Presença de tropas russas abre nova via de tensão na Ucrânia
Soldados russos teriam participado da bem-sucedida contraofensiva frente às forças governamentais lançada pelos rebeldes na região de Donetsk
Da Redação
Publicado em 28 de agosto de 2014 às 16h48.
Kiev - O presidente da Ucrânia , Petro Poroshenko, denunciou nesta quinta-feira que tropas regulares russas com armamento pesado entraram em território ucraniano para reforçar as fileiras dos rebeldes pró- Rússia e frustrar a vitória das forças de Kiev.
"Com a ajuda dos terroristas (...) entraram colunas com armamento pesado, uma grande quantidade de armas e tropas de unidades regulares da Federação Russa", disse Poroshenko ao dar início a uma reunião urgente do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia.
Segundo o comando militar ucraniano, os soldados russos teriam participado da bem-sucedida contraofensiva contra as forças governamentais lançada pelos rebeldes na região de Donetsk e cujo objetivo seria abrir uma terceira frente nas margens do Mar Negro.
Esta suposta incursão, que foi negada hoje categoricamente por Moscou mas respaldada por imagens de satélite da Otan, ocorre dois dias depois do primeiro tête-à-tête entre Poroshenko e o presidente russo, Vladimir Putin, que despertou esperanças sobre o início de um processo de paz no leste da Ucrânia.
A comunidade internacional reagiu rapidamente e convocou hoje uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, sugeriu a possibilidade de novas sanções contra a Rússia por parte da União Europeia.
"Chega de permissividade e apaziguamento com o agressor. A Rússia iniciou uma invasão militar do território da Ucrânia", assegurou Konstantin Yeliseev, embaixador ucraniano perante a UE, em comunicado.
Essas tropas russas, que teriam participado da tomada da cidade fronteiriça ucraniana de Novoazovsk (no litoral do mar de Azov) após um bombardeio com mísseis Grad do território russo, entraram "através de uma zona da fronteira não controlada" por Kiev, acrescentou o presidente.
Segundo os meios de comunicação locais, trataria-se de 30 tanques e de cerca de 500 soldados, que teriam entrado em território ucraniano a bordo de caminhões brancos parecidos aos que integravam o comboio humanitário russo que cruzou a fronteira na semana passada.
"Na última semana, as unidades de milicianos locais e cossacos (...), incapazes de resistir às forças de Kiev, foram substituídas por tropas regulares do exército russo", denunciou o comando militar ucraniano.
A queda de Novoazovsk não é superficial, já que se encontra cerca de 40 quilômetros do porto de Mariupol (Mar Negro), principal cidade de Donetsk sob controle de Kiev, sede da administração regional e de um importante polígono industrial.
Precisamente por esse motivo, Poroshenko cancelou uma viagem à Turquia e pediu uma sessão urgente do Conselho de Segurança da ONU e do Conselho da União Europeia, que será realizada no sábado.
"Serei franco: a situação é, sem dúvidas, extremamente complicada. Mas é controlável, suficientemente controlável", assinalou.
As denúncias foram feitas pelo embaixador dos Estados Unidos em Kiev, Geoffrey Pyatt, que escreveu no Twitter que, após a provisão de tanques e artilharia, agora a "Rússia enviou sistemas de defesa antiaérea de última geração ao leste da Ucrânia".
Em todo caso e apesar das pressões dos deputados, Kiev não avalia a introdução da lei marcial.
Kiev também espera a ajuda dos Estados Unidos, em particular através da concessão do status de aliado especial à margem da Otan.
O líder da autoproclamada república popular de Donetsk, Aleksandr Zakharchenko, reconheceu hoje que cerca de quatro mil voluntários russos combatem nas fileiras rebeldes, números que a Otan situa agora em mil e alguns ativistas russos elevam a 15 mil.
"Nunca negamos que entre nós há muitos russos. Sem sua ajuda teria sido muito difícil combater. Além disso, direi abertamente, contamos também com soldados que decidiram passar suas férias não na praia, mas conosco", disse Zakharchenko à televisão russa.
No entanto, tanto o presidente da Duma (câmara dos deputados russa), como os embaixadores russos perante as organizações internacionais negaram categoricamente a presença de tropas de seu país em território do país vizinho.
"Pediria, especialmente aos políticos ocidentais e à opinião pública, para não cair nestas provocações informativas. Estamos acostumados a escutar, se me permitem, mentiras da boca dos funcionários de Kiev. Não há por que acreditar", comentou Sergei Narishkin, presidente da Duma.
A Rússia confirma apenas a presença em território ucraniano dos dez paraquedistas retidos há poucos dias por Kiev após atravessar a fronteira "por erro", segundo afirmou o próprio Putin.