Papa dá discurso histórico no Congresso americano: "Sabemos que nenhuma religião está imune a formas de delírio individuais ou extremismo ideológico" (Reuters / Kevin Lamarque)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2015 às 13h57.
O Papa Francisco pediu nesta quinta-feira, em seu histórico discurso ante o Congresso dos Estados Unidos, uma vigilância global contra o fundamentalismo de todos os tipos, mas alertou para o "equilíbrio delicado" entre lutar contra extremistas e preservar as liberdades religiosas.
"Sabemos que nenhuma religião está imune a formas de delírio individuais ou extremismo ideológico. Isso significa que devemos ficar especialmente atentos a qualquer tipo de fundamentalismo, seja religioso ou de qualquer outro tipo", afirmou o Papa ante os congressistas reunidos nas duas câmaras.
"Um delicado equilíbrio é necessário para combater a violência cometida em nome de uma religião, de uma ideologia ou de um sistema econômico, enquanto também devemos salvaguardar as liberdades religiosas, intelectuais e individuais", afirmou ainda.
O papa Francisco recordou o líder dos direitos civis americano Martin Luther King, afirmando que seus sonhos inspiram a todos.
"A marcha com Martin Luther King de Selma a Montgomery há 50 anos foi parte da campanha para alcançar seus sonhos de direitos civis e políticos plenos para os afro-americanos. Esse sonho continua a inspirar a todos nós. Estou feliz de que a América continue a ser, para muito, a terra dos 'sonhos'", declarou.
Francisco destacou ainda a crise dos refugiados atual, sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial, e o drama dos imigrantes no continente americano, que representam "grandes desafios e decisões difíceis".
Para o papa argentino, é necessário não se deixar "intimidar pelos números" e adotar uma resposta que seja "justa e fraterna", de forma a adotar a norma de "tratar os outros com a mesma paixão e compaixão com que queremos ser tratados".
A respeito da pena de morte, Francisco reiterou sua forte oposição e defendeu a abolição desse tipo de punição em termos globais.
"A certeza" de que temos de custodiar e defender a vida humana em todas as etapas de seu desenvolvimento (...) me levou, desde o início de meu ministério, a trabalhar em diferentes níveis para pedir a abolição mundial da pena de morte.
Estou convicto de que esse é o melhor modo, já que toda vida é sagrada", enfatizou ante os representantes de um país que pratica várias execuções ao ano.
Francisco também lançou um dramático apelo para que sejam adotadas ações corajosas para desenvolver estratégias de combate à mudança climática, tema de uma encíclica que publicou este ano.
"Estou convicto de que podemos fazer a diferença e não tenho dúvida alguma de que os Estados Unidos e este Congresso terão um papel importante", afirmou, referindo-se ao que denominou "cultura do cuidado".
Principal mediador das negociações de reaproximação dos Estados Unidos e de Cuba, Francisco elogiou a "coragem e ousadia" dos dois ex-adversários de retomar o diálogo, e referiu-se à recente abertura entre Washington e seu também antigo adversário, o Irã.
"Quando países enfrentam desafios para retomar o diálogo - um diálogo que pode ter sido interrompido pelas mais legítimas razões -, novas oportunidades se abrem para todos", destacou.
"Um bom líder político deve sempre optar por iniciar processos e não se apropriar de espaços", disse.
Francisco também falou sobre a família, uma instituição que, segundo ele, está sob ameaça.
"A família foi essencial para construir esse país. E merece todo nosso apoio e encorajamento. Mesmo assim, não oculto minhas preocupações quanto à família, que está ameaçada, talvez como nunca antes, do lado de dentro e do lado de fora", afirmou, em um comentário que deve ter agradado os legisladores republicanos contrários à recente decisão da Suprema Corte de legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em sua entrada e no encerramento de seu discurso, Francisco foi aplaudido de pé pelos legisladores republicanos e democratas das duas casas do Congresso americano.