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Roubar passarinho do outro não pode

Segundo pesquisa, brasileiros entendem mais de biopirataria que europeus e americanos juntos

Ararajuba, do tupi "arara-amarela": um dos mais cobiçados troféus do mercado clandestino de aves (.)

Ararajuba, do tupi "arara-amarela": um dos mais cobiçados troféus do mercado clandestino de aves (.)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.

São Paulo - Roubar passarinho do outro não pode. Nem plantas, nem sementes, nem informações genéticas, nada. E os brasileiros sabem bem disso; mais do que outras nacionalidades. Pelo menos é o que aponta uma pesquisa da IPSO, encomendada pela Union for Ethical BioTrade. Os resultados mostram que 73 % dos consumidores daqui entendem  bem o conceito de biopirataria, ante os 23% dos entrevistados nos Estados Unidos e da Europa, que apenas 'ouviram falar' do termo.

De acordo com a pesquisa, batizada de Barômetro da Biodiversidade 2010, o conceito de "biodiversidade" é outro conhecido nosso (94%), contra 60% dos entrevistados daqueles países. O bom desempenho nacional rendeu ao Brasil a posição de líder mundial em entendimento do conceito de biodiversidade, à frente da Alemanha, França, Inglaterra e Estados Unidos.
 
A familiaridade nacional com o assunto se justifica e tem história. Apesar do termo biopirataria ter surgido a pouco menos de vinte anos, a prática por aqui remonta aos tempos do descobrimento. Em abril de 1500, pelo menos um bocado de araras e alguns papagaios foram enviados ao rei de Portugal, juntamente com muitas outras amostras de animais, minerais e plantas verde-amarelos, como o próprio pau Brasil. 

De lá pra cá, pouca coisa mudou. O tráfico internacional da biodiversidade brasileira não só se intensificou como ainda conta a ajuda de gente da própria terra. Segundo a ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, cerca de  35 milhões de animais silvestres - da Amazônia às planícies do Pantanal  - são capturados e vendidos ilegalmente por traficantes locais, um negócio que chega a render 1 bilhão de dólares por ano.

Dona de uma beleza exuberante, a ararajuba, cujo nome vem do tupi e significa "arara amarela" é uma das espécies de aves mais ameaçadas pela biopirataria. Típica da região amazônica, com penas amarelo-douradas em todo o corpo, à exceção das extremidades das asas, que são verdes, a ararajuba é considera um dos mais cobiçados troféus do mercado ilegal de aves.
 
Brasileiros conhecem menos o conceito de "fair trade" ou "comércio justo"

Ainda de acordo com a pesquisa, os brasileiros conhecem menos o conceito de "fair trade" ou "comércio justo". Os termos refletem uma modalidade de comércio internacional que busca o estabelecimento de preços justos, além de padrões sociais e ambientais equilibrados, nas cadeias produtivas. Os europeus mostraram maior conhecimento sobre o assunto - 94% se preocupam em saber se as origens dos produtos respeitam princípios do chamado comércio justo. O segundo e o terceiro conceitos mais conhecidos por eles são respectivamente "perda de espécies" e  "desenvolvimento sustentável".

Os brasileiros mostraram maior conhecimento nos dois últimos conceitos: 98% sabem o que é "perda de espécies"; 93%, "conservação da biodiversidade"; 92% o que é "desenvolvimento sustentável". Porém, 21% dos entrevistados brasileiros disseram não saber o significado do "comércio justo". Foram entrevistados 5 mil consumidores norte-americanos, ingleses, alemães, franceses e brasileiros.

 

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