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O geninho sob ataque

Lucas Amorim  “As pessoas não estão debatendo as premissas do modelo. Elas simplesmente não gostam das conclusões”, escreveu em seu Twitter o estatístico Nate Silver nesta segunda-feira. Foi um dos mais gentis posts feitos por Silver desde sábado, quando ele foi acusado pelo site Huffington Post de estar manipulando os dados a favor do republicano […]

NATE SILVER: o estatístico está sendo criticado por considerar que Trump tem chances reais de vencer as eleições / Dave Kotinsky/ Getty Images
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Da Redação

Publicado em 7 de novembro de 2016 às 19h07.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h42.

Lucas Amorim

“As pessoas não estão debatendo as premissas do modelo. Elas simplesmente não gostam das conclusões”, escreveu em seu Twitter o estatístico Nate Silver nesta segunda-feira. Foi um dos mais gentis posts feitos por Silver desde sábado, quando ele foi acusado pelo site Huffington Post de estar manipulando os dados a favor do republicano Donald Trump. “Você não tem a menor ideia de o que está falando” e “este artigo é incrivelmente imbecil” foram suas primeiras reações.

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Silver se viu, nos últimos dias, no centro de um debate inusitado, e importantíssimo, para as eleições marcadas para esta terça-feira. Afinal, qual a chance real de o republicano Donald Trump vencer as eleições presidenciais?

As mais recentes pesquisas dão mais de 80% de chances de vitória para a democrata Hillary Clinton. Para o New York Times, o número é 85%. Para o PredictWise, 89%. Para o Huffington Post, 98%. É um certo alívio para os leitores e para os jornalistas de grandes veículos – 49 dos 50 maiores jornais americanos declararam apoio a Hillary. Mas, segundo o Huffingont Post escreveu no sábado, há um fora da curva que “está causando pânico entre democratas e injetando doses de esperança nos eleitores de Trump”. “Ele pode até acertar, mas está apenas chutando”, escreveu Ryan Grim, chefe da sucursal do site em Washington. “Ele está brincando com a mesma indústria de previsões que ajudou a popularizar”.

O número de Silver, publicado em seu site de análises Fivethirtyeight (em referência aos 538 delegados que dão o voto final na disputa): 68% de chances para Hillary. No dia 25 de setembro, ele dava a corrida como praticamente empatada, com 54% das possibilidades para Hillary. “Tudo depende das suposições pessoais, mas eu acho que nossas suposições – uma liderança de Clinton, claro, mas muita incerteza – está repetidamente sendo validada pelas evidências nos últimos meses”, disse Silver recentemente ao site Politico.

Estatísticos são estrelas de primeira grandeza nas eleições americanas. Pudera: o sistema de disputa é fragmentado por estado, quem decide a parada não são os eleitores, mas os delegados, e há dados passados suficientes para traçar qualquer tipo de paralelo histórico. É um mercado dominado por um grupo de pesquisadores tradicionais que, há uma década, foi chacoalhado justamente por Silver, hoje com 38 anos.

Estatístico e jornalista formado em Chicago, ele fez carreira pesquisando sobre beisebol, um esporte que, segundo dizem muitos americanos, é um grande banco estatístico com alguns caras rebatendo bolas no mundo real. Entre 2003 e 2009, Silver revolucionou as análises do jogo com o uso intensivo de big data – que incluía até possibilidades de lesão e de atritos entre os integrantes de cada time. Em 2008, Silver se aventurou nas estatísticas eleitorais – e acertou em 49 dos 50 estados. Enquanto os institutos tradicionais insistiam em apontar a vitória do republicano John McCain, Silver cravou o novato democrata Barack Obama. Em 2012, já no New York Times, acertou os 50 estados. Depois, ele lançou o bestseller o Som e o Ruído, em que fala de previsões em diferentes campos de atividade. Enfim, num país em que os dados são venerados, Silver virou um fenômeno pop.

Nesta eleição, Silver está acompanhando o processo a serviço da ESPN (é isso mesmo). Nesta segunda-feira, ele fez questão de republicar em seu Twitter a metodologia de análise, que já se provou assertiva em duas ocasiões. Alguns pontos principais:

– As probabilidades são baseadas em dados de pesquisas desde 1972. Quando dizemos que um candidato tem 30% de chances de ganhar, apesar de estar caindo nas pesquisas, não estamos apenas safando nossa reputação. Essas estimativas refletem as incertezas das pesquisas.

– Todas as versões de nossas pesquisas analisam mais informações estaduais do que nacionais.

– Os erros tendem a ser correlacionados de estado para estado. Se um candidato supera as previsões em Ohio, por exemplo, ele tem grandes chances de fazer o mesmo na Pensilvânia.

– O modelo leva em conta também dados econômicos e dá menos peso a candidatos independentes, que tendem a cair nas pesquisas.

Silver ainda reforçou que seus modelos dão muito peso para eleitores indecisos. Nesta altura da corrida eleitoral, Hillary tem cerca de 45% das intenções de votos totais, quatro pontos a menos do que Obama tinha quatro anos atrás, o que dá um número três vezes maior de indecisos. E que, mais importante do que isso, sua vantagem é muito menor em estados decisivos. Por isso, ele afirma que as chances de o mapa eleitoral ser exatamente igual ao de 2012 é de apenas 0,2%.

Em New Hampshire, por exemplo, um estado em que o Fivethirtyeight afirmou há semanas que podia ser problemático para Hillary dado o número de indecisos, Trump assumiu a dianteira no final da semana passada segundo alguns institutos. O mesmo acontece num distrito de Maine, onde a demografia favorece Trump. Se perder esses dois estados, e mais Nevada, Flórida e Carolina do Norte, onde sua chance de vitória nunca é maior do que 55%, ela pode perder a eleição.

Vindas de Silver, as previsões são preocupantes para os democratas. Nesta segunda, ele afirmou que vai publicar nova pesquisa na manhã de terça-feira. Repercussão não deve faltar.

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