Reunião entre Trump e Kim leva esperança à última fronteira da Guerra Fria
A reunião entre o Kim Jong-un e Donald Trump busca um acordo entre os países para a destruição das armas nucleares na península coreana
AFP
Publicado em 12 de junho de 2018 às 11h18.
Última atualização em 12 de junho de 2018 às 11h18.
Na última fronteira da Guerra Fria, onde os militares das duas Coreias se vigiam de perto, os alto-falantes que divulgam propaganda dos dois lados se calaram. Até mesmo os soldados norte-coreanos esperam que a reunião histórica desta terça-feira (12) represente o início de uma nova era.
As cabanas de cor azul de Panmunjom, localidade da chamada Zona Desmilitarizada (DMZ) que divide a península, tornaram-se o emblema da trégua que acabou com os combates da Guerra da Coreia (1950-53).
O local é um destino habitual para os líderes americanos que desejam mostrar sua determinação ante a Coreia do Norte.
Mas, agora, soldados norte-coreanos mobilizados na região mostram seu entusiasmo com a inédita reunião celebrada nesta terça-feira em Singapura entre seu comandante-em-chefe, Kim Jong-un, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"No passado, tivemos sentimentos negativos a respeito das tropas do outro lado", conta à AFP o tenente-coronel Hwang Myong-jin.
"Mas devemos ser amigos dos que nos tratam com boa vontade e querem melhorar as relações e fazer o mesmo caminho de mãos dadas, apesar de nossa história", completou.
O tenente-coronel Hwang considera a reunião, que teve um aperto de mãos entre Kim e Trump, algo a princípio "positivo".
Pás simbólicas
"No passado, nossa república foi tomada pelas grandes potências. Mas hoje mostramos nossa dignidade como nação independente para o mundo inteiro", disse.
Ele mostra com entusiasmo o pinheiro plantado simbolicamente por seu dirigente e pelo presidente sul-coreano, Moon Jae-in, durante a primeira reunião de cúpula, no fim de abril. Com luvas brancas, os dois governantes utilizaram pás com terras procedentes do Monte Paektu, um local sagrado para os norte-coreanos, e do Monte Halla, na ilha sul-coreana de Jeju.
"No início, senti muito nervosismo a respeito da reunião", recorda o oficial. "Nosso líder supremo entraria no Sul, o lado perigoso da fronteira", alegou.
Mas, quando Kim tomou o presidente sul-coreano pela mão para que atravessassem simbolicamente a linha de demarcação por alguns metros, para uma breve incursão no Norte, "pensei que o dia da reunificação estava próximo", disse o tenente-coronel.
As manifestações de otimismo eram inimagináveis há poucos meses.
A Coreia do Norte afirma ter vencido o conflito, que chama de "grande guerra de libertação da pátria-mãe".
Do lado norte da DMZ, uma placa destaca uma visita de 2012 de Kim Jong-un, que "nos deu uma lição preciosa: este ponto é um local histórico onde os invasores americanos se ajoelharam diante do nosso povo para assinar sua rendição. Nossas gerações futuras viverão em uma pátria-mãe reunificada".
"O caminho da paz"
O Norte destaca frequentemente a importância de reunificar uma península dividida por Estados Unidos e União Soviética ao final da Segunda Guerra Mundial. Sua invasão em 1950 foi uma tentativa de fazer a união pela força.
Desde então, o Sul democrático e capitalista se tornou a 11ª maior economia mundial.
A Coreia do Norte sofreu com o colapso da União Soviética, assim como com as múltiplas sanções adotadas pelo Conselho de Segurança da ONU para punir suas ambições nucleares.
Durante uma viagem anterior à DMZ, o guarda que escoltava a AFP declarou que a "verdadeira natureza" dos Estados Unidos era "bloquear a rota para a paz".
"Como soldado, acredito apenas em expulsar os Estados Unidos do Sul quando for possível e unificar nossa nação", disse o oficial.
Diante da principal estação de trens de Pyongyang, um telão que geralmente exibe imagens de manobras militares e disparos de mísseis mostrava fotos de infraestruturas e projetos agrícolas.
Na livraria do lobby do Yanggakdo, o principal hotel para turistas, os cartões postais de propaganda antiamericana, que mostram mísseis apontando para os Estados Unidos, ainda ocupavam um lugar de destaque.
O presidente dos EUA, Donald Trump, aperta a mão do líder norte-coreano Kim Jong Un no hotel Capella, na ilha de Sentosa, em Singapura, em 12 de junho de 2018. REUTERS / Jonathan Ernst
Kim Jong Un e Donald Trump em cúpula histórica em Singapura
Kim Jong Un e Donald Trump em cúpula histórica em Singapura
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