Combatentes peshmerga na linha de frente, na cidade iraquiana de Erbil (Safin Hamed/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2014 às 16h16.
Erbil - Com bebidas energéticas, smartphones, jeans e camisetas, os jovens peshmergas, que travam uma luta feroz com os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI), estão longe do velho clichê dos combatentes das montanhas curdas.
Quase esquecidos desde os anos 1990 e o fim das insurreições contra Bagdá, os peshmergas, "aqueles que não temem a morte", continuam a ser a imagem um pouco desatualizada dos montanhistas ferozes que conduziam uma guerra de guerrilha, com kalashnikov na mão.
Mas a ofensiva lançada no Iraque no início de junho pelo EI fez com que toda uma nova geração voltasse a vestir o uniforme cáqui. Mas esses novos combatentes que transmitem uma imagem muito diferente: são modernos, urbanos, e principalmente antenados com as novas tecnologias.
Muitos cresceram na cidade, neste Curdistão em pleno "boom" econômico, que conhece há vários anos um crescimento de mais de 10%. Eles conversam pelo Facebook, Viber ou WhatsApp. Muitas vezes experimentaram a guerra através de jogos de videogame - embora muitos tenham aprendido a atirar com a velha kalashnikov da família.
Em Erbil, de volta do front, eles trocam o uniforme militar por um outro, urbano, e quando saem à noite, e deixam no carro seu rifle de assalto. Ao retornar para a guerra, guardam seu smartphone no bolso do colete à prova de balas.
"É a globalização, é um novo mundo e temos de nos adaptar", comenta o general peshmerga Sirwan Barzani.
"Os jovens de hoje, eles têm tudo: a tecnologia, smartphones, aplicativos... Eu vi um ontem, no front, que tinha um Iphone 6", diverte-se.
Os mais velhos são mais fortes
Na guerra contra o EI, as gerações vivem juntas. Idosos em trajes tradicionais - túnica marrom com fenda até a cintura e cinto largo de pano -, os mais novos com boné, óculos escuros e smartphones. "Você tem Facebook?", perguntam aos visitantes ocasionais.
Nos arredores de Gwer, localidade retomada em meados de agosto, Mohammed, de 19 anos, reconhece que "os mais velhos são mais fortes do que nós".
"Mesmo sendo velhos, eles são mais resistentes, e eles conhecem técnicas que não temos", acrescenta.
"Mesmo treinando e passando um monte de informações para eles, os jovens ainda precisam de um combatente experiente com eles", ressalta Rashid Yasin Rashid Muzuri, de 63 anos, quase 50 como peshmerga.
"A vida é diferente agora. Os jovens de hoje têm tudo", diz. "No nosso tempo, recebíamos um só pedaço de pão e tínhamos que ficar em pé a semana inteira. Hoje, os jovens, quando eles vão para o front, precisam de comida de verdade."
Mas a guerra também mudou. "Antes lutávamos nas montanhas", relata Khaled, de 74 anos. "Agora o combate acontece em terreno plano, é muito mais difícil: O inimigo está na frente de você, você não pode se esconder".
"E, no nosso tempo, combatíamos em igualdade de condições com o exército iraquiano", acrescenta. "Este não é o caso hoje contra o EI", que apreendeu no início de sua ofensiva armas poderosas fornecidas por Washington para o exército iraquiano.
Status social
Além da responsabilidade, da honra, da defesa da pátria, uma ideia toma conta dos jovens combatentes: ser peshmerga representa ter o acesso a um certo status social, uma respeitabilidade.
"Aconteceu de ter sido detido pela polícia depois de uma infração de carro. Quando viram meus documentos militares de peshmerga, eles me deixaram ir", se vangloria um jovem combatente.
Mas estereotipado, este prestígio, de acordo com os antigos peshmergas, tem fundamento. "Mesmo que estes jovens têm a doce vida, eles são corajosos", admite Rashid.
Khaled tem apenas um conselho para os "novatos": "defenda sempre a nossa terra e nosso povo". E acrescenta: "Não pare de lutar até que suas mãos estejam vermelhas com o sangue do inimigo."