Milhares protestam na Nicarágua por saída de Ortega e libertação de presos
Ao menos 500 nicaraguenses foram capturados sem ordem judicial por participar dos protestos, incluindo 180 processados por terrorismo ou outros crimes
AFP
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 19h19.
Última atualização em 16 de agosto de 2018 às 11h16.
Milhares de nicaraguenses desafiaram a lei que impede protestos e foram às ruas de Manágua nesta quarta-feira para exigir a saída do presidente Daniel Ortega e a libertação de centenas de cidadãos presos durante as manifestações deflagradas em abril.
"Liberdade, chega de presos", "Justiça", "Povo, una-se", gritavam os manifestantes segurando fotos dos detidos e bandeiras da Nicarágua.
"Vá embora, vá embora", gritavam os presentes, exigindo a saída de Ortega e de sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, acusados de corrupção, nepotismo e de instaurar uma ditadura.
A passeata, de 7 km, foi convocada pela Aliança Cívica (organismos da sociedade civil) e apoiada por sindicatos empresariais, que chamaram seus filiados e funcionários para se juntarem à iniciativa.
A multidão avançou a passos rápidos pelos chamados bairros orientais, outrora redutos sandinistas contra a ditadura de Anastasio Somoza em 1979 e recentemente reprimidos no contexto dos protestos contra o presidente Daniel Ortega. Muitos dos participantes estavam com o rosto coberto por medo de represálias.
"Prenderam muitas pessoas sem justificativa. O governo não tem argumento para deter civis pelo crime de expressar o que sentem", afirmou à AFP Tania González, de 26 anos.
"O povo vai às ruas sabendo que tem uma arma na cabeça, que em qualquer momento será detido e acusado de terrorista", disse à AFP um manifestante que se identificou como Néstor, afirmando que todos estão "no limite com tantas injustiças".
"Prenderam muitas pessoas sem justificativa. O governo não tem argumento para deter civis apenas por manifestar o que sentem", declarou Tania González, 26 anos.
"Que deixe o poder e que ocorram eleições livres", pediu Denis Salvador, um operário de 35 anos.
"A solução é sua saída. Não importa o que aconteça, vamos seguir protestando", disse um jovem que escondia o rosto com uma bandeira.
Ao menos 500 nicaraguenses foram capturados sem ordem judicial por participar dos protestos, incluindo 180 processados por terrorismo ou outros crimes, segundo o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh).
Em meio à passeata , ocorria nos tribunais o julgamento do líder camponês Medardo Mairena, acusado de terrorismo e crime organizado, entre outros.
Mairena foi levado ao tribunal com roupa da prisão, algemado, o cabelo bagunçado e visivelmente abatido, segundo uma foto do site oficial 19 Digital.
O líder camponês era um dos membros da mesa de diálogo, atualmente estagnada, entre o governo e a Aliança Cívica, com a mediação da Igreja Católica.
Os protestos começaram em 18 de abril contra uma reforma do seguro social, mas a violência derivou em uma demanda pela saída do presidente Daniel Ortega, há 11 anos no poder, e desde então os confrontos já deixaram mais de 300 mortos.