Bandeira da União Europeia (Francois Lenoir/Reuters)
Reuters
Publicado em 17 de fevereiro de 2019 às 16h14.
Munique - Em 2009, o então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, foi a Munique para "apertar o botão de reset" com a Rússia. Uma década depois, ele voltou à cidade para oferecer ao mundo melhores relações, desta vez com seu próprio país.
Prometendo que "a América estará de volta" assim que Donald Trump deixar o cargo, Biden foi aplaudido de pé na Conferência de Segurança de Munique por delegados que consideram difícil a tarefa de aceitar a postura brusca da política externa do atual presidente norte-americano.
Mas a exaltação também expôs o estado enfraquecido da diplomacia ocidental diante da assertividade de Trump, de acordo com diplomatas e políticos europeus que estavam presentes.
O sucessor de Biden, Mike Pence, foi recebido em silêncio durante recepção no palácio do parlamento bávaro na sexta-feira à noite, depois de ter feito sua declaração inicial: "Trago as saudações do 45º presidente dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump".
Sua viagem de quatro dias à Europa só conseguiu aprofundar as divisões com aliados tradicionais em questões como Irã e Venezuela e ofereceu poucas esperanças sobre como lidar com ameaças que vão desde armas nucleares até a mudança climática, disseram diplomatas e autoridades.
Dúvidas sobre o papel de Washington no mundo têm sido levantadas tanto por pessoas comuns como por especialistas em política externa. Na Alemanha e na França, metade da população vê o poder dos EUA como uma ameaça, uma forte alta frente a 2013 e uma visão compartilhada por 37 por cento dos britânicos, informou o Pew Research Center, com sede em Washington, em relatório divulgado antes do encontro em Munique.
Questionado sobre a ansiedade européia em relação ao estilo de liderança de Trump, um funcionário do alto escalão dos EUA no avião Air Force Two, de Pence, disse que o discurso do vice-presidente em Munique no sábado "ajudaria a dar a eles uma perspectiva diferente".
Mas se os europeus não gostam da mensagem "América Primeiro", eles também não possuem uma resposta a ela.
A chanceler alemã Angela Merkel ficou sozinha após um cancelamento de última hora do presidente francês Emmanuel Macron.
Isso levou alguns a lamentar o fracasso do Ocidente em sustentar a ordem internacional baseada em regras que os próprios EUA defenderam nos 70 anos que precederam a chegada de Trump à Casa Branca.
"Infelizmente, a lógica do 'olho por olho' tem prevalecido... Acho que isso nos leva de volta à questão de ter uma liderança esclarecida", disse Thomas Greminger, secretário-geral da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, uma entidade que supervisiona questões de segurança e direitos humanos.
"Precisamos novamente de líderes que não acreditem exclusivamente no curto prazo", disse ele à Reuters.
Coube à China ajudar Merkel na defesa da ordem pós-Segunda Guerra Mundial, com o principal diplomata chinês Yang Jiechi falando em mais de 20 minutos em um inglês perfeito sobre as virtudes do livre comércio e da cooperação global.
Já a mensagem de Pence foi, na verdade, de que os pilares da política externa dos EUA estão sendo reconstruídos sob novas bases: isolar o Irã, conter a China, levar as tropas norte-americanas de volta para casa e exigir que potências europeias entrem na linha.
(Por Robin Emmott e John Irish)