Manifestantes exigem a renúncia do presidente centro-africano: primeiro-ministro, Nicolas Tiangaye, também renunciou (Eric Feferberg/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2014 às 15h47.
N'Djamena - O presidente interino da República Centro-Africana, Michel Djotodia, acusado pela comunidade internacional de passividade ante a violência interreligiosa em seu país, renunciou pressionado pelos líderes da África Central que convocaram uma cúpula extraordinária.
Seu primeiro-ministro, Nicolas Tiangaye, com quem Djotodia mantinha uma tensa relação contribuindo para a paralisia das ações públicas, também renunciou.
Os dirigentes da Comunidade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC), reunidos em uma cúpula desde quinta-feira por iniciativa do chefe de Estado do Chade Idriss Déby Itno, foram informados da renúncia do presidente e do primeiro-ministro centro-africanos, segundo o comunicado final da cúpula lida em sessão plenária.
"A cúpula felicita esta decisão altamente patriótica para uma saída do país da paralisia", indica o texto.
O ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, desejou, após o anúncio, uma substituição o mais breve possível do presidente centro-africano, com o objetivo de organizar eleições antes do final do ano.
"É preciso que o Conselho Nacional de Transição estabeleça um alternativa provisória porque o objetivo final é realizar eleições antes do fim do ano", declarou.
Em Bangui, sinal da tensão crescente com a aproximação do veredicto da cúpula, milhares de manifestantes protestaram nesta sexta-feira contra o retorno de Djotodia, aos gritos de "Djotodia renuncie", constataram jornalistas da AFP.
Muitos manifestantes se reuniram nos arredores do bairro de Boy-Rabe, perto do aeroporto, sob a observação de soldados franceses e da Misca.
Ao menos quatro veículo blindados franceses foram posicionados no início da tarde perto do palácio presidencial.
O acampamento De Roux, onde a guarda de Djotodia está em custódia desde o início da operação francesa Sangaris em 5 de dezembro, está localizado perto do palácio.
As forças francesas e destacamentos da força africana (Misca) também estão em grande número na capital.
Desde o anúncio da renúncia do presidente Djotodia, as principais avenidas de Bangui se esvaziaram.
No acampamento de refugiados do aeroporto de Mpoko, onde 100.000, em sua maioria cristãos, buscaram a proteção do exército francês, alguns veem neste anúncio um sinal de esperança.
Tertus Ngoutou, por exemplo, está "muito satisfeito com a França e o Chade. (O presidente do Chade) Idriss Déby conseguiu. Espero que a partir desta tarde a gente possa voltar a conviver com os muçulmanos em paz", acrescentando que está determinado a voltar para casa antes de domingo.
Outros são mais céticos. "Ainda não há paz. Não estamos seguros. É preciso que a Seleka seja desarmada", considerou, por sua vez, Jean Sisa.
Desde o golpe em março de 2013 que derrubou o presidente François Bozizé por uma coalizão heteroclítica predominantemente muçulmana, a Seleka, liderada por Djotodia, a República Centro Africana se viu mergulhada em uma espiral de violência interreligiosa e intercomunitária, que provocou o deslocamento em massa de populações e uma crise humanitária sem precedentes no país.
Os dirigentes da África Central negociam desde a quinta-feira com os membros do Conselho Nacional de Transição (CNT, parlamento provisório centro-africano), pessoas próximas a Djotodia da ex-rebelião Seleka e com milícias anti-balaka, hostis a Djotodia.
Os vizinhos da RCA pediram ao CNT que preparasse um acordo que levasse à renúncia de Djotodia e de Nicolas Tiengaye, segundo fontes próximas às negociações.
Em Bangui, os massacres em grande escala das últimas semanas pararam progressivamente e a cidade retornou a suas atividades normais.