Um plano B para o fim do aquecimento global
Soluções mirabolantes de geoengenharia podem ser alternativas para esfriar o planeta
Talita Abrantes
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.
Em dezembro, o mundo vai discutir se a vida na Terra continuará nos próximos séculos. Isso mesmo: representantes de 192 países definirão metas e estratégias para reduzir o nível global de gás carbônico, durante a 15a Conferência das Partes sobre o Clima (COP 15), na Dinamarca. Com os índices atuais de emissão de CO2, acredita-se que a temperatura terrestre aumente 4°C até 2050. Nesse cenário pessimista, soluções mirabolantes de geoengenharia podem ser alternativas para esfriar o planeta.
Não é só papo de lunático. A corrente conta com o apoio de centros de renome como a NASA e a Royal Society, principal entidade científica do Reino Unido. "Se não desenvolvermos essas soluções agora, não teremos na hora em que precisarmos", afirma o astrônomo Roger Angel, professor da Universidade do Arizona. É dele a ideia de colocar milhões de espaçonaves cobertas com material reflexivo entre o Sol e a Terra, formando um guarda-sol de 100 mil quilômetros de comprimento. A estrutura seria capaz de bloquear 1,8% da luz solar, o suficiente para reverter os efeitos do aquecimento global num cenário um pouco pior que o atual. Mas o projeto recebe contestações. Em análise preliminar, a Royal Society alertou que o bloqueio poderia afetar o ciclo hidrológico de certas regiões. Além disso, o processo de lançamento das naves, a um custo estimado em 4 trilhões de dólares, liberaria CO2 e demoraria 25 anos.
Num contexto emergencial, com derretimento avançado das geleiras, por exemplo, seria preciso adotar alternativas viáveis a curto prazo. Propostas como espalhar milhões de toneladas de gás de dióxido de enxofre na estratosfera ou criar nuvens sobre os polos seriam mais indicadas. Além de prováveis impactos ambientais, o problema é que os projetos oferecem soluções paliativas para esfriamento momentâneo. "Com eles, o conserto é temporário, pois continuamos com o gás carbônico na atmosfera", diz Naomi Vaughan, pesquisadora da Universidade de East Anglia, na Inglaterra. Para resolver o impasse, é preciso adotar medidas de captura de CO2, como reflorestamento e fertilização dos oceanos profundos, onde há muitos nutrientes e pouca clorofila.
Os primeiros testes de fertilização dos oceanos, porém, não foram bem-sucedidos. Em março,umgrupo de cientistas despejou seis toneladas de ferro em uma área de 300 quilômetros quadrados do Atlântico Sul - sob protestos de ambientalistas. Em duas semanas, o número de algas dobrou. Mas a quantidade de criaturas marinhas que se alimentam do fitoplâncton também cresceu. Quase 40 dias depois, os índices de clorofila diminuíram, o cardume engordou e o sequestro de CO2 foi pífio.
Diante dos resultados controversos, a Royal Society divulgouumrelatório com argumentos para convencer o governo britânico a investir 10 bilhões de euros anuais em estudos da viabilidade técnica das propostas de geoengenharia. John Shepherd, coordenador da pesquisa, admitiu que os projetos podem trazer sérios efeitos para o ecossistema, mas afirmou: "a geoengenharia e suas consequências são o preço que teremos que pagar por falhar na ação sobre as mudanças climáticas".
Gambiarras para esfriar a Terra
Ideias que parecem malucas podem ser alternativas para reduzir os efeitos do aquecimento global
Salvem as florestas ...
...Para que elas sequestrem o gás carbônico do ambiente. As árvores absorvem o CO2 para realizar a fotossíntese e liberar oxigênio. Adeptos da biogeoengenharia defendem o plantio de espécies agrícolas capazes de refletir os raios do Sol.
Efetividade - Baixa
Custo - 20 dólares*
Segurança - Alta
Cidades refletoras
Clarear a arquitetura moderna é uma das soluções para aumentar a capacidade que a Terra tem de refletir a radiação. Vale pintar prédios e estradas de branco e usar materiais nanoestruturados nas construções.
Efetividade - Baixa
Custo - 20 dólares*
Segurança - Alta
Capa de aerossol
Balões lançariam gás de dióxido de enxofre na estratosfera, que forma ácido sulfúrico quando oxida. As partículas descem para a troposfera e se espalham nas nuvens. Em 1991, a erupção do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, expeliu 20 milhões de toneladas da substância, esfriando a Terra em meio grau.
Efetividade - Alta
Custo - Mais de 80 dólares*
Segurança - Baixa
Mar gaseificado
Que tal estocar CO2 nos oceanos? As medidas vão de criar blocos de gelo a incentivar a proliferação de plâncton. O projeto mais razoável prevê a fertilização dos mares em águas profundas com ferro. Outro, sugere espalhar nutrientes, bombeando a água do fundo do mar para a superfície.
Efetividade - Baixa
Custo - Entre 20 e 80 dólares*
Segurança - Baixo
Guarda-sol Gigante
Milhões de espaçonaves reflexivas de 1 metro de diâmetro bloqueariam 1,8% dos raios solares. Ficariam entre a Terra e o Sol, no ponto de Lagrange, onde as forças centrípeta e gravitacional permitem a posição constante do objeto. Juntas, pesariam 20 milhões de toneladas.
Efetividade - Alta
Custo - Mais de 80 dólares*
Segurança - Média
Fábrica de nuvens
O degelo das calotas polares no verão dos polos preocupa os cientistas. Cinquenta embarcações não tripuladas tornarão os céus da Antártica e do Polo Norte mais nublados. A um volume de 10 litros por segundo, os barcos pulverizarão a água do mar para criar nuvens.
Efetividade - Médio
Custo - Entre 20 e 80 dólares*
Segurança - Baixa
*Por tonelada de carbono sequestrado
Fontes: Centro Moss landing marine, Instituto Max Planck, Universidade do arizona, Universidade de Bristol, universidade de Edimburgo, royal society.