Otan vê risco de conflito na Ucrânia após nova reunião com a Rússia
Stoltenberg sugeriu que não há solução para o impasse sobre a principal demanda da Rússia: que a Otan pare de avançar na direção de ex-repúblicas soviéticas
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de janeiro de 2022 às 09h17.
Última atualização em 13 de janeiro de 2022 às 09h29.
Uma nova reunião entre Otan e Rússia sobre a crise na Ucrânia - a segunda na mesma semana - terminou nesta quarta-feira, 12, sem acordo. "Há diferenças que não serão fáceis de acomodar. E há um risco real de conflito armado na Europa", disse Jens Stoltenberg secretário-geral da aliança atlântica. Apesar do tom sombrio, ele disse que "é um sinal positivo" que todos estejam negociando.
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Stoltenberg sugeriu que não há solução para o impasse sobre a principal demanda da Rússia: que a Otan pare de avançar na direção de ex-repúblicas soviéticas. Mas governos da aliança militar, incluindo os EUA, já disseram que essa exigência é inaceitável. Para Stoltenberg, a Ucrânia tem o direito de decidir seu futuro e a Otan deixará sempre a porta aberta para novos membros.
Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, alertou que a Rússia espera uma resposta rápida. A negociadora americana, Wendy Sherman, no entanto, afirmou que "se os russos deixarem a mesa de negociação, ficará claro que eles nunca foram sérios nas suas intenções".
Desde 2019, não havia um encontro do chamado Conselho Otan-Rússia, criado há duas décadas. As relações entre os dois lados sofreram um abalo quando a Rússia anexou a Península da Crimeia, em 2014. Além do encontro de ontem, diplomatas americanos e russos se reuniram na segunda-feira, em Genebra, e voltarão a se encontrar hoje, em Viena, no fórum da Organização de Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) - desta vez com a presença dos ucranianos.
Objetivos
As negociações diplomáticas pretendem reduzir a tensão criada com a mobilização de 100 mil soldados russos na fronteira com a Ucrânia, o que aumentou os temores de uma operação militar. O presidente russo, Vladimir Putin, nega intenção de atacar, mas vem criando um clima de guerra, mesmo diante das ameaças de sanções de EUA e União Europeia.
"Discussões estratégicas são melhores do que a guerra e podem alcançar melhores resultados", afirmou Sam Greene, diretor do Instituto Russo do King's College, de Londres. "É possível que essas posições mudem com o tempo? Sim. E é por isso que conversamos."
Os dois lados, porém, parecem entrincheirados. A embaixadora dos EUA na Otan, Julianne Smith, disse ontem que admitir Ucrânia e Geórgia na Otan era uma questão de tempo e descartou as exigências da Rússia. O Kremlin respondeu que as ameaças dos EUA são inúteis. "Não damos ultimatos", disse Peskov.
Para o embaixador russo em Washington, Anatoli Antonov, os EUA deveriam abandonar sua "retórica agressiva de expansão". Assim, Moscou vem aumentando a pressão na Ucrânia, ampliando a sensação de crise por meio de movimentos militares, acusações de agressão ocidental e supostas provocações contra a Rússia.
Expansão
As queixas de Putin remontam a 1997, quando a Otan iniciou uma série de expansões ao aceitar como membros da aliança países que fizeram parte do Pacto de Varsóvia e ex-repúblicas soviéticas, dando à Rússia a sensação de estar sendo cercada por forças hostis.
Há mais de dez anos, Putin cita a implementação de um sistema de defesa de mísseis da Otan na Romênia e na Polônia como uma ameaça à Rússia. No mês passado, o Kremlin divulgou uma lista de exigências por escrito, incluindo um pedido para a remoção de toda a infraestrutura militar da aliança atlântica instalada nos países do Leste Europeu após 1997, uma tentativa de recuperar a influência russa em parte do espaço soviético perdido nos anos 90.