Paz: a prioridade menos popular da agenda israelense
Reatamento do processo de paz com palestinos e as perspectivas de resolver o conflito do Oriente Médio quase não têm espaço na agenda eleitoral israelense
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2015 às 22h26.
Jerusalém - O reatamento do processo de paz com os palestinos e as perspectivas de resolver o eterno conflito do Oriente Médio quase não têm espaço na agenda eleitoral israelense, dominada pelo Irã e por questões de segurança e socioeconômicas.
Trata-se de uma tendência que se intensifica ano a ano, mas no pleito do próximo dia 17 e a julgar pelos principais slogans de campanha, o dilatado conflito com os palestinos definitivamente não é uma questão de interesse.
A oposição decidiu atacar Benjamin Netanyahu por sua má gestão em relação ao elevado preço dos imóveis, corrupções na residência governamental e o choque diplomático com os Estados Unidos por conta do programa nuclear iraniano.
"Uma palavra tão positiva quanto "paz" se transformou em um insulto para inocentes e frágeis", explicou a ex-ministra Tzipi Livni, que participará do pleito como companheira de chapa do líder do Partido Trabalhista, Isaac Herzog.
Paradoxalmente, nessa plataforma conjunta, o termo "paz" desapareceu do léxico eleitoral e se tornou eufemismo de "processo diplomático" para fazer referência às conversas de paz. Isso no partido mais à esquerda, para não citar os mais à direita.
Por sua vez, o primeiro-ministro israelense tenta conseguir seu terceiro mandato consecutivo passando com bastante delicadeza pela questão palestina, se erguendo como único líder capaz de fazer frente aos múltiplos desafios que Israel enfrenta em matéria de segurança. No entanto, membros de seu partido, o conservador Likud, revelaram que Netanyahu considera hoje "simplesmente irrelevante" a ideia favorável de um Estado palestino ao lado de Israel.
Recentemente, seu governo negou categoricamente as informações sobre ele ter aceitado o retorno às fronteiras de 1967 em negociações secretas com os palestinos em meados de 2013, presumivelmente para evitar a perda de votos entre seu eleitorado mais nacionalista. Pelo contrário, o programa nuclear iraniano e seu recente discurso perante o Congresso americano parecem dar a ele certa vantagem eleitoral, segundo diferentes analistas.
Em 2009, Netanyahu anunciou seu apoio ao estabelecimento de um Estado palestino sob algumas condições, mas desde então todos os esforços de negociação impulsionados por Washington seguiram o mesmo padrão: o do fracasso. Os palestinos rejeitam boa parte de suas condições, considerando inaceitável, por exemplo, manter tropas no Vale do Jordão ou o reconhecimento de Israel como lar do povo judeu.
Em paralelo, no governo de Netanyahu aumentou a expansão de assentamentos judaicos, já que o próprio aspirante apresenta como um de suas conquistas durante a campanha.
Talvez ciente de que uma futura coalizão direitista será tudo, menos favorável a retomar o diálogo de paz, Netanyahu quase não deu pistas sobre como atuará no caso de revalidar o cargo ou se seguirá como até agora, ou seja, se esquivando da questão.
Um de seus possíveis parceiros, o líder do partido Lar Judaico, Naftali Bennett, segundo as pesquisas a terceira maior força política na próxima legislatura, não esconde sua rejeição a criação de um Estado palestino.
"Me oponho a um Estado palestino a oeste do Rio Jordão. Não estou buscando a paz, mas a calma, e há uma grande diferença porque é uma fórmula totalmente diferente", advertiu.
Seu ideário não é diferente do de Avigdor Lieberman, líder do direitista Israel é o Nosso Lar, antes aliado do Likud, que defende a redefinição das fronteiras do país para deixar do lado palestino a maior parte da população árabe contígua com a Cisjordânia.
Diante deste panorama, o dirigente trabalhista parece ser a única voz a falar abertamente sobre retomar o diálogo.
"Tentarei reavivar o processo com nossos vizinhos palestinos a partir de uma plataforma regional", disse recentemente Herzog à imprensa estrangeira, apesar de em sua plataforma eleitoral a questão não figurar entre suas grandes promessas.
Contudo, ele criticou Netanyahu pelo cessar-fogo alcançado com o Hamas em Gaza em 2014, e insiste que não negociará com o grupo islamita.
As únicas legendas que falam alto e claro sobre a necessidade da paz com os palestinos são os membros do esquerdista Meretz e os partidos árabes, que pela primeira vez concorrem unidos e descartam fazer parte de um governo israelense até que termine a ocupação.
