Morte de milionário na prisão dá origem a teorias da conspiração nos EUA
Dúvidas foram reforçadas por revelações do New York Times e por uma postagem do presidente Trump em seu perfil no Twitter
AFP
Publicado em 11 de agosto de 2019 às 17h36.
Última atualização em 11 de agosto de 2019 às 17h37.
São Paulo — O escândalo cresce nos Estados Unidos após a morte na prisão do magnata Jeffrey Epstein, ocorrida neste sábado, uma vez que muitos acreditam que o sexagenário, que tinha numerosas conexões com o poder, pode ter sido assassinado, em vez de ter cometido suicídio.
As teorias da conspiração, retomadas pelo presidente Donald Trump , e a exigência de uma investigação independente alimentam o escândalo.
O procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, anunciou a abertura de duas investigações, uma do FBI e outra conduzida pelo Departamento de Justiça, sobre a morte do milionário, figura do jet set até ser preso em Nova York no começo de julho, acusado de múltiplas agressões, supostamente contra mulheres menores de idade.
As dúvidas foram reforçadas hoje por revelações do "The New York Times". Funcionários de prisões citados pelo jornal reconheceram que não foram respeitados os procedimentos de acompanhamento do detento: não foram realizadas rondas programadas para acontecerem a cada 30 minutos, e ele estava sozinho na cela, embora a regra é de que sempre sejam dois.
Sem esperar os resultados das investigações anunciadas, muitos preferem acreditar no assassinato do milionário - que costumava convidar pessoas poderosas para suas festas privadas, entre elas Trump, Bill Clinton e o príncipe Andrew, filho da rainha da Inglaterra -, uma vez que, durante o seu processo judicial, algumas delas poderiam se tornar alvo da Justiça ou de embaraços.
Trump encorajou no Twitter esta avalanche de especulações sobre um possível assassinato, reunidas na hashtag #EpsteinMurder: na noite de ontem, o presidente divulgou um vídeo publicado pelo ator Terrence Williams dizendo que Epstein tinha informações sobre Bill Clinton e sugerindo que isto teria relação com a sua morte.
Este compartilhamento foi denunciado hoje por candidatos democratas à presidência em 2020, entre eles o texano Beto O'Rourke e o senador por Nova Jersey Cory Booker. "O que Trump faz é perigoso. Não apenas dá vida a teorias da conspiração, mas também cria sentimentos negativos contra certas pessoas", estimou Booker.
Para instigar teorias da conspiração, que sempre ganham força nas redes sociais, muitos destacaram as quase 2 mil páginas de documentos judiciais publicadas na sexta-feira detalhando as acusações contra Epstein feitas por uma mulher chamada Virginia Giuffre em uma ação civil. Ela cita políticos com os quais Epstein a teria obrigado a ter relações sexuais. Todos negaram.
Outro questionamento diz respeito ao fato de que a prisão federal em que Epstein estava detido, o Centro Correcional Metropolitano de Manhattan, ter fama de ser uma das mais seguras do país. Em suas instalações, ficou preso até julho o narcotraficante mexicano Joaquín "Chapo" Guzmán, que protagonizou duas fugas espetaculares no México.
Vigilância relaxada
Mesmo sem se renderem a teorias da conspiração, muitos se perguntam por que Epstein não se beneficiou de uma vigilância antissuicida mais rígida após uma suposta tentativa de suicídio em 23 de julho.
"Os pedófilos acusados de crimes federais apresentam alto risco de suicídio e requerem atenção especial", indicou no Twitter o ex-subsecretário de Justiça Rod Rosenstein.
Especialistas no sistema de justiça argumentaram que o suicídio é um problema crescente, porém mal documentado, nas prisões americanas. Em 2014, data das cifras mais recentes, segundo a "The Atlantic", 249 pessoas se suicidaram em prisões federais e estaduais.
Em meio a este turbilhão de informações, indignação e teorias da conspiração, supostas vítimas lamentaram que isto lhes impeça de obter justiça e expor seus possíveis cúmplices, sem excluir novas acusações.