MAY FALA À IMPRENSA NESTA TERÇA-FEIRA: faltam apenas duas semanas para os britânicos irem às urnas / Toby Melville/ Reuters
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2017 às 13h07.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h13.
Camila Almeida
Pelo menos 22 pessoas morreram e outras 59 ficaram feridas — entre elas algumas crianças — após uma explosão na saída do show da cantora americana Ariana Grande, na saída de uma arena de shows em Manchester, na Inglaterra. Era o primeiro show no Reino Unido da turnê mundial “Dangerous Woman”, que chegaria a Londres na quinta-feira, e incluía no roteiro países como Suíça, Alemanha, Polônia, Bélgica e Brasil. De acordo com o site TMZ, as apresentações foram sido suspensas, e a artista comentou em sua conta no Twitter que está “despedaçada”. As implicações políticas de mais um grande atentado na Europa são
As pessoas que estavam dentro da arena — boa parte delas meninas adolescentes — conseguiram ouvir a grande explosão, provocada por um homem bomba do lado de fora do espaço. O show já estava no fim, e a reação foi de pânico para conseguir deixar o local. As linhas de trem que passam em frente à arena foram bloqueadas emergencialmente, e clientes que estavam num shopping próximo precisaram ser retirados às pressas do local.
Na manhã desta terça-feira, a primeira-ministra britânica, Theresa May, concedeu uma entrevista à imprensa na frente de sua casa. Ela classificou o atentado contra crianças e adolescentes como sendo de uma “covardia assustadora e repugnante”, e reconheceu que foi um dos piores ataques que os britânicos já sofreram. May é líder do Partido Conservador e está em plena campanha para as eleições parlamentares do dia 8 de junho. Nesta terça, os compromissos foram suspensos.
O seu principal adversário, o líder do Partido dos Trabalhadores Jeremy Corbyn, também suspendeu as atividades de campanha. “Estou horrorizado com os horrendos acontecimentos de Manchester na noite passada. Meus pensamentos estão com famílias e amigos daqueles que morreram e foram feridos “, afirmou Corbyn.
A corrida eleitoral está mais acelerada do que nunca: para conseguir tocar as negociações de saída do Reino Unido da União Europeia, May decidiu antecipar as eleições parlamentares, que só aconteceriam 2020. Com um mês para fazer campanha, ela tinha como trunfo uma vantagem de 20 pontos que tinha nas pesquisas frente ao seu principal opositor. May se valia da popularidade que suas propostas conservadoras, como um Brexit “duro”, têm entre os eleitores britânicos.
Porém, o pleito tem se mostrado mais apertado do que os conservadores esperavam. A última pesquisa de opinião, divulgada no dia 21 de maio, mostra o quanto Corbyn tem conseguido ganhar de espaço. No começo de abril, ele tinha 25% das intenções de voto, ante 43% de May. Agora, ela aparece com 46%, enquanto ele tem com 33% das intenções, de acordo com o instituto Pollsters.
Uma outra pesquisa, realizada pelo instituto de pesquisa YouGov, mostra que May perdeu espaço na última semana, tendo passado de 49% para 44%, enquanto Corbyn foi de 31% para 35%. É uma mudança, mas nada que assuste. Se as eleições acontecessem hoje, os conservadores garantiriam 391 cadeiras no parlamento, enquanto que os trabalhadores teriam 185 e os demais partidos, 74.
A perda recente de popularidade de May tem uma justificativa: os partidos apresentaram seus planos de governo na semana passada, e o Partido dos Trabalhadores foi de uma agressividade inesperada. Com uma guinada à esquerda, defendeu maior taxação sobre a renda de quem ganha altos salários e sobre os lucros das empresas, além de ter proposto a reestatização dos correios, das linhas ferroviárias e do sistema de distribuição de água. As novas regras sobre a taxação renderiam quase 50 bilhões de libras para os cofres públicos, o que ajudaria a construir um milhão de novas casas e ampliar os repasses à saúde.
Um programa com muito apelo popular em contraposição ao de May, que Corbyn definiu como sendo o programa do “medo”. Na questão econômica, os conservadores se limitaram a afirmar que seriam necessários “duros ajustes” e propôs uma polêmica reforma referente aos idosos, que levou a pecha de “imposto sobre a demência”.
O estado britânico hoje apoia as famílias que têm idosos com alguma senilidade, a partir do momento em que os custos dos cuidados ultrapassam 72.000 libras anuais. A proposta prevê que as famílias deveriam arcar com todos os custos — até que lhes restasse 100.000 libras em patrimônio. O programa lhe custou boa parte do apoio e da popularidade e, após protestos, May teve que passar a semana se justificando.
Na teoria, o novo ataque terrorista deve contar a seu favor. Ela tem proposto ser muito dura em seu combate, inclusive aumentando a vigilância sobre a internet. Além disso, defendeu em seu programa de governo leis bastante rigorosas em relação à imigração, a partir do momento em que o país deixar a União Europeia. Essa medida tem apelo popular – e foi uma das principais razões para a população ter votado a favor do referendo em junho do ano passado. May tem defendido que o Reino Unido não fique “meio dentro, meio fora do bloco”, e que o governo seja capaz de estabelecer novas regras com seu povo.
Pesquisas sobre imigração do Pew Research Center mostram que, em 2016, 31% da população britânica acreditava que aumentar a diversidade tornava seu país melhor de se viver; e que 52% acreditavam que aumentar o número de refugiados no país aumenta as chances de terrorismo. Além disso, em 2015, 17% dos trabalhadores no Reino Unido eram imigrantes, uma alta considerável em relação à parcela de 7% que representavam em 1993, de acordo com pesquisa do Migration Observatory, centro de estudos da Universidade Oxford. Se o medo cresce, o rigor de May tende a ganhar pontos frente a uma política de refugiados mais porosa de Corbyn.
Os britânicos vão às urnas no dia 8 de junho. Dia 19 as negociações do Brexit entre Reino Unido e União Europeia começa para valer. Até lá, a explosão de Manchester continuará ecoando.