Pentágono investiga queda de mísseis russos que mataram 2 na Polônia; país é membro da Otan
O porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder, disse que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos está "ciente" de relatos não confirmados de que mísseis russos atingiram a Polônia
AFP
Publicado em 15 de novembro de 2022 às 17h23.
Última atualização em 15 de novembro de 2022 às 18h19.
O porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder, disse que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos está "ciente" de relatos não confirmados de que mísseis russos atingiram a Polônia.
"Posso dizer que não temos nenhuma informação neste momento para corroborar esses relatórios e estamos investigando isso mais a fundo", afirmou a autoridade em vídeo compartilhado pela rede ABC News no Twitter.
Segundo a Associated Press, um alto funcionário da inteligência dos EUA disse que mísseis russos atravessaram a Polônia, país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e provocaram a morte de duas pessoas.
O porta-voz do governo polonês Piotr Mueller não confirmou imediatamente a informação, mas disse que os principais líderes estavam em reunião de emergência devido a uma "situação de crise".
O míssil na fronteira da Polônia coincidiu com o disparo de uma série de mísseis da Rússia contra Kiev e outras cidades ucranianas nesta terça-feira, 15, deixando metade da população da capital sem energia, poucos dias depois da humilhante retirada das forças de Moscou do sul do país.
É a primeira vez desde o início da guerra na Ucrânia que um míssil atinge um país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
A mídia polonesa informou que duas pessoas morreram na tarde desta terça-feira após um projétil atingir uma área de plantação de grãos na cidade de Przewodów, um vilarejo próximo da fronteira com a Ucrânia.
Onde foram os disparos
Segundo o Exército ucraniano, a Rússia lançou uma centena de mísseis, "do Mar Cáspio", da "região [ russa ] de Rostov" e "do Mar Negro", principalmente "contra infraestruturas energéticas".
A presidência ucraniana afirmou que a situação da rede elétrica em todo o país é “crítica”. Alguns dos principais problemas:
- Em Kiev, os ataques deixaram pelo menos um morto e privaram "metade" dos habitantes de eletricidade, disse o prefeito, Vitali Klitschko, no Telegram.
- Sirenes antiaéreas soaram em toda a Ucrânia pouco antes das 15h30 (10h30 em Brasília). Minutos depois, explosões foram ouvidas em Kiev, Lviv (oeste) e Kharkiv (nordeste).
- No nordeste, houve "um ataque com mísseis no distrito industrial de Kharkiv", disse Igor Terekhov, prefeito da segunda maior cidade da Ucrânia.
- No oeste, explosões foram ouvidas em Lviv. "Que todos fiquem seguros", pediu o prefeito, Andriy Sadovi, no Telegram, acrescentando que "parte da cidade [ estava ] sem eletricidade".
Os últimos bombardeios contra a capital ucraniana datam de 10 e 17 de outubro e tiveram como alvo a infraestrutura de energia no início do inverno.
O Kremlin alegou então que se tratava de uma retaliação pela destruição parcial da ponte que ligava a Rússia à península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
A Moldávia, que também faz fronteira com a Ucrânia, relatou problemas que podem ter sido causados por mísseis.
O país está com grandes interrupções de energia depois que ataques derrubaram uma importante linha de energia que abastece a população, segundo uma autoridade.
Os incidentes coincidem com um novo bombardeio russo em uma dezena de cidades ucranianas, de leste a oeste, incluindo Kiev. Segundo as autoridades ucranianas, os ataques foram dirigidos às infraestruturas de energia e mais de 7 milhões de ucranianos estão sem luz.
O presidente ucraniano, Volodmir Zelensky, informou que cerca de 85 mísseis foram disparados no país. "Estamos trabalhando, vamos restaurar tudo. Vamos sobreviver a tudo", disse.
O ministro da Energia da Ucrânia, Herman Haluschenko, classificou o ataque como o mais massivo a infraestruturas desde o início da guerra e como uma resposta "vingativa" da Rússia às perdas no campo de batalha, referindo-se a retirada de Kherson na semana passada. "[ A Rússia ] tenta causar o máximo de danos ao nosso sistema de energia na véspera do inverno", declarou.
A rede elétrica ucraniana já foi atingida por ataques anteriores que destruíram cerca de 40% da infraestrutura energética do país.
Como foi a retirada russa
Estes ataques ocorreram quatro dias após a humilhante retirada das forças russas da região de Kherson, incluindo a capital regional de mesmo nome, após quase nove meses de ocupação.
O Kremlin foi forçado a se retirar por uma contraofensiva ucraniana, apoiada pelo fornecimento de armas ocidentais.
A Rússia já teve de se retirar do norte do país há alguns meses e depois do nordeste, em setembro.
Após a libertação de Kherson, na margem ocidental do Dnieper, a contraofensiva concentrou os seus ataques em Nova Kakhovka, na margem oriental, com fogo de "artilharia pesada e morteiros", segundo a administração da ocupação russa. ]
“A vida na cidade tornou-se perigosa”, acrescentou, assegurando que “milhares” de residentes partiram.
O que a Ucrânia pediu ao G20
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu que a cúpula do G20, potências industrializadas e emergentes reunidas em Bali, se pronuncie sobre os atentados russos.
"Edifícios habitacionais e instalações de infraestrutura de energia foram impactados. Estamos esperando uma reação baseada em princípios da cúpula do G20", tuitou Kuleba.
O apelo foi logo apoiado pela Presidência dos Estados Unidos, que tinha como alvo o presidente russo, Vladimir Putin.
"A Rússia está mais uma vez ameaçando essas vidas e destruindo a infraestrutura crítica da Ucrânia. Esses ataques russos servirão apenas para aprofundar a preocupação entre o G20 sobre o impacto desestabilizador da guerra de Putin", disse o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.
O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, que representou seu país na reunião do G20, acusou a Ucrânia de impedir as negociações de paz ao exigir que as tropas russas deixem todo o território, onde a Rússia controla grandes porções do leste, em grande parte de falantes de russo, há oito anos.
"Todos os problemas vêm do lado ucraniano, que rejeita categoricamente as negociações e avança com demandas manifestamente irrealistas", afirmou.