Masculinidade tóxica: comportamentos "machistas" contribuem para maiores taxas de mortalidade por suicídio, homicídio, vícios e acidentes de trânsito (Eyem/Getty Images)
AFP
Publicado em 19 de novembro de 2019 às 06h48.
Última atualização em 19 de novembro de 2019 às 06h48.
A "masculinidade tóxica" reduz expectativa de vida de homens na América, indica um estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS) publicado nesta segunda-feira (18), às vésperas do Dia Internacional do Homem.
Em todo o continente, os homens vivem 5,8 anos a menos que as mulheres devido a comportamentos associados às expectativas sociais de seu gênero, afirma a OPS em seu novo relatório "Masculinidades e saúde na Região das Américas".
"Existe uma estreita relação entre masculinidade e saúde. Os papéis, normas e práticas impostas socialmente aos homens exigem ou reforçam sua falta de autocuidado e até negligenciam sua própria saúde física e mental", aponta o relatório.
A identidade de gênero se reflete em problemas diários específicos, como a adoção de riscos ocupacionais ou de direção, o sexo desprotegido, o consumo excessivo de álcool ou a falta de ajuda em face de distúrbios emocionais.
Esses comportamentos "machistas" contribuem para maiores taxas de mortalidade por suicídio, homicídio, vícios e acidentes de trânsito, além de doenças não transmissíveis, dizem os especialistas.
Segundo o relatório, um em cada cinco homens na região morre antes dos 50 anos, um número que eles consideram "alarmante". No caso das mulheres, esse percentual só é alcançado quando completam 60 anos.
Homens e mulheres morrem de forma semelhante por problemas respiratórios e diabetes. Mas existem causas importantes de morte relacionadas à maneira como a masculinidade é exercida: violência interpessoal (na qual se destacam os homicídios, à taxa de sete homens por mulher), trauma devido ao trânsito (três por um) e cirrose hepática causada pelo álcool, que é duas vezes maior entre os homens do que entre as mulheres.
Os homens morrem nas Américas principalmente devido a doenças cardíacas, violência interpessoal e trauma devido ao trânsito, mas outras causas de morte surgem predominantemente dependendo da área.
No Caribe, destaca-se a Aids, enquanto no caso latino-americano há mais cirrose hepática e violência interpessoal, e na América do Norte se destacam a doença de Alzheimer e outras demências, além de suicídio e câncer de próstata, cólon e reto.
A discriminação com base na idade, etnia, pobreza, tipo de emprego e sexualidade agrava ainda mais esses resultados negativos para a saúde dos homens, segundo o relatório.
A população LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis e transexuais), bem como os afrodescendentes e os indígenas apresentam mais problemas de saúde do que o restante da população. Esses homens morrem mais e têm uma menor expectativa de vida.
O estudo enfatiza que essa análise da saúde masculina na perspectiva de gênero seria "impensável" sem o antecedente do feminismo e exige "mobilizar a vontade política e os recursos necessários" para contemplar as necessidades de homens e mulheres.
"O termo gênero foi assumido como sinônimo de 'mulher'. As masculinidades tornaram-se invisíveis ou naturalizadas, e as diferenças e desigualdades entre ambos os sexos e em cada um deles não foram abordadas", alerta.
Algumas das recomendações incluem melhorar a divulgação de dados, desenvolver políticas públicas e programas específicos de saúde, remover barreiras ao acesso aos cuidados, promover educação em saúde, capacitar trabalhadores do setor e direcionar a prevenção para crianças e jovens.