México exige 'garantias' para diplomatas no Equador após ataque à embaixada
Operação levou presidente mexicano a romper relações diplomáticas com o Equador; México qualificou a ação como uma "brutal irrupção" e denunciou a "violência física" contra o chefe de missão diplomática
Agência de notícias
Publicado em 6 de abril de 2024 às 15h44.
O México exigiu, neste sábado (6), "garantias" para que seu corpo diplomático deixe o Equador, após a invasão policial à sua embaixada em Quito na véspera, que levou à prisão do ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas, refugiado no local e procurado pela Justiça de seu país.
A chocante operação, sem antecedentes semelhantes no mundo, levou o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a romper imediatamente relações diplomáticas com o Equador pelo que qualificou de "violação flagrante ao direito internacional e à soberania do México".
Neste sábado, a Secretaria de Relações Exteriores mexicana exigiu "as garantias necessárias por parte do Equador para a saída do pessoal (diplomático) mexicano", segundo um comunicado.
Imagens tiradas pela AFP na noite de sexta-feira mostram vários militares equatorianos armados e com um aríete em frente à embaixada mexicana em Quito. Pelo menos um deles escalou a grade ao redor do prédio para entrar e prender Glas, que enfrenta acusações de corrupção e a quem o México concedeu asilo na mesma sexta-feira depois de ter-lhe dado refúgio durante meses.
A embaixada do México em Quito permanecia cercada por policiais neste sábado de manhã e a bandeira do país havia sido removida de sua haste no pátio do edifício, informou um fotógrafo da AFP.
Na noite anterior, a chanceler mexicana, Alicia Bárcena, disse à mídia que aguardava uma resposta das autoridades do Equador para enviar um avião e assim poder retirar seus diplomatas. "Estamos vendo qual é a melhor maneira de tirar nosso pessoal (...) é todo o pessoal com suas famílias", afirmou.
O governo equatoriano ainda não se pronunciou neste sábado.
"Brutal"
Glas, vice-presidente do socialista Rafael Correa entre 2013 e 2017, tem uma ordem de prisão preventiva por um suposto peculato em obras públicas contratadas depois do devastador terremoto na costa equatoriana em 2016.
Neste sábado, o político de 54 anos deixou a instalação judicial onde estava detido, em meio a uma operação de segurança com vários veículos blindados, constatou um fotógrafo da AFP.
Era levado para uma prisão de segurança máxima em Guayaquil, a segunda maior cidade do país, segundo o governo.
O México qualificou a operação como uma "brutal irrupção" e denunciou a "violência física" contra o chefe de missão diplomática Roberto Canseco, que foi submetido no chão por um militar, segundo imagens da televisão equatoriana. O diplomata está "bem" como o resto da delegação, disse a chanceler Bárcena.
O presidente do Equador, Daniel Noboa, defendeu a medida alegando que houve um "abuso das imunidades e privilégios" concedidos à missão diplomática.
"O governo nacional defende a soberania nacional, sem permitir que ninguém tome ingerência nos assuntos internos do país", afirmou a presidência do Equador em uma série de mensagens divulgadas na rede social X à meia-noite.
O México anunciou que apresentará uma denúncia contra o Equador perante a Corte Internacional de Justiça. A convenção de Viena garante a inviolabilidade do território de uma embaixada.
Escalada
A crise diplomática começou na quarta-feira, quando o presidente mexicano López Obrador fez um paralelo entre a violência que marcou a campanha presidencial equatoriana de 2023, durante a qual foi assassinado o candidato Fernando Villavicencio, e a criminalidade registrada no México diante das eleições de 2 de junho.
Segundo o governante mexicano, o crime de Villavicencio criou um "ambiente enraizado de violência" que, somado à "manipulação" por parte de alguns meios, provocou a queda nas pesquisas da candidata esquerdista Luisa González e o renascimento de Noboa, que foi o vencedor.
Duro crítico do ex-presidente Correa (2007-2017), Villavicencio era conhecido por suas denúncias sobre o fortalecimento do narcotráfico à sombra do poder.
O governo de Noboa considerou que esses comentários "ofendem o Estado equatoriano", pois o país ainda está de "luto" e expulsou a embaixadora mexicana Raquel Serur, que ainda não saiu do país.
Em resposta, o México concedeu na sexta-feira asilo político a Glas, que permanecia refugiado na sua sede diplomática em Quito desde dezembro, alegando uma perseguição política contra ele.
O Equador qualificou a decisão como "ilegal" e cercou a embaixada com policiais em sinal de "protesto". Durante a noite, lançou a operação que resultou na captura de ex-vice-presidente e na ruptura diplomática.
Reações regionais
O governo brasileiro, por meio de comunicado do Ministério das Relações Exteriores, condenou "nos mais firmes termos" a operação equatoriana na embaixada mexicana em Quito.
"O governo brasileiro condena, nos mais firmes termos, a ação empreendida por forças policiais equatorianas na Embaixada mexicana em Quito na noite de ontem, 5 de abril", escreveu o Itamaraty.
Para o Brasil, "a ação constitui clara violação à Convenção Americana sobre Asilo Diplomático e à Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (...) os locais de uma Missão diplomática são invioláveis", relembrou a chancelaria brasileira.
Além disso, o Brasil manifestou "sua solidariedade ao governo mexicano".
Os governos da Venezuela, Cuba, Bolívia e Honduras também condenaram neste sábado a operação das forças de segurança equatorianas.
"Tudo isto constitui uma ação que nem nas mais atrozes ditaduras da região, como a de Augusto Pinochet, no Chile, ou Jorge Rafael Videla, na Argentina, tenham sido registradas", disse a chancelaria venezuelana em um comunicado.
O ex-presidente Correa, exilado na Bélgica desde 2017 e condenado à revelia a oito anos de prisão por corrupção, disse que Glas foi agredido durante sua detenção.
"Jorge tem dificuldades para caminhar, porque foi atingido. Tudo isso é uma loucura", escreveu Correa na rede social X.