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Populistas criticam Cottarelli pela defesa da austeridade fiscal

Carlo Cottarelli, indicado como primeiro ministro da Itália, é um ex-alto funcionário do FMI e é conhecido pela redução dos gastos públicos em 2013-2014

Cottarelli: o ex-dirigente do FMI foi indicado pelo presidente italiano para o cargo de primeiro ministro (Tony Gentili/Reuters)

Cottarelli: o ex-dirigente do FMI foi indicado pelo presidente italiano para o cargo de primeiro ministro (Tony Gentili/Reuters)

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AFP

Publicado em 28 de maio de 2018 às 11h32.

O presidente italiano, Sergio Mattarella, encarregou nesta segunda-feira Carlo Cottarelli, a encarnação da austeridade fiscal, de formar um governo até a realização de novas eleições, que provavelmente ocorrerão no segundo semestre ou no início de 2019.

Cottarelli, de 64 anos, ex-alto funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) apelidado de "Sr. Tesoura" por seu papel na redução dos gastos públicos em 2013-2014, assume a chefia do 65º governo italiano, após o veto de Mattarella a um Executivo populista que não garantia a permanência na zona do euro, em nome da defesa dos interesses italianos na Europa.

Após saudar essa decisão na abertura do pregão com uma recuperação de quase 2%, a Bolsa de Milão se retraía novamente, perdendo quase 2% às 14h00 (9h00 de Brasília), enquanto o spread, a diferença entre as taxas de empréstimo de dez anos da Alemanha e da Itália, saltava cerca de 230 pontos, seu maior nível desde novembro de 2013.

Atual diretor do Observatório de Contas Públicas, Cottarelli vai agora formar sua equipe antes de se apresentar no Parlamento, onde praticamente não tem chances de obter a confiança. O Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema) e a Liga (extrema-direita), majoritários no Parlamento, são contra a sua nomeação.

Cottarelli declarou que planejava preparar e fazer votar o orçamento de 2019 antes das eleições, mas que, se não obtivesse a confiança, ficaria satisfeito em administrar os assuntos correntes até as eleições.

Qualquer que seja o cenário, não terá vida fácil diante dos populistas italianos, que venceram as legislativas de 4 de março e que denunciam um golpe de força após a rejeição de seu governo de união.

"Contra esses senhores do spread"

"Tudo isso não é democracia, é um desrespeito com o voto popular. Trata-se de mais uma sacudida dos poderes que querem uma Itália escrava, empobrecida e precária", reclarou Matteo Salvini, chefe da Liga.

E advertiu: "As eleições serão um plebiscito, o povo e a vida real contra as velhas castas e estes senhores do spread!"

Quanto a Di Maio, ele considera Cottarelli como "um desses especialistas que dão lições que nos sobrecarregaram cortando em áreas como saúde, educação, agricultura".

A única missão do próximo governo deve ser levar o país a novas eleições, em um clima que promete ser elétrico.

"É muito difícil acreditar nas leis e instituições do Estado", disse Di Maio, cujo partido obteve mais de 32% dos votos nas eleições legislativas de março. "Ok, vamos voltar às urnas, mas se eu conseguir 40% e voltar para o Quirinal com Savona, isso mudará alguma coisa?".

Giuseppe Conte, jurista novato na política, apresentado para o cargo de chefe de Governo por Luigi Di Maio e Matteo Salvini, desistiu no domingo à noite após a recusa de Mattarella de aprovar a nomeação de Paolo Savona, um economista anti-euro, para o ministério das Finanças.

"Golpe de Estado"

Os dois aliados se recusaram a ceder: para eles, Savona, de 81 anos, defensor de um "plano B" para sair do euro, era o único capaz de defender os interesses da Itália diante de Bruxelas.

"A designação do ministro das Finanças é sempre uma mensagem imediata de confiança ou alarme para os operadores econômicos e financeiros", explicou Mattarella, invocando suas prerrogativas constitucionais e a defesa dos poupadores italianos.

Os aliados eurocéticos de Salvini e Di Maio também se revoltaram. A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, denunciou um "golpe de Estado" da UE na Itália, enquanto Nigel Farage, o cruzado do Brexit, advertiu que a "fúria" dos eleitores italianos se traduziria em "mais votos" para os eurocéticos.

Salvini, "o homem forte da política italiana", de acordo com os comentaristas, acredita em resultados ainda melhores nas urnas. As pesquisas o creditam com cerca de 22% dos votos, contra 17% obtidos em 4 de março.

Mas para vencer as eleições, ele terá que se reconectar com seus aliados de direita, que criticaram fortemente o resultado de suas negociações com o M5S.

Silvio Berlusconi, assim como o Partido Democrata (centro-esquerda), ficou do lado de Mattarella na noite de domingo. Mas os membros de seu partido Força Itália anunciaram que não darão o voto de confiança a Cottarelli.

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