Jerusalém - O reatamento do processo de paz com os palestinos e as perspectivas de resolver o eterno conflito do Oriente Médio quase não têm espaço na agenda eleitoral israelense, dominada pelo Irã e por questões de segurança e socioeconômicas.
Trata-se de uma tendência que se intensifica ano a ano, mas no pleito do próximo dia 17 e a julgar pelos principais slogans de campanha, o dilatado conflito com os palestinos definitivamente não é uma questão de interesse.
A oposição decidiu atacar Benjamin Netanyahu por sua má gestão em relação ao elevado preço dos imóveis, corrupções na residência governamental e o choque diplomático com os Estados Unidos por conta do programa nuclear iraniano.
"Uma palavra tão positiva quanto "paz" se transformou em um insulto para inocentes e frágeis", explicou a ex-ministra Tzipi Livni, que participará do pleito como companheira de chapa do líder do Partido Trabalhista, Isaac Herzog.
Paradoxalmente, nessa plataforma conjunta, o termo "paz" desapareceu do léxico eleitoral e se tornou eufemismo de "processo diplomático" para fazer referência às conversas de paz. Isso no partido mais à esquerda, para não citar os mais à direita.
Por sua vez, o primeiro-ministro israelense tenta conseguir seu terceiro mandato consecutivo passando com bastante delicadeza pela questão palestina, se erguendo como único líder capaz de fazer frente aos múltiplos desafios que Israel enfrenta em matéria de segurança. No entanto, membros de seu partido, o conservador Likud, revelaram que Netanyahu considera hoje "simplesmente irrelevante" a ideia favorável de um Estado palestino ao lado de Israel.
Recentemente, seu governo negou categoricamente as informações sobre ele ter aceitado o retorno às fronteiras de 1967 em negociações secretas com os palestinos em meados de 2013, presumivelmente para evitar a perda de votos entre seu eleitorado mais nacionalista. Pelo contrário, o programa nuclear iraniano e seu recente discurso perante o Congresso americano parecem dar a ele certa vantagem eleitoral, segundo diferentes analistas.
Em 2009, Netanyahu anunciou seu apoio ao estabelecimento de um Estado palestino sob algumas condições, mas desde então todos os esforços de negociação impulsionados por Washington seguiram o mesmo padrão: o do fracasso. Os palestinos rejeitam boa parte de suas condições, considerando inaceitável, por exemplo, manter tropas no Vale do Jordão ou o reconhecimento de Israel como lar do povo judeu.
Em paralelo, no governo de Netanyahu aumentou a expansão de assentamentos judaicos, já que o próprio aspirante apresenta como um de suas conquistas durante a campanha.
Talvez ciente de que uma futura coalizão direitista será tudo, menos favorável a retomar o diálogo de paz, Netanyahu quase não deu pistas sobre como atuará no caso de revalidar o cargo ou se seguirá como até agora, ou seja, se esquivando da questão.
Um de seus possíveis parceiros, o líder do partido Lar Judaico, Naftali Bennett, segundo as pesquisas a terceira maior força política na próxima legislatura, não esconde sua rejeição a criação de um Estado palestino.
"Me oponho a um Estado palestino a oeste do Rio Jordão. Não estou buscando a paz, mas a calma, e há uma grande diferença porque é uma fórmula totalmente diferente", advertiu.
Seu ideário não é diferente do de Avigdor Lieberman, líder do direitista Israel é o Nosso Lar, antes aliado do Likud, que defende a redefinição das fronteiras do país para deixar do lado palestino a maior parte da população árabe contígua com a Cisjordânia.
Diante deste panorama, o dirigente trabalhista parece ser a única voz a falar abertamente sobre retomar o diálogo.
"Tentarei reavivar o processo com nossos vizinhos palestinos a partir de uma plataforma regional", disse recentemente Herzog à imprensa estrangeira, apesar de em sua plataforma eleitoral a questão não figurar entre suas grandes promessas.
Contudo, ele criticou Netanyahu pelo cessar-fogo alcançado com o Hamas em Gaza em 2014, e insiste que não negociará com o grupo islamita.
As únicas legendas que falam alto e claro sobre a necessidade da paz com os palestinos são os membros do esquerdista Meretz e os partidos árabes, que pela primeira vez concorrem unidos e descartam fazer parte de um governo israelense até que termine a ocupação.