Mubarak é desafiado depois de 30 anos
Aliado do Ocidente e opositor do islamismo radical, o presidente do Egito sofre pressão popular para deixar o poder
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2012 às 19h53.
Cairo - Depois de apoiar-se durante 30 anos num temível aparelho policial e num sistema político dominado por um partido a seu serviço, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, aliado do Ocidente, enfrenta nos últimos dias mobilização popular sem precedentes.
Poucos se atreviam a apostar na permanência no poder deste homem sem grande carisma quando, em 1981, assumiu a sucessão de Anuar el Sadat, assassinado por islamitas.
No entanto, este ex-militar da aeronáutica, de 82 anos de idade, conseguiu manter até agora a estabilidade do Egito, e seu poder, aferrando-se a um sistema acusado de asfixiar a vida política.
Também se opôs ferreamente ao islamismo radical ao estilo da Al-Qaeda, embora não tenha conseguido impedir o fortalecimento de um islã tradicionalista inspirado no poderoso movimento da Irmandade Muçulmana.
Com silhueta maciça, cabelos sempre negros, apesar da idade e olhar oculto com frequência por óculos de sol, tornou-se, com o passar dos anos, uma figura familiar das reuniões internacionais, impondo o Egito como um pilar moderado dentro do mundo árabe.
Pragmático, e habituado a viajar pelo país, manteve contra o vento e maré a posição de seu país no lado pró-americano e preservou os acordos de paz com Israel, que custaram a vida a seu predecessor.
Mohamed Hosni Mubarak nasceu a 4 de maio de 1928 de uma família da pequena burguesia rural do delta do Nilo. Escalou os degraus de hierarquia militar até tornar-se comandante em chefe das forças aéreas, e depois vice-presidente, em abril de 1975.
Durante sua longa carreira escapou de pelo menos seis tentativas de assassinato, e jamais levantou o estado de emergência instaurado desde que subiu ao poder.
A ascensão de seu filho mais novo Gamal, um empresário, alimenta as suspeitas de uma transmissão "hereditária" do poder na eleição presidencial programada para setembro de 2011, em detrimento de uma abertura política.
No entanto, até então, nem Hosni Mubarak, que teve problemas de saúde em 2010, nem seu filho explicaram claramente suas intenções.
Ante numerosos apelos - incluindo dos Estados Unidos - em favor de uma abertura do sistema, Mubarak apresenta regularmente o cenário de uma desestabilização catastrófica do país árabe mais populoso.
No entanto, o liberalismo econômico, que se acentuou nos últimos anos, permitiu iniciar a decolagem econômica, com o surgimento de "paladinos" egípcios nos campos das telecomunicações e da construção, fundamentalmente.
Apesar disso, cerca de 40% dos 80 milhões de egípcios ainda vivem com menos de dois dólares diários, segundo estatísticas internacionais, enquanto o país é regularmente acusado de casos de corrupção.
O presidente egípcio tem outro filho, Alaa, de seu casamento com Suzanne Thabet, a "primeira-dama" do Egito, que exerceria grande influência sobre o marido, segundo se crê.