucrânia, que colocam "combustível no fogo" e podem causar "consequências imprevisíveis", segundo o The Washington Post.
Mesmo assim, Zelensky multiplica seus pedidos de envios militares, ao mesmo tempo em que insiste no possível uso de armas nucleares pela Rússia. Precisamos de "medicamentos [contra a radiação], abrigos antibombas", disse ele à mídia ucraniana.
Cerca de 5 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde 24 de fevereiro, segundo a ONU, que diz que mais 40.200 refugiados deixaram seu país nas últimas 24 horas.