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Rússia condena assassinos de jornalista

A Justiça russa condenou à prisão perpétua os assassinos da jornalista Anna Politkovskaya, mas família e colegas se negam a aceitar o encerramento do caso

Ativistas com imagens da jornalista russa Anna Politkovskaya (AFP/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2014 às 14h54.

Moscou - A Justiça russa condenou nesta segunda-feira à prisão perpétua os assassinos da jornalista Anna Politkovskaya, mas a família e seus colegas da "Novaya Gazeta" se negam a aceitar o encerramento do caso até que seja encontrado o mandante do crime .

"Estaremos satisfeitos com a decisão só quando forem castigados todos os culpados e, em primeiro lugar, quem encomendou o assassinato", disse Anna Stavitskaya, advogada da família da repórter russa assassinada em 7 de outubro de 2006.

O checheno Rustám Majmúdov, autor material do crime, e seu tio, Lom-Ali Gaitukáev, que teria organizado o assassinato, foram condenados à máxima pena pelo Tribunal Municipal de Moscou.

Ambos foram tachados pelo juiz como "extremamente perigosos para a sociedade" e terão que passar o resto de seus dias em uma prisão de máxima segurança .

O assassino esperou a repórter na porta de sua casa e, após receber o aval de seus irmãos, que se encarregaram de seguir a vítima, disparou várias vezes à queima-roupa quando Anna se dirigia ao elevador.

Segundo a decisão, Gaitukaev recrutou meses antes os membros do grupo criminoso e dirigiu a operação por telefone, enquanto o responsável pela operação foi o ex-policial Sergei Jadzhikurbanov, que passará 20 anos atrás das grades.

Por sua vez, os irmãos do assassino, Dzhabrail e Ibraguim, foram condenados a 14 e 12 anos de prisão, respectivamente, como cúmplices no assassinato.

O juiz confirmou que Anna, uma das jornalistas mais críticas com a política do presidente russo, Vladimir Putin, no Cáucaso, foi baleada por seu trabalho profissional.

O assassinato de Politkovskaya, que nasceu em Nova York em 1958, foi perpetrado quando a jornalista preparava um artigo sobre as torturas sistemáticas na Chechênia, que foi publicado por seus companheiros cinco dias após sua morte.

A Promotoria assegurou que "a decisão dos membros do júri e a decisão posterior são uma grande conquista do judiciário russo e do júri".


No entanto, nem a família, nem o jornal "Nóvaya Gazeta", para o qual Politkovskaya trabalhou desde 1999 até sua morte, nem os ativistas de direitos humanos ficaram satisfeitos.

"Segue havendo várias perguntas sobre quem encomendou (o assassinato). Estamos dispostos a colaborar, inclusive com os condenados, para continuar a investigação", disse Ilya Politkovski, filho da repórter, à agência "Interfax".

A decisão fiz que quem encomendou o crime, "estava zangado com as denúncias dos artigos de Politkovskaya sobre violações dos direitos humanos, apropriação indevida de ativos estaduais e abuso de poder por parte de funcionários públicos".

Com relação a isso o porta-voz do Comitê de Instrução, Vladimir Markin, ressaltou que "nestes momentos foram tomadas todas as medidas possíveis para estabelecer a identidade da pessoa que encomendou o assassinato", assunto que faz parte de outro expediente penal.

A família de Politkovskaya manteve desde o princípio a postura que o caso não poderia ser dado como encerrado até que se conhecesse a identidade da pessoa que encomendou o assassinato.

Na mesma linha, o jornal "Novaya Gazeta" assegura que "não se pode pôr ponto final à investigação".

Por enquanto, "não apareceram os principais figurantes do caso penal. Me refiro a quem encomendou (o assassinato), ao intermediário e a outros. Por isso, acho que a investigação deve prosseguir com o mesma perseverança que até agora", disse Sergei Sokolov, subdiretor do jornal.

A veterana ativista russa e soviética Liudmila Alexeyeva se confessou "decepcionada" porque ainda não se sabe a identidade de quem ordenou a morte da famosa jornalista, embora se mostrou convencida de que "a verdade sempre vem à tona".

