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4 países colaborarão para que a paz chegue à Colômbia

Há quase 50 anos muitos colombianos se veem obrigados a atravessar as fronteiras com a Venezuela e o Equador pela violência

Rafael Correa: o presidente do Equador, Rafael Correa, considera que é o "momento histórico oportuno" para que a guerrilha "abandone as armas" (Rodrigo Buendia/AFP)
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Da Redação

Publicado em 19 de outubro de 2012 às 22h25.

Bogotá - Quatro países, entre os quais se destaca a Noruega por sua longa experiência como mediador em processos de paz, colaborarão para que o diálogo entre o governo e a principal guerrilha da Colômbia tenha êxito.

O governo presidido por Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) decidiram em agosto, ao término de seis meses de conversas secretas, iniciar em outubro a negociação para pôr fim ao longo e sangrento conflito armado e escolheram Noruega e Cuba como fiadores e Chile e Venezuela como observadores.

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A comunidade internacional deu um respaldo praticamente unânime à iniciativa e concordou em destacar que o êxito do diálogo que começará formalmente em Oslo e se desenvolverá em Cuba terá transcendência não só para a Colômbia.

Especialmente para outros dois países, Equador e Venezuela, um resultado positivo terá consequências diretas.

Há quase 50 anos muitos colombianos se veem obrigados a atravessar as fronteiras com a Venezuela e o Equador pela violência, algo que também fazem os guerrilheiros, neste caso para escapar do ataque das forças da ordem.

"Se tivermos uma fronteira tranquila e sem conflitos é a melhor notícia que em décadas a América Latina terá recebido, é o único ponto de conflito importante que ainda vivemos no continente", afirmou o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, após a divulgação da nova iniciativa pela paz.

O presidente do Equador, Rafael Correa, a quem os setores colombianos mais conservadores acusaram de afinidade com as Farc, o que ele nega, considera que é o "momento histórico oportuno" para que a guerrilha "abandone as armas" e se "integre à vida política". "É agora ou nunca", disse no último dia 30 de agosto.


Seu colega da Venezuela, Hugo Chávez, acusado reiteradamente de "cumplicidade" com as Farc pelo ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, também se mostrou otimista e disposto a ajudar no que lhe for solicitado, pois tem "limites" de atuação que Santos demarcou "com muita clareza".

O representante venezuelano no processo de paz será Roy Chaderton, embaixador na Organização dos Estados Americanos e ex-embaixador na Colômbia, que já anunciou que vai "decepcionar" a muitos porque não dirá muita coisa como observador.

Embora ainda não tenha recebido instruções, disse ter certeza de "qual vai a ser a primeira: "o senhor fica calado"".

A mesma prudência acompanha o outro "observador" do processo negociador, o governo chileno, que designou como seu representante o embaixador Milenko Skoknic, atual chefe de gabinete do Ministério das Relações Exteriores.

O Chile "vai entregar seus melhores esforços e vai fazer tudo que os países e as partes que estão negociando nos peçam para que este processo chegue a um bom termo", declarou o presidente chileno, o conservador Sebastián Piñera, no início de setembro.

Os países fiadores, Noruega e Cuba, nem sequer anunciaram publicamente quem serão seus representantes no diálogo.

O governo de Oslo, liderado pelo social-democrata Jens Stoltenberg e elogiado pelo atual líder máximo das Farc, Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como "Timochenko", por sua atuação nos contatos exploratórios prévios, não deu detalhe algum sobre o início formal do diálogo.

A Noruega é um país experiente em processos de paz, com atuações na Guatemala, Somália, Nepal, Uganda, Congo, Filipinas, Sri Lanka, Mianmar, Indonésia, Haiti e Chipre, entre outros países.


Fez parte, além disso, de um grupo de países amigos da Colômbia para ajudar à libertação dos reféns das Farc, e não é casualidade que Oslo seja o lugar onde se entregam os prêmios Nobel da Paz.

"Devemos ser frios, podem surgir muitas surpresas e as negociações podem ser duras, mas se não se começa a falar, nunca haverá uma solução", declarou o ministro das Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide, no final de setembro.

Já o governo de Cuba apenas emitiu um boletim no dia 5 de setembro para celebrar o início do diálogo e anunciar que seguirá prestando "sua ajuda solidária e seus bons ofícios em favor deste esforço".

Cuba foi o palco dos diálogos, quando Uribe era presidente, entre o governo colombiano e o Exército de Libertação Nacional, a outra guerrilha colombiana, que não deram resultados.

O líder da Revolução cubana, Fidel Castro, hoje afastado do poder, foi o mentor das Farc, mas no livro "A Paz na Colômbia" (2008) criticou que essa guerrilha marxista recorresse aos sequestros e o tratamento que dava aos reféns.

"A única solução que há nesse país (Colômbia) é a que está aqui, neste livro: uma solução pacífica. Nem o governo vai derrotar o movimento guerrilheiro nem o movimento guerrilheiro vai derrotar o governo", disse José Arbesú, então vice-chefe de Relações Internacionais do Partido Comunista de Cuba, ao apresentar a obra de Castro em novembro de 2008.

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