Usina nuclear no Irã: negociadores já estenderam o prazo limite em duas ocasiões (AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2015 às 16h50.
Viena - A rodada decisiva de contatos para conseguir um acordo sobre o programa nuclear do Irã soma nesta quarta-feira 12 dias consecutivos de intensos esforços diplomáticos, nos quais apareceram sinais de certa tensão.
Espera-se que hoje os três ministros de Relações Exteriores europeus retornem a Viena para dar um novo impulso ao diálogo.
Desde a primeira hora desta manhã, o Irã e o G5+1 (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, China e França, mais Alemanha) mantiveram contatos no nível de vice-ministros, diretores políticos e outros especialistas, sempre com o objetivo de superar os últimos obstáculos que continuam impedindo um acordo.
O tempo pressiona, pois os negociadores já estenderam o prazo limite em duas ocasiões nesta reta final e se propõem agora a conseguir, antes de sexta-feira, um histórico pacto que acabe com o temor de que o Irã possa produzir uma arma atômica no curto prazo.
Os únicos responsáveis de Relações Exteriores presentes hoje em Viena o dia todo foram os de Estados Unidos, John Kerry; Irã, Mohammed Javad Zarif; e da União Europeia, Federica Mogherini.
Até agora, os negociadores insistiram muito que o ambiente no qual acontecem as negociações é respeitoso e amigável, mas, nas últimas horas, deixaram vazar alguns indícios de que também houve momentos de grande tensão nas salas de reunião.
Segundo um diplomata ocidental, na sessão plenária da última segunda-feira, que durou até depois da meia-noite, ocorreram momentos de alta tensão.
"Não houve batidas de portas, mas uma troca acalorada de opiniões", foi a descrição dessa fonte sobre o ambiente na reunião em que os responsáveis de Relações Exteriores de Irã, Alemanha, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia estiveram frente a frente.
A agência iraniana "Irna" informou que a tensão chegou ao ponto em que Mogherini cogitou, diante desse ambiente, a possibilidade de suspender o diálogo, mas foi advertida por Zarif, que lhe disse: "nunca ameace um iraniano".
Com os rumores das tensões nas negociações circulando entre os jornalistas que fazem a cobertura desta cúpula nuclear, a delegação iraniana publicou várias fotos de Mogherini e Zarif em atitude profissional durante as negociações.
"A senhora Mogherini sempre teve um papel muito positivo e construtivo nas negociações nucleares", garantiu Zarif em uma mensagem no Twitter.
A "Irna" também garantiu que, na segunda-feira passada, em uma das muitas reuniões bilaterais entre Zarif e Kerry, o tom das vozes chegou até tal ponto que os presentes tiveram que adverti-los que era possível ouvi-los na sala ao lado.
Para esta noite, são esperados novamente em Viena o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Philip Hammond; da França, Laurent Fabius; e da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier.
O propósito é realizar novas reuniões plenárias amanhã e sexta-feira, mas sem a presença dos ministros de Rússia e China, que estão em outra cúpula internacional.
O objetivo dos ministros é conseguir finalmente uma fórmula que permita a todos dar o sinal verde para um acordo durável que limite as ambições nucleares do Irã.
Os últimos obstáculos continuam sendo a suspensão das sanções que pesam sobre Teerã e o acesso que os iranianos devem conceder aos inspetores da ONU em suas instalações.
O próprio Zarif reconheceu em artigo publicado hoje no jornal britânico "Financial Times" que "o Irã e seus interlocutores nunca estiveram tão perto de um acordo final".
Contudo, as diferenças são tais que "o acordo está longe de ser garantido", advertiu o negociador da república islâmica.
Os iranianos exigem o fim do embargo de armas e mísseis imposto ao país pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, algo que o G5+1 rejeita.
Ontem à noite, o negociador iraniano Abbas Araghchi se referiu a um "acordo" entre as partes, em entrevista ao canal de televisão "Press TV", para solucionar o problema das sanções econômicas, que seriam suspensas no "dia da assinatura" do pacto.
"Para a questão das sanções é necessário vontade política. É um princípio óbvio, não podemos ter ao mesmo tempo um acordo e sanções. O G5+1 deve escolher entre uma dessas duas coisas", disse o vice-ministro iraniano.
Outra agência de notícias iraniana, a "Isna", informou hoje que Teerã quer apresentar em Viena "novas propostas", mas não ofereceu mais detalhes sobre as mesmas.