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#NiUnaMenos: Argentina se mobiliza contra o feminicídio

As mulheres pararam seu afazeres durante uma hora, em vários escritórios privados e públicos, contra os feminicídios em Buenos Aires

Greve: apesar da chuva e do vento em Buenos Aires, as mulheres foram apoiadas com buzinas e aplausos - estes vindos de edifícios empresariais (Marcos Brindicci/Reuters)
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AFP

Publicado em 20 de outubro de 2016 às 15h21.

Horrorizadas com o brutal assassinato de uma adolescente, mulheres protestaram nesta quarta-feira (19) contra a violência de gênero com várias manifestações e atividades na Argentina, e que foram reproduzidas em cidades da Espanha e da América Latina.

O país está impressionado com o homicídio de Lucía Pérez, uma jovem de 16 anos que foi drogada, estuprada e empalada até a morte há duas semanas e que desatou a quinta mobilização contra violência de gênero no país este ano.

"Por essa e tantas Lucías é que se pede justiça. Para que não haja mais Lucías e nem mais famílias destruídas como a nossa", pediu Marta Montero, mãe da jovem, em entrevista à rádio Vorterix.

As mulheres pararam seu afazeres durante uma hora, em vários escritórios privados e públicos, contra os feminicídios em Buenos Aires. Depois das 13h00 locais, protestos espontâneos e bloqueios de avenidas foram vistos, debaixo de chuva, onde era possível ler cartazes escritos "Nós paramos", "Queremos ficar vivas".

"Temos que nos distanciar de todo tipo de violência, especialmente da violência de gênero, que hoje está nos atingindo e afetando muito", disse o presidente Mauricio Macri, na inauguração de um edifício escolar nesta quarta-feira. "Estamos comprometidos em prevenir, erradicar e auxiliar" diante da violência de gênero, afirmou.

O Registro Nacional de Feminicídios, da Suprema Corte de Justiça argentina , indicou que em 2015 houve 235 mulheres assassinadas, uma a cada 36 horas.

Cerca de 18% das vítimas tinha menos de 20 anos, 43% entre 21 e 40 anos, 25% entre 41 e 60, e 9% mais de 60. Em mais da metade dos casos, os agressores foram companheiros ou ex-companheiros das vítimas.

Ao longo de 2016, 170 mulheres morreram, segundo a ONG Casa del Encuentro.

O horror se estendeu até a Espanha, que na última década conseguiu diminuir os casos mortais por violência contra mulheres. Lá, as vítimas mortais - espancadas, apunhaladas, queimadas - passaram de 71 em 2003 para 60 em 2015.

"Quantas Lucías Peréz mais até que parem de nos chamar de exageradas?", diziam os cartazes dos protestos em Madri e Barcelona.

"Para que não haja mais Lucías"

"O caso de Lucía Pérez serviu como gatilho para exigir justiça por todas as mulheres que sofrem a violência machista", disse à AFP Gabriela Spinelli, uma das mulheres que seguiu a ordem de se vestir de preto nesta quarta-feira e fazer "barulho" com suas companheiras da Defensoria Geral da Nação, no centro da capital.

Apesar da chuva e do vento em Buenos Aires, as mulheres foram apoiadas com buzinas e aplausos - estes vindos de edifícios empresariais.

A iniciativa vista nas redes sociais promete, ao anoitecer, juntar mulheres em várias cidades do Chile, Uruguai e México, segundo o coletivo #NiUnaMenos .

Lucía morreu em 8 de outubro no Mar del Plata, 400 km ao sul da capital. Ela foi estuprada e empalada causando uma dor tão insuportável que provocou uma parada cardíaca. Para evitar sua resistência, a promotoria sustenta que ela foi forçada a consumir cocaína em grandes quantidades.

O coletivo #NiUnaMenos convocou junto com outras 50 organizações a inédita paralisação nacional não só para levantar a voz contra o feminicídio, como também para expor a desigualdade da mulher no âmbito trabalhista.

A Argentina, que atravessa dificuldades econômicas, registra uma taxa de desemprego de 9,3%. "Mas no caso das mulheres já está perto dos 12%", segundo cifras da organização Red de Mujeres.

Dentro dos 30% de trabalhadores informais e não registrados, muitos são mulheres, devido à falta de direitos como licença-maternidade, subsídios por filho ou férias.

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