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Primeiro-ministro é vaiado em homenagem às vítimas de Nice

Foi a primeira vez que houve um protesto contundente contra um representante do governo após uma grande tragédia no país


	Valls: foi a primeira vez que houve um protesto contundente contra um representante do governo após uma grande tragédia no país
 (Dominique Faget/AFP)

Valls: foi a primeira vez que houve um protesto contundente contra um representante do governo após uma grande tragédia no país (Dominique Faget/AFP)

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Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2016 às 13h26.

Paris - O mal-estar da população da França com o governo pelo massacre de Nice, impulsionado pela oposição que tem criticado às medidas de segurança, se confirmou nesta segunda-feira, durante a homenagem às 84 vítimas do ataque, quando o primeiro-ministro do país, Manuel Valls, foi vaiado e insultado.

Se alguns moradores da cidade já tinham protestado contra a chegada do presidente François Hollande na última sexta-feira, Valls teve que enfrentar hoje um nível mais alto de revolta popular no terceiro e último dia de luto nacional decretado após o atentado.

Parte das 42 mil pessoas reunidas para a homenagem oficial no Passeio dos Ingleses, onde o tunisiano Mohammed Lahouaiej Bouhlel atropelou centenas de pessoas, chamaram o primeiro-ministro de "assassino" e pediram sua renúncia.

"As vaias e os insultos são indignos em uma cerimônia de homenagem às vítimas. O momento é de preservar a união nacional e não criar divisão e ódio", disse Valls pouco depois à edição digital do jornal local "Nice Matin".

Por protocolo, Valls estava acompanhado no minuto de silêncio do ex-prefeito de Nice e atual presidente da região, o conservador Christian Estrosi, um dos que mais criticou o esquema de segurança montado no último dia 14 para a festa do Dia da Bastilha.

"A presença policial e militar era insuficiente", afirmou recentemente Estrosi, em uma de suas muitas investidas contra o governo, que usou 64 policiais federais, 42 locais e 120 militares para patrulhar o local atacado pelo terrorista em Nice.

Foi a primeira vez que houve um protesto contundente contra um representante do governo após uma grande tragédia no país.

Nos últimos 18 meses, o país viveu o ataque à revista "Charlie Hebdo" em janeiro do ano, os atentados simultâneos de 13 de novembro de 2015, mas nunca antes os cidadãos tinham se comportado dessa forma.

O pedido de união feito pelo ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, após participar de uma reunião com o Hollande e os ministros de Segurança e Defesa não serviu para acalmar os ânimos dos moradores de Nice.

"Não podemos garantir risco zero. Estou dizendo isso aos franceses porque é a verdade. Só se pode resistir em um país tão duramente atacado se dissermos a verdade aos franceses e se estivermos preparados para enfrentar os desafios unidos", disse.

O ministro, que afirmou que será montado um esquema de segurança especial nas praias, centros turísticos e grandes eventos esportivos e culturais durante o verão, enviou também uma mensagem de Hollande à oposição conservadora e à extrema-direita, que depois do ataque se mobilizaram para criticar o governo e o presidente.

Hollande, disse Cazeneuve, ressalta a "obrigação de dignidade e de veracidade daqueles que têm uma voz pública", em referência direta ao ex-presidente Nicolas Sarkozy, que disse ontem à noite que o governo não fez o suficiente para proteger a França.

"Fui chefe de Estado, sei que risco zero não existe, mas não se fez tudo o que deveria ter sido feito há 18 meses", ressaltou Sarkozy em entrevista à emissora "TF1" ao ser questionado sobre o atentado de Nice na última quinta-feira.

O governo respondeu com um comunicado extenso, no qual lembrava, entre outras medidas, a contratação de 9 mil novos policiais e a aprovação de três leis antiterrorismo.

Além disso, afirmou que mais de 1.200 pessoas foram processadas por jihadismo, e que as autoridades impediram 16 atentados desde 2013.

Apesar disso, sete de cada dez franceses desconfiam da política antiterrorismo de Hollande e de seu governo, segundo uma pesquisa do Instituto Ifop para o jornal "Le Figaro".

Faltando menos de um ano para as eleições presidenciais na França, a extrema-direita aproveitou o clima de falta de confiança no governo e as vaias ao primeiro-ministro em Nice para afirmar que os franceses já querem uma nova liderança no país.  

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