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Mulheres africanas não contam que têm HIV para evitar surras

Cena se repete através da África subsaariana, onde jovens mulheres representam um quarto das novas infecções

Mulher é atendida em um hospital da ONG Médicos Sem Fronteiras, no Congo (Spencer Platt/Getty Images)

Mulher é atendida em um hospital da ONG Médicos Sem Fronteiras, no Congo (Spencer Platt/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2014 às 18h39.

Melbourne - Em uma clínica lotada em Moçambique, uma jovem mãe de 25 anos de idade diz que não irá contar ao marido, de quem está separada, que ela está com HIV por medo de ser considerada culpada e de ser espancada.

"Aqui muito frequentemente as mulheres não contam aos ex-parceiros que elas estão infectadas com o HIV", disse Sifronia Filipe, educadora na clínica onde a jovem está sendo tratada de Aids.

"Ela tem medo de que ele a abandone ou que conte aos vizinhos e que eles a discriminem".

É uma cena que se repete através da África subsaariana, onde jovens mulheres representam um quarto das novas infecções por HIV e onde a Aids permanece como um flagelo devastador.

O problema é ainda mais grave em países do sul como Moçambique, onde 7 por cento de todas as adolescentes é HIV positivo.

Esse número dobra para 15 por cento ao chegar aos 25 anos, de acordo com um relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids lançado na semana passada.

Proteger jovens mães será crucial se o mundo quiser atingir o objetivo da ONU de eliminar novas infecções por HIV em crianças até 2015.

Em um encontro internacional de Aids que começou em Melbourne ontem, personalidades públicas desde a ativista política birmanesa Aung San Suu Kyi até o fundador do grupo Virgin, Richard Branson, irão liderar um chamado para lutar contra a estigmatização e a discriminação, que tem arruinado o progresso em países mais pobres.

"Algumas pessoas, ao descobrirem que são soropositivas, mudam de hospital ou riscam os resultados dos testes de seus relatórios médicos", disse Aleny Couto, chefe do programa HIV do Ministério de Saúde do governo de Moçambique.

"Neste país ainda existe a estigmatização, o que ainda é um obstáculo muito grande".

Sofrendo com a estigmatização

Enquanto existir a estigmatização do HIV as pessoas provavelmente irão esconder ou ignorar suas situações, criando uma barreira para o tratamento, o que coloca suas saúdes e a saúde de seus parceiros e filhos em risco.

Uma "inaceitavelmente alta" prevalência de mulheres soropositivas de idades entre 15 e 24 anos pode ser vista em quase todos os países do leste e sul da África, disse a ONUAids em um documento, chamando os dados de "fortes e preocupantes".

Independentemente de ser o homem ou a mulher quem introduz o HIV na relação, abordar o tópico e o tratamento da infecção é frequentemente difícil, diz José Enrique Zelaya Bonilla, diretor da ONUAids em Moçambique.

Rejeitam o tratamento

"Nós percebemos que se o homem fica sabendo que ele é soropositivo só depois de a mulher ser infectada, ela é considerada responsável", diz Bonilla.

"Isso tem outros efeitos. Por exemplo, quando o homem morre, a família dele tira todos os pertences dela".

As pessoas também podem queimar a casa para que a viúva não fique com a propriedade, de acordo com Bonilla.

Na Africa do Sul, país com o maior número de pessoas convivendo com o vírus, as mulheres às vezes rejeitam a terapia antirretroviral salvadora de vidas para esconder suas infecções de seus parceiros, disse Elsie Mbedzi, assistente social da Witkoppen Health Welfare Centre, que recebe aproximadamente 100.000 visitas de pacientes de baixa renda por ano da periferia de Joanesburgo.

"Se a mulher descobre que está infectada quando está grávida, ela começa o tratamento, mas é difícil para ela dizer ao marido que ele também pode estar infectado e que também necessita de tratamento", disse Bonilla da ONUAids.

Existe também o risco de que a mãe pare de tomar a medicação e não leve o bebê para ser testado, “de forma que o sistema de saúde perderá contato com esse recém-nascido possivelmente infectado com o HIV”.

A Aids matou cerca de 82.000 pessoas em Moçambique no ano passado, 13 por cento mais do que em 2005.

Isso fez com que a nação de 25,8 milhões de pessoas se tornasse um dos apenas três países da África subsaariana que registraram um aumento da mortalidade relacionada com a Aids durante esse período, de acordo com UNAids.

Filipe, a educadora de Maputo, diz que vê alguns sinais de progresso.

"Há muitos homens que não conhecem seu status e saem por aí infectando mulheres, mas felizmente temos visto uma evolução", diz Filipe. "Cada vez mais mulheres estão exigindo o uso de preservativo".

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