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O ano em que Putin recriou o fantasma da Guerra Fria

Mas para muitos, 2014 foi o ano de Putin, caracterizado por uma mudança de natureza e status do chefe de Estado e uma desforra internacional da Rússia

O presidente russo Vladmir Putin fala durante uma coletiva de imprensa com o ex-presidente americano George W. Bush, na Casa Branca (Jim Watson/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2014 às 12h23.

Moscou - Vladimir Putin assumiu riscos em 27 de fevereiro. Naquele dia, um comando ocupou o Parlamento da Crimeia , cumprindo suas ordens. A anexação mudou o mapa da Europa e iniciou uma era de confrontos entre a Rússia e o Ocidente.

Mais de 10 meses depois da rápida incorporação desta pequena península russa, as consequências totais da decisão do presidente russo ainda são ignoradas.

Mas para muitos, 2014 foi o ano de Putin, caracterizado por uma mudança de natureza e status do chefe de Estado e uma desforra da Rússia em nível internacional.

Quando a crise ucraniana começou, Putin tinha uma longa experiência à frente do Estado russo. Nos 15 anos em que está no poder , como presidente (três mandatos) ou premier (duas vezes), conheceu três presidentes americanos, além de chefes de Estado e governo franceses e britânicos.

A guerra da Chechênia, a tomada de controle da imprensa independente e a falta de força da oposição russa já lhe haviam permitido conquistar uma reputação de presidente autoritário. Em seu país, ele é o homem da estabilidade econômica, do surgimento de uma classe média após os anos caóticos da presidência de Boris Yeltsin. É o responsável pela renovação, o amo de uma Rússia que ergue a cabeça depois da humilhação causada pelo fim da União Soviética.

Paladino do antiamericanismo

O movimento de protesto pró-europeu na praça de Maidan, na Ucrânia, e a queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em fevereiro indignaram Moscou. O Kremlin considerou que os ocidentais tentavam ultrapassar o limite russo, e Moscou denunciou que a Otan se encontrava às portas do país.

A resposta de Putin não demorou: incorporação da Crimeia através de um plebiscito e, depois, do apoio militar aos rebeldes separatistas do leste ucraniano, acusaram Kiev e os ocidentais.

O desencontro entre russos e ocidentais começou a ganhar forma. Para Moscou, a anexação da Crimeia não significou mais do que um retorno natural à Rússia de um "território sagrado", a "Jerusalém russa". Mas para as capitais europeias, o chefe de Estado russo redesenhou o mapa da Europa e se apropriou de um território como ninguém havia voltado a fazer no Velho Continente desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Putin, ignorado até o ostracismo pelos líderes ocidentais, que o acusam de agressão na Europa, caracterizado como um novo Hitler pelos jornais sensacionalistas europeus, mas mais popular do que nunca na Rússia, ganha, aos 62 anos, um novo status: o de paladino do movimento que se opõe à "liderança americana" e ao modelo liberal ocidental.

Esta fome de poder do dirigente russo levou ao retorno de uma expressão que não era usada desde 1991, quando caiu a União Soviética: "Guerra Fria".

Trata-se de um termo pouco adequado, já que a Rússia, ao contrário da URSS, não defende uma ideologia, um modelo, mas tem o mérito de ser compreendido por todo o mundo, enquanto não surge uma definição melhor do "inverno prolongado" na futura relação entre russos e ocidentais.

Os voos de bombardeiros estratégicos perto de países europeus e o envio de navios de guerra para exercícios navais preocupam os generais da Otan. Este aumento da atividade russa traz muitas lembranças. O presidente russo considera que se trata apenas de uma resposta justa: uma vez que os ocidentais não cumpriram a promessa de não ampliar a Otan até as portas da Rússia, por que este país se privaria de fazê-lo? Quem está ameaçando quem?, questiona Moscou.

Legado de Putin

A partir destes acontecimentos, as mesmas perguntas são feitas: O que Putin quer? Onde ele quer chegar?

"Ele se vê como o eterno líder encarregado da missão de salvar a Rússia do Ocidente. Cita com frequência fatos históricos, buscando seu lugar entre os líderes que salvaram a Rússia da ameaça", considera a analista independente María Lipman.

Para Konstantin Kalashev, diretor do Grupo de Valorização Política, Putin "pensa no que os livros de história falarão sobre ele".

"Daqui a 50 ou 100 anos, os historiadores não estarão interessados na cotação do rublo, e sim na incorporação da Crimeia e no confronto com os Estados Unidos", prevê.

Segundo os especialistas, a crise ucraniana mostrou que, no fundo, Putin queria apenas uma coisa: respeito e igualdade de tratamento em relação aos Estados Unidos.

O que se pode esperar da Rússia daqui para a frente? A continuação de sua política de reconquista, a reformulação de suas prioridades energéticas da Europa até a Ásia, a retomada dos laços com os países de América do Sul e Oriente Médio, como o presidente anunciou recentemente, e a continuação do apoio ao regime sírio de Bashar al-Assad, com um papel inevitável nas negociações sobre o programa nuclear iraniano como pano de fundo.