"Os executores foram condenados com severidade, mas nenhum deles tinha motivos pessoais para cometer tal crime. Alguém os instigou, alguém os pagou, alguém plasmou seu ódio em um assassinato. Quem o ordenou?", indicou.

Na sua opinião, "até que seja responda essa pergunta, o caso deve seguir aberto".

"Nossa profissão continua sendo uma das mais perigosas e indefesas perante a sociedade e o poder", comentou Vsevolod Bogdanov, presidente da União de Jornalistas da Rússia.

A defesa também não se mostrou satisfeita, insistiu na inocência de seus clientes, ressaltou que os verdadeiros culpados estão em liberdade e adiantou que recorrerá da decisão perante o Tribunal de Estrasburgo.

"Politkovskaya não foi morta em 7 de outubro de 2006, mas hoje. O Estado pode dizer que o assassinato foi encerrado, mas não é assim. O crime foi cometido por outra pessoa e quem o encarregou ainda não foi citado", assegurou o advogado Said Artamirzaev.

São Paulo - A Síria foi, em 2013, o lugar mais letal para jornalistas do mundo. Por lá, 28 profissionais foram mortosdiretamentepor causa de seus trabalhos. No mundo, foram 70 mortes.É o que mostra o levantamento mais recente do Committee to Protect Journalists, que mapeia os casos de violência contra jornalistas em serviço ao redor do mundo. No top 10, aparecem países em conflitos intensos, como Sìria e Iraque, mas também países vistos como democráticos e pacíficos. É o caso do Brasil, que aparece na preocupante sétima colocação. Alguns números alarmantes:
  • 94% dos casos de assassinato ficaram impunes
  • 16% dos assassinatos partiu, acredita-se, de forças do governo
  • 44% dos profissionais eram de meios online, 37% eram de TV e 20% de meios impressos
  • 44% foram assassinados, enquanto 36% estavam no meio de um combate ou fogo cruzado e 20% estavam em uma situação de risco
Veja a seguir os 10 países mais perigosos:
  • 2. 2. Iraque

    2 /6(Spencer Platt/Getty Images)

  • Veja também

    Número de mortos: 10 Um dos casos recentes no Iraque envolveu o cinegrafista Mohammed Ghanem e o correspondente Mohammed Karim al-Badrani, do canal de TV independente Al-Sharqiya. Eles filmavam os preparativos do feriado de Eid al-Adha quando foram alvejados. Não se sabe se o fogo partiu do governo ou de milícias.
  • 3. 3. Egito

    3 /6(KHALED DESOUKI/AFP/Getty Images)

  • Número de mortos: 6 As mortes foram provocadas pelas intensos protestos que tomaram conta do Egito desde 2012. Três das seis mortes foram em um único dia, 14 de agosto, quando esses jornalistas cobriam ataques das forças de segurança do governo contra manifestantes partidários da Irmandade Muçulmana.
  • 4. 7. Brasil

    4 /6(CHRISTOPHE SIMON/AFP/Getty Images)

    Número de mortos: 3 Apesar de ser uma democracia e não viver nenhuma guerra declarada, o Brasil aparece entre os mais mortais. Entre as vítimas, estão Mario Randolfo Marques Lopes, editor do site de notícias Vassouras na Net. Ele e sua esposa foram sequestrados e mortos na cidade de Barra do Piraí, no Rio. Lopes denunciava casos de corrupção.
  • 5. 8. Filipinas

    5 /6(TED ALJIBE/AFP/Getty Images)

    Número de mortos: 3 Além das três mortes diretamente relacionadas ao trabalho dos jornalistas, há outras seis mortes que estão sendo invetigadas nas Filipinas e podem ter relação com a profissão. Um dos últimos casos vitimou Romeo Olea, um comentarista de rádio morto a tiros. Sua esposa disse que ele recebia constantes ameaças de morte.
  • 6. 10. Mali

    6 /6(KENZO TRIBOUILLARD/AFP/Getty Images)

    Número de mortos: 2 As mortes de jornalistas no Mali só começaram a ser documentadas a partir de 2012. Em 2013, Ghislaine Dupont e Claude Verlon, da Rádio France Internacionale, foram sequestrados e mortos com vários tiros.
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