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O calvário de Anna, sequestrada por separatistas pró-russos

Ela foi levada do seu apartamento em Donetsk por sete homens que se apresentaram como "representantes da República Popular de Donetsk"

Mulher observa destruição na Ucrânia: Anna passou seis dias em cativeiro e foi torturada (REUTERS/Gleb Garanich)
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Da Redação

Publicado em 11 de julho de 2014 às 19h13.

Kiev - O calvário de Anna, sequestrada e espancada por rebeldes pró-russos do leste da Ucrânia que a obrigaram a escrever com seu próprio sangue um lema separatista, é um dos centenas de casos similares registrados desde abril pela Anistia Internacional.

Esta mulher de 33 anos, que havia participado de manifestações em favor da unidade da Ucrânia, foi sequestrada junto com seu namorado por sete homens armados e encapuzados que invadiram seu apartamento em Donetsk no dia 27 de maio. Eles se apresentaram como "representantes da República Popular de Donetsk".

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As marcas das humilhações sofridas durante seus seis dias de cativeiro aparecem em um vídeo divulgado pela Anistia no qual a organização denuncia muitos casos de tortura e sequestros no leste da Ucrânia, principalmente contra os partidários do governo de Kiev.

"Eles destruíram meu rosto com socos. Eu tentava me proteger, ele se enfureceu, saiu e voltou com uma faca", conta esta mulher, que não teve o sobrenome revelado.

Depois, ela foi ameaçada de morte e obrigada a escrever com seu próprio sangue um lema pró-russo.

60.000 dólares de resgate

Anna foi trocada por pró- russos , mas o pai de Sacha, outro ativista pró-Kiev da região vizinha de Lugansk, precisou pagar um resgate de 60.000 dólares para recuperar seu filho.

"Eles me deram socos, me espancaram com uma cadeira e com tudo o que encontraram. Apagaram cigarros na minha perna e me eletrocutaram. Durou muito tempo. Eu já não sentia mais nada e desmaiei", contou Sacha, de 19 anos.

"Estava no chão de um porão. Um dos torturadores colocou a pistola contra a minha cabeça e ordenou que eu caminhasse por um corredor onde homens armados me diziam 'adeus, vão te matar'", acrescentou o jovem, que fazia parte das "tropas de autodefesa".

Seu pai o resgatou em um edifício abandonado depois de ter pagado um resgate de 60.000 dólares.

Sacha entrou imediatamente em um trem para Kiev sem ter nem mesmo tempo de trocar de roupa. "Perdi tudo. Preciso encontrar trabalho para pagar o aluguel do apartamento em Kiev e devolver o dinheiro aos que o emprestaram à minha família", explica.

Segundo Denis Krivocheyev, diretor da Anistia para Europa e Ásia Central, "centenas de pessoas foram sequestradas nos últimos três meses".

"A maioria dos sequestros foi cometida por separatistas armados e com frequência as vítimas sofrem torturas. Há casos apontados de arbitrariedade por parte das tropas do governo, mas são menos frequentes", declarou a organização em um comunicado.

De acordo com o Ministério do Interior ucraniano, quase 500 pessoas foram sequestradas entre abril e junho no leste do país. Mas a ONU contabilizou 222 casos, segundo a Anistia.

São ativistas, políticos, jornalistas, empresários, membros de comissões eleitorais locais, militares e policiais.

"À medida que as tropas pró-Kiev retomam o controle de Slaviansk, Kramatorsk (redutos dos separatistas pró-russos) e de outras localidades do leste da Ucrânia, mais prisioneiros são libertados e novos casos preocupantes, divulgados", indica a Anistia.

A ONG também informa a respeito de um caso de tortura cometida pelas tropas governamentais em Mariupol, cidade portuária do sudeste da Ucrânia, contra um jovem de 16 anos que tinha divulgado na internet imagens de uma operação militar.

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