E o confronto com o Ocidente? "Ele aposta em que os nervos dos ocidentais não são tão sólidos quanto os seus", estima Kalachev.

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Mais de 10 meses depois da rápida incorporação desta pequena península russa, as consequências totais da decisão do presidente russo ainda são ignoradas.

Mas para muitos, 2014 foi o ano de Putin, caracterizado por uma mudança de natureza e status do chefe de Estado e uma desforra da Rússia em nível internacional.

Quando a crise ucraniana começou, Putin tinha uma longa experiência à frente do Estado russo. Nos 15 anos em que está no poder , como presidente (três mandatos) ou premier (duas vezes), conheceu três presidentes americanos, além de chefes de Estado e governo franceses e britânicos.

A guerra da Chechênia, a tomada de controle da imprensa independente e a falta de força da oposição russa já lhe haviam permitido conquistar uma reputação de presidente autoritário. Em seu país, ele é o homem da estabilidade econômica, do surgimento de uma classe média após os anos caóticos da presidência de Boris Yeltsin. É o responsável pela renovação, o amo de uma Rússia que ergue a cabeça depois da humilhação causada pelo fim da União Soviética.

Paladino do antiamericanismo

O movimento de protesto pró-europeu na praça de Maidan, na Ucrânia, e a queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em fevereiro indignaram Moscou. O Kremlin considerou que os ocidentais tentavam ultrapassar o limite russo, e Moscou denunciou que a Otan se encontrava às portas do país.

A resposta de Putin não demorou: incorporação da Crimeia através de um plebiscito e, depois, do apoio militar aos rebeldes separatistas do leste ucraniano, acusaram Kiev e os ocidentais.

O desencontro entre russos e ocidentais começou a ganhar forma. Para Moscou, a anexação da Crimeia não significou mais do que um retorno natural à Rússia de um "território sagrado", a "Jerusalém russa". Mas para as capitais europeias, o chefe de Estado russo redesenhou o mapa da Europa e se apropriou de um território como ninguém havia voltado a fazer no Velho Continente desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Putin, ignorado até o ostracismo pelos líderes ocidentais, que o acusam de agressão na Europa, caracterizado como um novo Hitler pelos jornais sensacionalistas europeus, mas mais popular do que nunca na Rússia, ganha, aos 62 anos, um novo status: o de paladino do movimento que se opõe à "liderança americana" e ao modelo liberal ocidental.

Esta fome de poder do dirigente russo levou ao retorno de uma expressão que não era usada desde 1991, quando caiu a União Soviética: "Guerra Fria".

Trata-se de um termo pouco adequado, já que a Rússia, ao contrário da URSS, não defende uma ideologia, um modelo, mas tem o mérito de ser compreendido por todo o mundo, enquanto não surge uma definição melhor do "inverno prolongado" na futura relação entre russos e ocidentais.

Os voos de bombardeiros estratégicos perto de países europeus e o envio de navios de guerra para exercícios navais preocupam os generais da Otan. Este aumento da atividade russa traz muitas lembranças. O presidente russo considera que se trata apenas de uma resposta justa: uma vez que os ocidentais não cumpriram a promessa de não ampliar a Otan até as portas da Rússia, por que este país se privaria de fazê-lo? Quem está ameaçando quem?, questiona Moscou.

Legado de Putin

A partir destes acontecimentos, as mesmas perguntas são feitas: O que Putin quer? Onde ele quer chegar?

"Ele se vê como o eterno líder encarregado da missão de salvar a Rússia do Ocidente. Cita com frequência fatos históricos, buscando seu lugar entre os líderes que salvaram a Rússia da ameaça", considera a analista independente María Lipman.

Para Konstantin Kalashev, diretor do Grupo de Valorização Política, Putin "pensa no que os livros de história falarão sobre ele".

"Daqui a 50 ou 100 anos, os historiadores não estarão interessados na cotação do rublo, e sim na incorporação da Crimeia e no confronto com os Estados Unidos", prevê.

Segundo os especialistas, a crise ucraniana mostrou que, no fundo, Putin queria apenas uma coisa: respeito e igualdade de tratamento em relação aos Estados Unidos.

O que se pode esperar da Rússia daqui para a frente? A continuação de sua política de reconquista, a reformulação de suas prioridades energéticas da Europa até a Ásia, a retomada dos laços com os países de América do Sul e Oriente Médio, como o presidente anunciou recentemente, e a continuação do apoio ao regime sírio de Bashar al-Assad, com um papel inevitável nas negociações sobre o programa nuclear iraniano como pano de fundo.

E o confronto com o Ocidente? "Ele aposta em que os nervos dos ocidentais não são tão sólidos quanto os seus", estima Kalachev.

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