Por que as inundações na Espanha deixaram tantos mortos?
Especialistas discutem as causas climáticas e estruturais das enchentes fatais na Espanha
Agência de notícias
Publicado em 31 de outubro de 2024 às 18h15.
As chuvas intensas que provocaram inundações devastadoras no leste da Espanha e causaram a morte de mais de 150 pessoas resultam de uma combinação de fatores meteorológicos e humanos, segundo especialistas.
Fenômeno meteorológico de violência incomum
Na região de Valência, a mais afetada, o volume de chuva registrado em poucas horas foi equivalente “a um ano de chuvas”, segundo a Agência Estatal de Meteorologia (Aemet). Esse dilúvio foi desencadeado por um fenômeno no Mar Mediterrâneo, conhecido como “gota fria”. O fenômeno ocorre quando uma massa de ar frio em alta altitude desce sobre uma massa de ar quente, formando torrentes de lama e transbordando rios.
A “gota fria”, ao alcançar essa magnitude, pode gerar efeitos semelhantes aos de furacões, de acordo com Jorge Olcina, professor de Climatologia da Universidade Valenciana de Alicante, que relaciona o desastre às mudanças climáticas.
Secura dos solos e urbanização descontrolada
Outro agravante das enchentes foi a secura dos solos na região, uma consequência de secas prolongadas na Espanha. Essa condição impede que a terra absorva grandes volumes de água rapidamente. Além disso, áreas urbanizadas da região possuem solos artificiais, onde espaços naturais foram substituídos por concreto impermeável.
Para Pablo Aznar, pesquisador do Observatório Socioeconômico de Inundações e Secas (OBSIS), essa urbanização descontrolada amplifica os riscos em eventos como as enchentes atuais. “As construções não foram adaptadas às características naturais do território”, explica ele.
Falta de reação das autoridades
O desastre também foi intensificado pela alta densidade populacional em Valência, cidade com quase 1,9 milhão de habitantes. O alerta vermelho foi emitido pela Aemet na manhã de terça-feira, mas a Proteção Civil apenas enviou um aviso telefônico após as 20h, quando as chuvas já haviam afetado as áreas densamente povoadas. “Faltou comunicação efetiva”, afirma Aznar, apontando para uma responsabilidade compartilhada entre autoridades e população.
Para Hannah Cloke, professora de hidrologia da Universidade de Reading, no Reino Unido, “uma resposta mais rápida poderia ter salvado vidas”. Ela e outros especialistas acreditam na necessidade de uma cultura de risco mais consolidada na Espanha, algo que só pode ser alcançado com mais educação sobre riscos climáticos para a população.