Quem são os dissidentes das Farc que mataram jornalistas do Equador?
Grupo de desertores, que lucra com o narcotráfico e a mineração ilegal, passou a ter 1.200 combatentes, segundo exército colombiano
AFP
Publicado em 13 de abril de 2018 às 18h16.
Os dissidentes colombianos que, segundo as autoridades, sequestraram e mataram dois jornalistas e um motorista do jornal El Comercio, do Equador, se rebelaram contra o processo de paz com as Farc e agora são 1.200 combatentes espalhados em vários grupos.
Sem um comando unificado, os dissidentes foram considerados desertores pelas já dissolvidas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
A divisão ocorreu meses antes de o agora partido de esquerda assinar, em novembro de 2016, o acordo que levou ao desarmamento de 7.000 combatentes.
"Algumas destas dissidências se mantiveram hostis não só ao acordo de paz, mas aos líderes da antiga guerrilha. Foram catalogados como traidores e em alguns casos declararam objetivo militar", destacou à AFP o senador Iván Cepeda, que assessorou as negociações de paz de Havana.
Liderados por comandos medianos da antiga guerrilha, os dissidentes eram neste momento de 500 a 700 homens e mulheres bem armados operando principalmente em oito dos 32 departamentos (estados) da Colômbia.
Mas em um ano e meio, este exército disperso que lucra com o narcotráfico e a mineração ilegal passou a ter 1.200 combatentes, segundo o general Alberto Mejía, comandante das Forças Militares.
Na opinião de Ariel Ávila, analista da Fundação Paz e Reconciliação, os dissidentes estão distribuídos em 15 grupos, "três deles muito grandes" nos departamentos de Guaviare (sul), Meta (leste) e Nariño (fronteiriço com o Equador)".
Por trás do sequestro e do assassinato da equipe do jornal El Comercio estão precisamente os dissidentes dirigidos por Walter Patricio Artízala Vernaza, conhecido como Guacho, de origem equatoriana, segundo a Inteligência colombiana.
"Não nos amparamos no processo de paz não porque não estivéssemos de acordo, mas porque houve uma desigualdade nos guerrilheiros médios e na tropa", disse Guacho em entrevista à emissora de televisão RCN.
O terror da fronteira
Negro e magro, Guacho militou por 15 anos nas Farc.
Durante este tempo, este homem que não passa dos 35 anos se especializou em explosivos, narcotráfico e finanças, e agora se movimenta entre os dois lados da fronteira com seu grupo de 70 a 80 homens denominado "Oliver Sinisterra".
"O grupo de Guacho é de 80 pessoas no máximo, mas conhecem o território, move-se muito na fronteira e levou com ele a base social que era das Farc, camponeses cocaleros [plantadores de coca], então é um grupo que pode crescer rapidamente", disse Ávila à AFP.
As autoridades também o responsabilizam por vários ataques com explosivos que deixaram às escuras Tumaco, um povoado fronteiriço com 200.000 habitantes, que concentra o maior número de narcocultivos do mundo.
Do lado equatoriano seria o autor de uma ofensiva incomum contra a força pública, que deixou quatro mortos e dezenas de feridos desde o começo do ano.
Hoje, Guacho é o homem mais procurado tanto na Colômbia quanto no Equador.
Após anunciar ao seu país o assassinato da equipe de jornalistas, o presidente Lenin Moreno anunciou uma recompensa milionária para detê-lo.
"Incluímos o narcoterrorista conhecido como Guacho na lista dos mais procurados do Equador e oferecemos uma recompensa de cem mil dólares por informação que leve à sua captura no Equador ou na Colômbia", afirmou.
Enquanto é perseguido, Guacho se financia com a droga que envia para os Estados Unidos em aliança com as máfias mexicanas através da rota do Pacífico.
O governo de Juan Manuel Santos mobilizou no começo do ano 9.000 efetivos militares para tentar recuperar Tumaco, uma zona de domicílio da antiga guerrilha e que agora é disputada por vários grupos armados.
A Colômbia é o principal plantador mundial de folha de coca, matéria-prima da cocaína, e também o maior produtor desta droga, segundo a ONU.