Migrantes começam a deixar o acampamento de Calais na França
As primeiras mulheres, crianças e doentes se apresentaram com seus pertences no hangar utilizado como base de operações
AFP
Publicado em 24 de outubro de 2016 às 09h02.
Última atualização em 24 de outubro de 2016 às 09h14.
A França começou a desmantelar na manhã desta segunda-feira a chamada "Selva" de Calais, acampamento onde se concentram milhares de migrantes , com o que espera virar a página deste símbolo da crise migratória que afeta a Europa.
As primeiras mulheres, crianças e doentes dos cerca de 8.000 migrantes chegados majoritariamente do Afeganistão, Sudão e Eritreia, se apresentaram com seus pertences no hangar utilizado como base de operações.
De lá, pegam os ônibus que os levarão para 451 centros de acolhida espalhados por todo o território francês.
Um primeiro ônibus com 50 sudaneses a bordo partiu menos de uma hora depois do início oficial da operação.
No total, entre 6.000 e 8.000 migrantes serão evacuados em uma operação que vai durar a semana toda. Cerca de 1.250 policiais foram mobilizados para garantir o bom desenvolvimento da operação.
O primeiro na fila, um sudanês de 25 anos, afirmou que "qualquer lugar da França será melhor do que Calais".
Por outro lado, Mohamed, um etíope, é mais cético. "Quero ir para o Reino Unido, não me interessa embarcar nesses ônibus".
Homens, mulheres e crianças convivem há meses neste acampamento precário.
O governo francês anunciou no fim de setembro o desmantelamento do acampamento que, com a insegurança e a revolta que gera entre a população local, se transformou num ponto delicado que envenena o debate na França em torno da imigração, seis meses antes das eleições presidenciais.
Simboliza também a impotência da Europa frente à pior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial.
As autoridades começaram a distribuir folhetos em vários idiomas para explicar a operação, apresentada como humanitária, e tentar convencer os mais reticentes.
"Ainda é preciso convencer algumas pessoas", admitiu Didier Leschi, diretor-geral do Escritório Francês de Imigração.
Como Karhazi, um afegão que lamenta ser obrigado a ir embora. "Terão que nos forçar a partir. Queremos ir para o Reino Unido", insistiu.
Vários migrantes abandonaram o acampamento nos últimos dias para não se afastar da região e continuar tentando cruzar o Canal da Mancha.
Operação delicada
Alguns povoados franceses expressaram seu desacordo com o plano de repartição imposto pelo executivo, e vários membros da oposição de direita aludiram ao risco de criar vários "mini-Calais" em todo o país.
"Acolher nestas localidades 30, 40 pessoas me parece o mínimo. É preciso ter respeito e humanidade para com os migrantes", declarou o ministro das Cidades, Patrick Kanner.
Além da logística complexa, a operação é delicada do ponto de vista de segurança.
Na noite de domingo ocorreram confrontos perto do acampamento e a polícia precisou lançar bombas de gás lacrimogêneo.
O desmantelamento do acampamento permitiu reunir uma parte dos 1.300 menores não acompanhados que viviam na "Selva".
O governo britânico acelerou os procedimentos para acolher estas crianças e adolescentes, dos quais cerca de 500 têm famílias no Reino Unido.
Mais de um milhão de pessoas que fogem da guerra e da pobreza na África e no Oriente Médio chegaram à Europa em 2015, semeando divisões entre os 28 países da União Europeia (EU) e alimentando a ascensão dos partidos de extrema-direita.