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Da Redação
Publicado em 12 de outubro de 2010 às 19h38.
O economista Ben Bernanke, que a partir de amanhã (1º/2) substituirá o legendário Alan Greenspan na presidência do Fed (o banco central americano), terá dois grandes desafios pela frente. Um deles é impor sua própria personalidade ao grupo de diretores que vinha sendo liderado há 18 anos por Greenspan. O outro é ainda mais complicado: decidir se os Estados Unidos estão preparados para conviver com um sistema explícito de metas de inflação.
"Certamente a sombra de Greenspan será um desafio, mas existe o ditado: herói posto é herói morto e as coisas têm de funcionar no dia seguinte", diz Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central do Brasil entre 1997 e 1999.
Pode-se pensar que a troca de um único executivo em uma instituição tão poderosa quanto o Fed não fará tanta diferença mas não é bem assim. Ainda que o novo presidente não tenha margem para mudar completamente a política monetária atual, ele pode dar novas diretrizes, de acordo suas filosofias econômicas. Nesse sentido, muitos se questionam quais seriam as principais diferenças entre Greenspan e seu sucessor.
"Alguns economistas acreditam ser possível antecipar os acontecimentos do mercado com a ajuda de modelos matemáticos. O Greenspan não pensa assim", diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC. De acordo com o pensamento de Greenspan, diz Freitas, as incertezas do mercado são fortes demais para controlá-lo ou antecipá-lo. Em sua última reunião sob a liderança de Greenspan, o Fed anunciou nesta terça-feira (31/1) o décimo quarto aumento consecutivo das taxas de juros, que passam a 4,5% ao ano nos Estados Unidos.
Isso explicaria, por exemplo, o fato de Greenspan nunca ter defendido vigorosamente o sistema de metas de inflação. Uma idéia que, para seu sucessor, pode ser mais bem aceita. "Na minha opinião, Bernanke tem um perfil mais acadêmico, e poderemos ver os Estados Unidos com metas explícitas a longo prazo", diz Freitas.
Conseqüências para o Brasil
É improvável que a troca de comando no Fed tenha algum impacto direto no Brasil. No entanto, Franco acredita que a relação entre as duas economias ficará mais estreita. "Enquanto o contato do Greenspan com a equipe econômica brasileira era apenas institucional, Bernanke tem fortes laços por aqui", diz o economista.
Bernanke participou da banca de doutorado de Armínio Fraga (ex-BC) na Universidade de Princeton, além de ter ajudado a formular a teoria de metas de inflação, hoje utilizada no Brasil.
Se aplicado, um sistema transparente de metas de inflação nos Estados Unidos ajudaria não apenas a economia brasileira, e sim a do planeta, segundo Freitas. "Sem dúvida ele diminui os riscos para todo mundo", diz. "Mas isso não é fácil, já que, se houver algum erro, perde-se a credibilidade". Para Franco, a adoção do modelo também enfrenta restrições jurídicas, já que a legislação americana impõe limites para esse tipo de política pública.
Quem é quem
O novo presidente do Fed não costuma explicitar nenhuma preferência política. Bernanke, de 52 anos, faz mais o tipo acadêmico de primeira linha: graduou-se em Economia na Universidade de Harvard, com Phd pelo MIT e, com isso, foi parar no quadro de professores de Princeton. Em 2002, aceitou o convite para compor o comitê de diretores do Fed. Desde o ano passado, vinha atuando no conselho de assessores econômicos da Casa Branca.
Substituir Alan Greenspan não é fácil. Aos 80 anos, esse economista segurou as rédeas da economia americana por um período conturbado, com direito a crises financeiras na Ásia, bolha da Internet, ataques terroristas e até um furacão, o Katrina. Nesse período, conquistou não apenas o respeito do mercado financeiro, como também de governos republicanos e democratas, sendo apontado por cinco mandatos consecutivos para presidir o Fed.
Ao contrário de Bernanke, Greenspan teve uma presença mais atuante na política. Republicano, chegou a ajudar na campanha presidencial de Richard Nixon. Deixa o Fed conhecido como "o grande maestro da economia americana".