O partido republicano
Thiago Lavado O candidato republicano à presidência, Donald Trump, é um fenômeno disruptivo nas eleições deste ano. Homem de negócios, externo à política e com pouca conexão com outros republicanos, é o primeiro candidato do partido desde o general Dwight Eisenhower, que comandou o país durante a década de 1950 e nunca havia tido um […]
Da Redação
Publicado em 22 de julho de 2016 às 16h10.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h43.
Thiago Lavado
O candidato republicano à presidência, Donald Trump, é um fenômeno disruptivo nas eleições deste ano. Homem de negócios, externo à política e com pouca conexão com outros republicanos, é o primeiro candidato do partido desde o general Dwight Eisenhower, que comandou o país durante a década de 1950 e nunca havia tido um cargo eletivo antes da presidência. Sua vitória é essencial para manter a integridade de um partido que passa por uma guinada em direção ao conservadorismo tóxico e pouco crítico, como mostrou a última convenção, e grandes disputas internas. Caso os republicanos percam novamente a presidência e a maioria no Senado, pode significar que o partido precise de uma reestruturação urgente.
Em um país profundamente marcado pelo bipartidarismo e com alguns estados como redutos tradicionais de um partido ou de outro, a realidade por lá é que a identificação partidária transcende os pré-conceitos de direita e esquerda ou de conservador e progressista. Essa tradicional dualidade entre republicanos e democratas não abre espaço para o surgimento de novos partidos, mas para a transformação interna e para o surgimento de vários grupos disputando protagonismo dentro de cada sigla.
As raízes republicanas
O Partido Republicano, conhecido como Grand Old Party (GOP), é um dos partidos políticos mais antigos em atividade no mundo. Surgiu em 1854 no norte dos Estados Unidos, numa escola em Ripon, Wisconsin, quando alguns ativistas anti-escravidão se reuniram para reclamar terras para assentados. O nome é remanescente do Partido Democrata-Republicano, criado no final do século XVIII por Thomas Jefferson, ex-presidente e um dos “pais fundadores dos Estados Unidos”. A plataforma inicial era principalmente focada na igualdade para os indivíduos.
O partido tem na sua origem um histórico de apoiar princípios de liberdade e igualdade, partindo do pressuposto de que decisões individuais eram melhor do que decisões governamentais e que todas as pessoas detinham igualdade de direitos.
Dois anos depois de criado, ganhou relevância nacional ao lançar o explorador John Fremont para a presidência dos Estados Unidos sob o slogan “Terra livre, trabalho livre, discurso livre, homens livres, Fremont”. Naquela época, o cenário político era dominado pelos Democratas, que existiam desde 1828, e pelos Whigs, partido que deixou de existir nos anos 1850, mas Fremont conseguiu uma votação substancial, levando 33% dos votos. Quatro anos depois, Abraham Lincoln se tornaria o primeiro presidente republicano a entrar na Casa Branca.
Os republicanos foram os primeiros a apoiar politicamente a abolição da escravidão. Durante a guerra-civil norte-americana, Lincoln assinou a Proclamação da Emancipação em 1862, que libertou os escravos. Depois, os políticos do partido lutaram para passar as 13ª, 14ª e 15ª emendas, que positivaram direitos civis e eleitorais aos afroamericanos. Apesar da aprovação dessas emendas constitucionais, o racismo com eleitores negros continuou nos estados que eram privados de seu direito ao voto por constituições estaduais que estabeleciam fatores de renda e alfabetização para os votos, principalmente nos estados do sul. Essa questão seria solucionada mais tarde com o Ato de Direitos Civis, aprovado em 1964.
Em 1896 os republicanos foram o primeiro grande partido a apoiar o sufrágio universal. Quando a emenda que estabelecia o direito de voto para as mulheres foi adicionada à constituição, 26 dos 36 estados que aprovaram a lei estavam sob comando do partido. A primeira mulher eleita para o congresso nos Estados Unidos também era republicana, Jeanette Rankin, em 1917.
Segundo a diretora do departamento de ciência política da Universidade Brown, Wendy Schiller, durante os primeiros 100 anos, até a década de 50, o partido se concentrava nos estados do norte, meio-oeste e oeste e tinha uma pauta mais voltada para a defesa da indústria nacional, abolição da escravidão e de leis discriminatórias no sul (conhecidas como Leis Jim Crow), e da construção de grandes negócios. “A partir dos anos 1960, o Partido Republicano passou a se tornar mais conservador, especialmente quanto a questões como direitos civis e eleitorais, e integração em habitação e educação”, afirma Schiller.
Na década de 1980 com Ronald Reagan na presidência, esse conservadorismo frente a questões sociais passaram a fazer parte da realidade dos republicanos, como a oposição ao aborto e, mais tarde, ao casamento de homossexuais. “O partido também passou a dar mais suporte para a globalização, já que era algo que os grandes empresários defendiam”, explica Schiller. A partir de então , houve uma mudança na política geográfica norte-americana — o apoio aos republicanos foi do norte para o sul, embora tenham mantido os estados mais agrícolas e as regiões montanhosas.
Realidade atual
“Hoje o Partido Republicano é mais conservador do que nunca, mais evangélico, majoritariamente branco e com forte viés anti-imigração. Também é composto por americanos mais velhos, acima de 55 anos, e tem pouco suporte em comunidades afroamericanas e latinas”, afirma Schiller. Esse quadro se agravou com a atuação da ala conservadora conhecida como Tea Party, um grupo político influente que defende a redução dos gastos do governo, dos impostos e aumento do conservadorismo social, principalmente desde 2008, quando Barack Obama esteve à frente da presidência.
Ainda de acordo com a cientista política Wendy Schiller, é também possível identificar que os membros do partido se dividem entre aqueles que querem focar em questões sociais conservadoras e estado mínimo, e aqueles que são mais moderados em questões sociais, mas defendem leis monopolistas nos negócios e concentração de renda.
O Partido Republicano tem, desde 1874, o elefante como símbolo. Naquele ano, os democratas tentaram convencer a mídia e o eleitorado de que o presidente republicano Ulysses Grant tentaria concorrer a um terceiro mandato, algo até então sem precedentes. O cartunista Thomas Nast estampou um desenho de um burro vestido de leão, que seria o Partido Democrata, tentando assustar o elefante republicano. Ambos os símbolos pegaram. Só fica a dúvida se hoje, 140 anos depois, o Partido Republicano ainda é tão imponente quanto um elefante.