O massacre da Praça da Paz Celestial, 25 anos depois
Em 4 de junho de 1989, centenas de chineses que protestavam na Praça Tiananmen foram massacrados pelo exército chinês
Guilherme Dearo
Publicado em 4 de junho de 2014 às 13h36.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h10.
São Paulo - Em 4 de junho de 1989, o governo chinês decretou lei marcial e mandou suas tropas às ruas. O motivo: acabar de vez com uma manifestação sem precedentes, que já durava dois meses. Cerca de um milhão de manifestantes se reuniam na Praça Tian'anmen - a Praça da Paz Celestial, em Pequim . Uma parte, formada por intelectuais, manifestava contra um governo corrupto e repressivo. Outra grande massa, de trabalhadores e "pessoas comuns", estava insatisfeita com as promessas econômicas não cumpridas pelo regime. O resultado do uso da força para acabar com as maiores manifestações que o governo comunista chinês já vira: centenas (ou milhares) de mortos, além de milhares de feridos. Líderes estudantis acabaram presos por anos. Um famoso ativista à época, Liu Xiaobo, por exemplo, que participou dos protestos, continuou sob o radar do governo chinês. Acabou preso em 2009 por "subversão contra o Estado". Em 2010, ganhou o Nobel da Paz , mesmo na cadeia. 25 anos passados, o governo chinês finje que nada aconteceu. O tema não é ensinado nas escolas. Não há livros e sites sobre o ocorrido. Mas o povo não se esqueceu. Muito menos os familiares e amigos das vítimas, tampouco os manifestantes encarcerados. Veja a seguir fotos da Praça e das vigílias pelas vítimas, 25 anos depois:
Em Hong Kong, milhares se reuniram para relembrar as vítimas de 4 de junho de 1989.
Quem participou da passeata acendeu velas para relembrar as vítimas.
A vigília foi pacífica e a polícia não interferiu. Jornais como o New York Times falam de 400 a 800 mortes em 4 de junho de 1989. Os manifestantes falam em milhares. Já o governo chinês nunca divulgou dados oficiais e que reconhecem o massacre.
A China adotou um forte esquema de segurança para evitar quaisquer manifestações relacionadas à repressão aos protestos pró-democracia de 1989.
O governo, inclusive, está bloqueando sites e conteúdos sobre o aniversário do massacre, segundo o grupo GreatFire.org, que monitora a censura do governo chinês.
Um manifestante disse à Reuters: "Em Hong Kong, é possível protestar. Mas, na China continental, ninguém se atreve a falar sobre isso, por causa do forte controle do Partido".
O governo dos Estados Unidos pediu que o governo chinês reconheça o massacre. O pedido irritou o Partido Comunista Chinês, que disse que os protestos de 1989 foram um "movimento contrarrevolucionário".
Como o governo proíbe o assunto, até mesmo chineses desconhecem o acontecimento. "Eu nunca tinha ouvido falar sobre o massacre até ir estudar nos Estados Unidos, com 18 anos", disse à Reuters uma jovem de 25 anos, nascida no ano do massacre.
Em Taipei, parentes de manifestantes presos protestaram segurando fotos de seus familiares.
Com a aproximação da data, o governo chinês prendeu cerca de 50 ativistas que estavam se preparando para protestar, segundo a Anistia Internacional.
Em maio, ativistas chineses que participaram ativamente dos protestos de 1989 se reuniram em Pequim para debater o massacre - o que é proibido. Na foto, é possível ver Zhou Feng, Xu Youyu, Zhang Xianling, Qin Hui, Ye Fu, Pu Zhiqiang, Hao Jian, Cui Weiping, Liu Di, Liang Xiaoyan, Hu Shigen, Li Xuewen e Guo Yuhua. Dias depois dessa foto, Pu, Liu, Xu e outros dois foram presos por "causar distúrbios".
O fotógrafo chinês Sin Wai-keung, de 52 anos, dá uma palestra em Pequim diante da projeção da famosa foto que ele tirou em 5 de junho de 1989. Logo após o massacre, um homem desafia os tanques chineses ao parar em frente a eles. É uma das fotos mais famosas do século 20.
Após a repressão aos manifestantes, milhares foram detidos e liberados. Cerca de 1,6 mil foram condenados. Apenas um, acredita-se ainda está preso: Miao Deshun, um operário acusado de atirar um cesto em chamas contra um tanque. Ele foi condenado à morte, pena depois convertida em prisão perpétua. Mas ativistas chineses ainda têm dúvidas se ele está vivo, já que o Departamento de Prisões de Pequim não divulga nenhuma informação.
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