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Presidente colombiano busca acordo de paz com as Farc

"Não se pode jogar ao mar a chave da paz", insistiu Santos, com palavras que não cansou de repetir em seus dois anos de governo

Juan Manuel Santos: o chefe do Estado fixou o mês de junho de 2013 como prazo para obter acordos concretos (Luis Acosta/AFP)
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Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2012 às 18h41.

Bogotá - O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, se propôs a alcançar um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), às quais ofereceu diálogo desde sua chegada ao poder em 2010, ao mesmo tempo em que manteve as operações militares contra essa guerrilha.

Em seu discurso de posse, no dia 7 de agosto de 2010, Santos deixou claro que estava "aberto" a dialogar com as Farc, mas pôs condições: a renúncia prévia "às armas, ao sequestro e ao narcotráfico".

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"Não se pode jogar ao mar a chave da paz", insistiu Santos, com palavras que não cansou de repetir em seus dois anos de governo.

Também respondeu assim ao então líder máximo da guerrilha, Guillermo León Sáenz, conhecido como "Alfonso Cano", que dias antes da posse lhe propôs, em carta pública, "conversar" para superar a "terrível situação" que vive a Colômbia após quase 50 anos de conflito armado.

Em mensagem ambígua, mas astuta, Santos, erigido como o grande protagonista deste processo de paz, lançou sua primeira cartada porque, enquanto exigia das Farc seu desarmamento e convidava às bases guerrilheiras à desmobilização, não cessou os golpes militares.

Apenas um mês depois, em 23 de setembro de 2010, anunciou em Nova York, onde participava da Assembleia Geral da ONU, que as forças armadas colombianas tinham matado Víctor Julio Suárez, conhecido como "Mono Jojoy", o histórico chefe militar das Farc.


"Caiu o símbolo do terror", disse aos líderes de todo o mundo, sendo que pouco mais de um ano depois, no dia 4 de novembro de 2011, tornou público outro golpe definitivo: a morte de "Alfonso Cano".

Esses revezes para a guerrilha tinham seguido outros, como a morte de seu número dois, "Raúl Reyes", em 2008, também pelas mãos do Exército e quando Santos era ministro da Defesa de Álvaro Uribe.

Um passo definitivo foi dado pelas Farc, já com sua cúpula dizimada, em fevereiro de 2012, data na qual puseram em liberdade os últimos policiais e militares que tinham em seu poder e anunciaram que renunciavam ao sequestro como arma política.

Com uma mão na maquinaria de guerra e outra em conversas secretas, Santos revelou no último dia 26 de agosto que seu governo tinha alcançado um acordo com a guerrilha após seis meses de encontros exploratórios em Havana.

O objetivo, confessou, é abrir um diálogo formal nesta semana em Oslo que leve ao fim do longo conflito.

Para os analistas, esta conjuntura se dá em momentos em que as Farc estão militarmente debilitadas, mas ao mesmo tempo em que o governo entende que pela via militar não acabará com o conflito.

Fato é que apesar da guerrilha ter visto reduzir seus combatentes de 20 mil para 8,5 mil em uma década não se pode negar que ainda tem capacidade para gerar problemas na Colômbia, especialmente por seus ataques à infraestrutura econômica em um país que atrai muito investimento estrangeiro e tem grande potencial de crescimento.


Com o anúncio do processo de paz, o presidente deu outra surpresa ao explicar que as negociações contarão com Noruega e Cuba como fiadores e anfitriões; e com a Venezuela e Chile como observadores.

Afinal, Santos sempre fez questão de deixar claro que o conflito de seu país é um problema interno que seria resolvido entre colombianos.

Uma dessas ocasiões se apresentou no último dia 30 de janeiro, pouco depois que as Farc e a segunda guerrilha colombiana, o Exército de Libertação Nacional (ELN), pediram mediação à recém-nascida Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

No entanto, Santos considerou "inconveniente" a participação de pessoas, grupos ou governos "tanto nacionais como estrangeiros" por considerá-lo "contraproducente".

A confidencialidade, o manejo que Santos deu ao diálogo inicial e a esperança gerada por esta nova tentativa de paz fez aumentar a popularidade do presidente.

Segundo uma pesquisa da Datexco, divulgado em 28 de setembro, sua popularidade aumentou 18 pontos até 62,97%, um salto que correspondeu, segundo o presidente desta pesquisadora, César Valderrama, ao anúncio do processo de paz.

O chefe do Estado fixou o mês de junho de 2013 como prazo para obter acordos concretos, data na qual tudo parece indicar estará imerso na campanha para sua reeleição no ano seguinte.

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